Anvisa quer restringir uso de agrotóxicos com alto poder de contaminação

Em junho, o órgão do ministério da Saúde vai pedir proibição de uso em comitê internacional na Suiça

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Em junho, o órgão do ministério da Saúde vai pedir proibição de uso em comitê internacional na Suiça

Agrotóxicos com largo uso em canaviais, lavouras de soja e algodão e em cafezais estão prestes a ter proibição de uso comercial no país.

Decisão neste sentido vai ser defendida pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na Convenção de Roterdã, Genebra, onde seus 75 países signatários se reunirão em 20 e 24 de junho.

Um dos temas centrais da convenção é discutir a proibição da comercialização dos agrotóxicos endossulfan, alacloro e aldicarbe, para colocá-los em uma nova classificação como produtos no anexo III da Convenção de Roterdã, que corresponde à classificação “severamente perigosas”.

Segundo o gerente geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Luiz Cláudio Meirelles, as “substâncias que estão classificadas como severamente perigosas pela Convenção possuem normas de movimentação específicas, que devem ser seguidas por todos os países”.

Posição tardia do Brasil

No país, o comércio do agrotóxico endossulfan será banido a partir de 31 de julho de 2013. O agrotóxico foi considerado extremante tóxico pela Comissão de Reavaliação de Agrotóxicos e teve seu uso associado a problemas reprodutivos e endócrinos em trabalhadores rurais e na população.

Em abril, o endossulfan também foi classificado como produto poluente orgânico persistente pela Convenção de Estocolmo e teve indicativo para retirada do mercado mundial em 2012.

Já alacloro é um herbicida que pode ser utilizado na plantação de algodão, amendoim, café, cana-de-açúcar, girassol, milho e soja. O uso deste agrotóxico também vem sendo discutido internacionalmente pelos efeitos que pode representar para saúde.

Anvisa fala de casos no MS

Nota técnica da Anvisa, com o nome Reavaliação Toxicológica do Ingrediente  Ativo Metamidofós, produto que não poderá mais ser comercializado no país a partir de 30 de junho, relata pesquisas feitas por estudiosos no MS. Veja:

Recena Pires e Caldas (2006) investigaram os casos de envenenamento ocorridos no Estado de Mato Grosso do Sul entre os anos de 1992 e 2002 em decorrência da exposição aguda a agrotóxicos.

Durante esse período, 1355 casos de exposição acidental ou intencional foram notificados ao Centro Integrado de Vigilância Toxicológica da Secretaria Estadual de Saúde. Os inseticidas metamidofós, monocrotofós e malation foram os agrotóxicos mais frequentemente envolvidos nas intoxicações.

“Recena et al (2006) realizaram estudo seccional em Culturama, distrito da cidade de Fátima do Sul, em Mato Grosso do Sul. A população do estudo foi composta por 618 agricultores do sexo masculino maiores de 18 anos residentes na zona rural de Culturama. Uma amostra de 250 agricultores foi selecionada para responder um questionário que avaliou, dentre outros aspectos, as atitudes e práticas relacionadas aos agrotóxicos e os sintomas após aplicação do produto.

Mais de 90% dos agricultores relataram o uso de agrotóxicos que tinham o metamidofós como ingrediente ativo. Dentre os 250 entrevistados, 149 relataram sintomas adversos após o uso de agrotóxicos (intoxicados).

Os sintomas mais frequentes foram cefaléia (51,7%), tontura (32,2%) e vômito (28,9%). Também foram relatados diarréia, perda de apetite, fadiga, visão embaçada, sensação de queimadura na face, coceira pelo corpo, manchas na pele e zumbido nos ouvidos.

Pires, Caldas e Recena (2005) avaliaram as notificações de intoxicações e tentativas de suicídio provocadas por agrotóxicos na microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, entre 1992 e 2002, baseando-se nos registros do Centro Integrado de Vigilância Toxicológica da Secretaria de Saúde do Estado.

Foram notificadas 475 ocorrências na microrregião de Dourados no período do estudo, correspondendo a 35% das intoxicações ocorridas no Estado.

Destas, 261 intoxicações foram do tipo acidental ou ocupacional, 203 corresponderam a tentativas de suicídio e 11 eventos não tiveram causa determinada. 14 pessoas foram a óbito na microrregião em conseqüência de intoxicação acidental ou ocupacional e 63 pela ingestão voluntária.

No estudo de Pires, Caldas e Recena (2005), correlações significativas foram encontradas entre intoxicação e tentativa de suicídio. Os eventos ocorreram principalmente em indivíduos do sexo masculino entre 20 e 39 anos, refletindo diretamente a força de trabalho no campo e entre os períodos de safra.

Os inseticidas organofosforados monocrotofós e metamidofós foram os principais agrotóxicos envolvidos (respectivamente 46% e 29%), independente do tipo de exposição”.

Com informações da assessoria de imprensa e Anvisa.

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