Apesar de serem de uso controlado, os ansiolíticos, ou antidepressivos, estão entre os medicamentos mais consumidos no país nos últimos anos.

Por isto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu investigar possíveis excessos médicos na prescrição desses chamados remédios de tarja preta.

Segundo a Anvisa, os antidepressivos têm sido mais receitados no Brasil do que muitos medicamentos que não exigem receitas médicas.

Remédios de uso controlado

Substâncias como o clonazepam, bromazepam e alprazolam são os mais consumidos entre os 166 princípios ativos listados pela agência, em uma lista que inclui também as substâncias usadas em outros medicamentos de uso controlado, como emagrecedores e anabolizantes.

“A Anvisa já está empenhada na apuração dessas distorções”, afirmou Dirceu Barbano, direto-presidente da Anvisa. “Elas vão ser tratadas nas devidas apurações e divulgadas à medida que algo for comprovado”.

O governo vem monitorando os casos considerados atípicos envolvendo os medicamentos controlados desde 2009, quando o país passou a discutir a prescrição indiscriminada de remédios para emagrecer.

Em outubro de 2011, os emagrecedores à base de anfetamina foram proibidos no Brasil. Pesquisas apontavam para o risco desses medicamentos causarem problemas cardíacos e ao sistema nervoso central.

Remédios de tarja preta

Recomendados para o tratamento de casos diagnosticados de ansiedade, depressão e bipolaridade, os ansiolíticos estão entre os remédios conhecidos por “tarja preta”.

Pela lei, eles só poderiam ser comprados em farmácias registradas e autorizadas pela Anvisa a comercializar esses medicamentos.

Não é difícil, contudo, encontrar na internet quem os ofereça como solução para “curar a tristeza” – qualquer que seja a causa – e até a insônia.

Milhões

De acordo com a Anvisa, a venda legal de Rivotril – nome com o qual é comercializado o antidepressivo produzido a partir do clonazepam – saltou de 29.460 caixas em 2007 para 10.590.000 em 2010.

A Anvisa estima que só em 2010 os brasileiros gastaram ao menos R$ 92 milhões com Rivotril.

Entre os ansiolíticos, o segundo mais comercializado, o Lexotan (bromazepan), vendeu, em 2010, 4,4 milhões de unidades. Já o Frontal (alprazolam) registrou 4,3 milhões de unidades.

Receitas frias

Os técnicos chamam a atenção para o grande volume de receitas de remédios controlados, em geral, prescritas por dentistas e médicos veterinários, percentualmente maior que a quantidade aviada por médicos.

“Agora temos que identificar o profissional, como ele obteve os talonários de receita, se a vigilância sanitária municipal já tomou providências, se, quando configurado o comportamento indevido, isso foi comunicado ao conselho de medicina,” disse Dirceu.

Barbano diz que somente a partir dos próximos relatórios, com os dados consolidados de 2011 e os preliminares de 2012, será possível apontar medidas que as autoridades sanitárias devem adotar.

“Espero que essas informações sirvam para que tenhamos uma série histórica não só sobre o consumo, mas também das distorções, para verificar se elas se repetem, onde e por quais profissionais”.