Aparecida – O arcebispo de Campo Grande (MS), d. Dimas Lara Barbosa, e outros três bispos que participaram nesta quarta-feira da conversa com jornalistas, por delegação da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na assembleia geral de Aparecida (SP), criticaram duramente os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que aprovaram a interrupção da gestação ou aborto no caso de fetos portadores de anencefalia.

“Os ministros optaram por uma antropoligia reducionista, abrindo para o aborto uma porta que pode ser escancarada para outras formas de violência contra a vida nascente”, afirmou d. Dimas. “A eugenia é um horizonte que a humanidade experimentou em passado recente e que parece ter sido esquecido”, acrescentou o arcebispo, depois de classificar como perigosa a decisão do STF.

O bispo de Camaçari (BA), d. João Carlos Petrini, presidente da Comissão Episcopal e Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, advertiu que a decisão do Supremo tem “extraordinário poder de formar consciência coletiva”, com sérias consequências no contexto da violência, levando à conclusão, por exemplo, de que “quem incomoda pode ser eliminado”.

Para o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, d.Augusto Dias Duarte, é preciso perguntar, depois da decisão do STF, se as mulheres que não quiserem abortar seus filhos portadores de meroencefalia terão ajuda do SUS, respeitando-se a sua consciência. Para o bispo, que é médico pediatra formado pela Universidade de São Paulo, não se deve falar em anencefalia, mas sim em meroencefalia – “o termo correto, porque apenas parte do cérebro pode estar afetada”. Isso explica, segundo d. Augusto, por que a criança pode sobreviver minutos, horas ou dias depois do nascimento.

D. Joaquim Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte, advertiu que é preciso fazer valer o princípio do diálogo, “porque, por mais sábios que sejam (os ministros), eles não dominam todos os campos. O STF tomou para si a tarefa de legislar”, disse.

Os bispos admitem que, embora se trate de uma questão resolvida no campo do Judiciário, a assembleia da CNBB volte a analisar o problema sob o ponto de vista pastoral, para orientação dos católicos.