Alunos simulam deficiências para humanizar atendimento médico
Imagine ficar durante quatro horas sem poder enxergar, falar, ouvir ou impossibilitado de mexer um dos membros superiores. Os calouros da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ) passaram por essa experiência. A ação, batizada de Calçando Sapatos, faz parte do projeto Tutoria – Aproximando Pessoas, cujo objetivo é aproximar os futuros médicos da realidade vivida […]
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Imagine ficar durante quatro horas sem poder enxergar, falar, ouvir ou impossibilitado de mexer um dos membros superiores. Os calouros da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ) passaram por essa experiência. A ação, batizada de Calçando Sapatos, faz parte do projeto Tutoria – Aproximando Pessoas, cujo objetivo é aproximar os futuros médicos da realidade vivida por deficientes físicos e sensibilizá-los para a importância de um atendimento mais humano.
A humanização do ensino vem sendo buscada por universidades a partir de diferentes metodologias. A área da saúde é uma das que mais se preocupa com a questão. Ações em hospitais e em comunidades, elaboração de campanhas sociais, dinâmicas de grupo e palestras são alguns dos meios utilizados para se trabalhar com os aprendizes. A ideia é agregar essas questões à parte técnica e teórica do curso a fim de formar profissionais mais completos.
Na Faculdade de Medicina de Petrópolis, os responsáveis por sensibilizar os alunos para um atendimento mais humano são chamados de tutores, geralmente representados por estudantes que estão cursando há pelo menos dois anos a faculdade. Entre as tarefas sugeridas aos graduandos está a simulação de dificuldades enfrentadas por quem tem algum tipo de déficit físico ou sensorial. Com olhos vendados, braços atados ou bocas e ouvidos tampados, eles podem compreender melhor o que passam os pacientes, o quê, conforme os participantes, resulta em um atendimento diferenciado quando se depararem com casos semelhantes na vida profissional.
“Tive experiências em hospitais na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro e sei das dificuldades enfrentadas pelos médicos. Mesmo assim, acredito que é possível oferecer uma melhor assistência. Basta o profissional ter a sensibilidade de se colocar ao lado do paciente. Às vezes uma conversa, uma palavra ou um gesto já o ajudam a aliviar o seu sofrimento”, explica um dos fundadores do projeto e que hoje ajuda a coordenar o programa, o baiano Gabriel Veiga.
As atividades na FMP tiveram início em março e estão sendo aplicadas com os alunos recém-ingressados. Segundo Veiga, houve uma aprovação de cerca de 90% dos participantes, constatada a partir de uma pesquisa realizada após a simulação. Ao final, houve também uma discussão entre os alunos, que abordaram as dificuldades em realizar as atividades cotidianas como assistir a aula, subir escadas e ir ao banheiro com as limitações impostas.
Ao longo de 2012, os calouros passarão por diversas experiências como dinâmicas de grupo, palestras, visitas a hospitais, e poderão usufruir até mesmo de ioga após as aulas. O projeto tem a função ainda de acolher os estudantes na faculdade e também na cidade, já que a grande maioria deles tem origem de outro município do Rio. “A escola era para mim como um segundo lar. Quis então trazer esse ambiente para a universidade. O objetivo é também fazer com que os alunos considerem a faculdade uma segunda casa, os colegas uma segunda família e os professores tenham a simbologia de pais”, afirma Veiga.
No curso de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), utiliza-se uma metodologia de ensino chamada Problem Based Learning (estudo baseado em problemas, em tradução livre). O método visa a exercitar a capacidade crítica-reflexiva do aluno para fazer com que ele construa o próprio conhecimento, promovendo habilidades que o transformem em um profissional completo, o que inclui as capacidades de relacionamento humano.
“Um médico que tem profundo conhecimento e domínio clínico daquilo a que se dedica, mas não sabe se comunicar ou se relacionar adequadamente com o paciente, não é um profissional competente. Uma situação inversa também define a falta de competência. Para ser um bom profissional, é necessário um conjunto de habilidades, como ter um bom trato com os pacientes, qualificado conhecimento técnico e refinada postura ética. Aptidões que buscamos oferecer em nosso ensino”, afirma o coordenador do curso Bernardino Souto.
A metodologia é aplicada em pequenos grupos de estudantes que juntos refletem sobre determinados problemas relacionados à sua atuação em busca de uma solução. Com um ensino que centraliza a aprendizagem no aluno e não no professor, o docente acaba tendo um papel de facilitador, diferente da posição que ocupa em formas de ensino tradicionais.
O método PBL também é aplicado a alunos de odontologia da Universidade de Cuiabá (UNIC) pelo projeto Humanização em Ambiente Hospitalar. Os alunos atendem a pacientes no Hospital Geral Universitário da cidade e tem a função de planejar tratamentos a partir dos problemas do doente. Eles são orientados a promover uma assistência humanizada, voltada à pessoa e não à doença. “Os estudantes devem compreender que o paciente é mais que patologias. Às vezes, as pessoas não são tratadas nem pelo nome, mas como o doente que tem câncer ou o que tem problema no coração”, alerta o professor Alex Segundo, um dos coordenadores do projeto.
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