O Banco Rural, por meio de sua assessoria de imprensa, enviou nota na qual diz ter “esclarecimentos” sobre o voto do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).  A nota termina com um link para um site criado exclusivamente para a defesa do banco e de seus executivos, defesa.bancorural.com.br. No topo da página do banco, um texto insinua que o STF trata de maneira política o julgamento da Ação Penal do mensalão.

“Um julgamento técnico, apartado das questões políticas, irá demonstrar que os executivos do Banco Rural atingidos pelo processo do Mensalão são inocentes, pois cumpriram a legislação e as normas bancárias vigentes à época”, diz o texto no site. Logo abaixo, diz que “quatro pessoas que integravam o quadro de executivos do Banco Rural estão entre os 38 réus que serão julgados no processo do Mensalão (…) O Banco Rural tem convicção da inocência desses profissionais e vem a público contribuir para os esclarecimentos dos fatos.”

Segundo a Procuradoria-Geral da República, o Rural ajudou a financiar o mensalão emprestando R$ 3 milhões ao PT e outros R$ 29 milhões às agências de propaganda do publicitário mineiro Marcos Valério. Os empréstimos são considerados fraudulentos pela Procuradoria-Geral da República, que acusa o banco de ter simulado as operações para ocultar a verdadeira origem do dinheiro.

Quatro executivos do Rural à época do suposto esquema também são acusados de lavagem de dinheiro (leia mais abaixo), já que o banco permitiu que políticos beneficiados pelo mensalão recebessem os recursos sem se identificar, enviando pessoas de sua confiança para sacar o dinheiro no banco.

Posicionamento do Rural

Na nota, o Banco Rural afirma que:

■a Polícia Federal e o Banco Central consideraram verdadeiros os empréstimos concedidos às empresas SMB&P e Grafitti (das quais Valério era sócio). “Questionamentos surgiram apenas após o escândalo do “mensalão”.
■os contratos de empréstimos foram feitos com prazos curtos de propósito, para se proteger de riscos, o que seria uma praxe de bancos “do porte do Rural” (em resposta ao voto do relator, que disse que o banco permitia a Valério fazer novos empréstimos sem pagar os anteriores e estendia o prazo para seu pagamento)
■apenas as garantias das empresas de Valério eram suficientes para a concessão dos empréstimos (o relator disse que o Rural ocultou riscos das operações e concedeu empréstimos sem as devidas garantias)
■já estava cobrando o pagamento dos empréstimos (o relator diz que os financiamentos foram feitos para não serem pagos, e só foram cobrados após a divulgação do suposto esquema)
■nenhum documento ou livro contábil referente aos empréstimos foi omitido ou extraviado pelo banco.


Ao fim da nota, a assessoria do banco diz, em letras garrafais, que nenhum executivo (do banco) é acusado de corrupção ou desvio de recursos públicos; que os empréstimos eram verdadeiros; que as renovações dos empréstimos não envolveram dinheiro novo, sendo resultado de negociações para viabilizar o pagamento das dívidas ao banco; que todos os saques em espécie maiores que R$ 100 mil foram informados ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).