O visitante desavisado que chegasse na semana passada à cidade de Macaúbas (BA), distante mil quilômetros de Salvador, ficaria impressionado ao ouvir a voz rouca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo votos para o candidato do PP à prefeitura, Robinson Camargo Ribeiro Nunes, o Robinho.

Afinal, declarações de Lula tem sido requisitadas por centenas de candidatos em todo o Brasil e somente alguns poucos, muito próximos do ex-presidente ou muito importantes no cenário nacional, são atendidos.

Além disso, Robinho é aliado do PSDB e do DEM, os dois principais partidos de oposição, e concorre contra o atual vice-prefeito, José João Pereira (PSB), o Zezinho, que conta com o apoio do PT. Mesmo assim, a gravação dizia que ele tem apoio da presidenta Dilma Rousseff e do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), o “Galego”.

Uma representação feita pela campanha de Zezinho junto à Justiça local esclarece o mistério. A voz grave, rouca e com a língua presa é de um dos milhares de imitadores de Lula. Segundo fontes do PT e do Instituto Lula, a utilização eleitoral de clones do ex-presidente foi registrada em dezenas de cidades do interior, embora o caso de Macaúbas seja o único comprovado até agora graças a um vídeo ao qual o iG teve acesso.

Nas imagens um carro de som sem identificação divulga a mensagem do falso Lula. “Eu vim aqui para dar um recadinho e pedir o voto para o nosso amigo Robinho (…) ele tem o apoio do governo do Estado com nosso governador Jaques Wagner, o Galego, e também da presidente Dilma”.

Filho de ex-prefeito, dono de uma rede regional de postos de combustível, Robinho, um dos homens mais ricos da cidade com patrimônio declarado de R$ 4,4 milhões, é descrito pelo clone de Lula como candidato compromissado com “os mais carentes”.

Localizada na região da Chapada Diamantina, Macaúbas é uma cidade predominantemente rural. As principais atividades econômicas são a extração de granito azul e a agricultura de subsistência. Segundo o IBGE, 49% da população é pobre, a renda média familiar é de R$ 262 (menos da metade do salário mínimo) e 21% das crianças com até cinco anos vive em casas sem saneamento básico com os pais analfabetos.

Na representação, Zezinho pede a suspensão imediata da propaganda e recolhimento do material de campanha do adversário – que também usou fotos de Lula – nos seguintes termos: “os representados (a campanha de Robinho) pretendem de modo repugnante angariar a simpatia de eleitores, em especial aqueles menos esclarecidos (…) causando estranheza nessa camada da população (…) visa ludibriar os eleitores por meio de um artifício ardiloso, sem qualquer preocupação com ideais partidários, com o claro interesse de confundir o eleitor, deixando-o na dúvida acerca de qual seria de fato o partido do ex-presidente Lula”.

A Justiça eleitoral de Macaúbas não chegou julgar o mérito da ação por considerar que a coligação de Zezinho não tem legitimidade legal e o candidato do PSB recorreu da decisão.

Robinho não foi encontrado para comentar a representação. O coordenador de marketing da campanha, que se identificou apenas como Joabe, negou que o uso do clone de Lula seja uma fraude. “Em nenhum momento dizemos que é o Lula. É só uma fala de alguém em apoio ao nosso candidato”, justificou.

Joabe também tentou negar que a gravação tivesse falsas declarações de apoio de Dilma e Wagner. “Só dizemos que o PP é da base da Dilma”, disse ele. Ao ser informado que o iG teve acesso ao vídeo no qual o falso apoio de Dilma e Wagner é explícito, o marqueteiro baiano tentou desconversar. Segundo ele, a gravação foi tirada das ruas, mas os santinhos com a foto do ex-presidente continuam sendo utilizadas.