Cádiz (Espanha) A América Latina, que está vivendo um renascimento econômico, deu lições a uma Europa imersa na crise pela primeira vez na história das Cúpulas Ibero-Americanas.

A Cúpula Ibero-Americana de Cádiz, que completa 22 anos desde o primeiro encontro de líderes da América Latina e da Espanha e Portugal na cidade mexicana de Guadalajara, foi palco de uma mudança de prisma nas relações desta comunidade de mais de 600 milhões de habitantes.

Na relação de países unidos por culturas e línguas comuns e com muitos altos e baixos, foi recorrente durante anos a reprovação dos países latino-americanos ao paternalismo dos “ricos” parceiros europeus.

No entanto, na Cúpula de Cádiz, os líderes latino-americanos exibiram seu dinamismo econômico e taxas de crescimento e, desta vez, foram eles que estenderam a mão à Espanha e Portugal e repartiram conselhos.

Nos discursos dos governantes latino-americanos no plenário da Cúpula, foi unânime a crítica aberta ao enfoque adotado na Europa para atravessar a crise advertindo que seu excesso de austeridade afoga o crescimento e pode causar o contágio ao outro lado do Atlântico.

A maioria dos dirigentes lembrou como sua região sacrificou uma “década perdida” para seguir políticas de ajustes ditadas pelos órgãos multilaterais com prazos difíceis de cumprir.

A presidente Dilma Rousseff, cujo Brasil passou a ser a sexta economia mundial, advertiu que “a confiança não se constrói só com sacrifícios” e que as políticas exclusivas, que só são enfatizadas na austeridade, estão demonstrando seus limites.

Outros, como a Argentina e México, que fazem parte do G20, exibiram também sua força e o objetivo de ganhar peso na cena mundial e nos organismos multilaterais, mostrando interesses no apoio político europeu.

O presidente do Chile, Sebastian Piñera, estendeu a mão à Espanha e Portugal, enquanto o peruano Ollanta Humala disse que ” a Europa é maior que seus problemas”.

O Chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, agradeceu a “excelente disposição” da América Latina em contribuir para que a zona do euro supere o momento que atravessa e deixe de ser praticamente a única região do mundo em situação de recessão.

“A América Latina ganhou seu peso atual por seus próprios meios, com esforço e com paciência, combinando a necessária austeridade com políticas próprias de crescimento e coesão social”, reconheceu Rajoy.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, convidado à cúpula, destacou a importância da UE na economia mundial e sua relação com a América Latina.

Apesar da conjuntura econômica menos propícia que atravessa a Europa, “a União Europeia continua sendo a maior economia e o maior mercado integrado em termos de valor do mundo e nossa relações bilaterais seguem pujantes”, disse Barroso.

A Cúpula de Cádiz acertou as bases para uma renovação da relação da comunidade ibero-americana, com um enfoque mais pragmático que aproveite a complementaridade de suas economias e desenvolva o grande potencial das pequenas e médias empresas.