Ativista mirim salva meninas de casamento forçado em Bangladesh
Com apenas 12 anos de idade, Oli Ahmed percorre a favela onde vive, na capital de Bangladesh, Dhaka, batendo de porta em porta e tentando convencer as famílias a não casar suas filhas crianças. Bangladesh tem uma das mais altas taxas de casamentos forçados de crianças do mundo. Apesar de a idade mínima determinada por […]
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Com apenas 12 anos de idade, Oli Ahmed percorre a favela onde vive, na capital de Bangladesh, Dhaka, batendo de porta em porta e tentando convencer as famílias a não casar suas filhas crianças.
Bangladesh tem uma das mais altas taxas de casamentos forçados de crianças do mundo. Apesar de a idade mínima determinada por lei ser de 18 anos, cerca de 20% das meninas se casam antes dos 15 anos de idade.
Foi o próprio ativista mirim que tomou a iniciativa de procurar a ONG Plan International, que já atuava na favela, para se oferecer como voluntário para lutar contra o problema.
Ele disse aos diretores da ONG que queria formar um grupo de crianças para combater a prática.
“Eu acho que nós fazemos um trabalho melhor do que os adultos”, diz o menino. “Os adultos acham que somos muito jovens e, no entanto, nós sabemos tanto. E também temos mais entusiasmo que os mais velhos.”
A ONG calcula que, desde que o grupo começou a atuar na favela, o número de casamentos de crianças na região caiu cerca de 50%.
“Me sinto muito feliz quando sei que a vida de uma menina foi salva por causa do meu trabalho”, diz Oli.
Escravidão
Na cultura de Bangladesh, as meninas são totalmente dependentes de suas famílias, que precisam sustentá-las e pagar dotes ao futuro marido para garantir um casamento.
“Em famílias muito pobres, o dote representa as economias de uma vida. Elas preferem começar antes, quando o dote ainda não é muito alto”, diz a diretora da Plan International no país, Mirna Ming Ming Evora. “Aqui as meninas são um fardo.”
Em um hospital em Dhaka, a reportagem da BBC conheceu Poppy. As enfermeiras não sabem ao certo sua idade, mas calculam que ela tenha 12 anos.
Ela chegou ao hospital sozinha, sofrendo de fístula, graves danos internos que a deixaram com incontinência. Uma das causas da enfermidade é dar à luz muito jovem e não receber cuidados médicos apropriados.
Poppy foi forçada a se casar com um homem mais de 10 anos mais velho que ela. Ficou grávida, mas perdeu a criança. Quando ficou doente, o marido a abandonou.
“É uma doença horrível, não consigo suportar o cheiro”, diz Poppy. “Às vezes eu choro. O que mais posso fazer?”
O repórter pergunta se ela vai se casar de novo algum dia, e ela balança a cabeça. “Eu digo a outras meninas da minha idade: ‘Vocês não devem se casar. Se casarem, é assim que vão ficar’.”
Quando a reportagem deixa o quarto, Poppy pede: “Por favor, rezem por mim, rezem para que eu melhore”.
‘Amo minha filha’
Em Bangladesh, há dezenas de milhares de meninas e mulheres como Poppy. No dia em que a reportagem da BBC conversou com Jemi, de 13 anos, ela iria se casar dentro de uma semana. Sua mãe havia escolhido a data e o noivo.
Jemi vive em uma aldeia a seis horas de carro da capital, Dhaka. Quando o repórter pergunta se ela está ansiosa pelo casamento, ela baixa os olhos e diz: “Não muito”.
Sua mãe diz que Jemi precisa casar agora porque depois a família não vai ter dinheiro para pagar o dote.
“Não tenho medo. Estou entregando Jemi para o filho de minha irmã. As meninas nunca dizem que querem se casar”, diz a mãe.
Autoridades locais e ativistas da ONG chegam à casa e tentam impedir o casamento, que é ilegal, por causa da idade da noiva.
A mãe discute com eles e diz que a família não tem dinheiro para mandar Jemi para a escola e que, se a menina permanecer solteira, as pessoas vão começar a falar mal dela.
“Estou fazendo ela casar porque amo minha filha”, diz a mãe.
No entanto, as autoridades ameaçam processá-la. No fim, a mãe começa a chorar e, diante dos vizinhos, anuncia que o casamento foi cancelado.
“Eu não sabia que era errado”, afirma.
Jemi sorri e confidencia: “Acho que o que aconteceu foi muito bom”.
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