Adequação do atendimento pode reduzir mortes por infarto

Para melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes cardíacos, o Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolveu o projeto Bridge – Brazilian Intervention to Increase Evidence Usage in Practice. O estudo mostrou que o Brasil, com a adequação de procedimentos durante atendimento nas emergências hospitalares, pode reduzir […]

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Para melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes cardíacos, o Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolveu o projeto Bridge – Brazilian Intervention to Increase Evidence Usage in Practice. O estudo mostrou que o Brasil, com a adequação de procedimentos durante atendimento nas emergências hospitalares, pode reduzir em até 20% os casos de mortalidade por infarto, uma das principais causas de morte no país e no mundo.

Para o ministro Alexandre Padilha, que recebeu na quarta-feira (17) a visita da equipe do HCor que coordenou o projeto, o comportamento clínico é fundamental para melhorar a qualidade no atendimento aos paciente cardíacos. “Muitas vezes o paciente com infarto não recebe as terapias adequadas para o tratamento e isso dificulta sua recuperação. Mais do que medicamentos – que hoje são oferecidos gratuitamente pelo SUS – precisamos oferecer um atendimento rápido e adequado ao paciente, pois isso significa a diferença entre a vida e morte”, avalia o ministro.

O estudo foi realizado por meio de um monitoramento permanente sobre as práticas clínicas de acolhimento em hospitais públicos. Durante cerca de oito meses, ao longo de 2011, a equipe do HCor monitorou 34 hospitais públicos do país para verificar como os pacientes com síndrome coronariana aguda (infarto) eram atendidos. Metade dos hospitais foi apenas observada, enquanto outro grupo recebeu treinamento para aplicação da intervenção multifacetada, que incluía materiais educacionais, listas e lembretes que tinham como base evidências científicas de controle da doença.

Os hospitais monitorados contavam com uma enfermeira treinada, que atuava como gerente de caso, cujo trabalho era garantir que as ferramentas adequadas estavam sendo usados corretamente e com frequência e para garantir que terapias baseadas em evidências estavam sendo prescritos. Cartazes também foram exibidos em torno dos hospitais e diretrizes de bolso foram distribuídas.

“Ao chegar ao hospital, o paciente passava por uma triagem. Se apresentasse algum sintoma, um lembrete era anexado ao formulário para que o médico soubesse que se tratava de um paciente de risco. Além da notificação no formulário médico, o paciente recebia uma pulseira que o identificava de acordo com a categoria de risco”, explica o diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa HCor, Otávio Berwanger.

A maioria das mortes por infarto ocorre nas primeiras horas de manifestação da doença – 65% dos óbitos ocorrem na primeira hora e 80% até 24 horas após o início do infarto. Nos hospitais monitorados pelo projeto, foi observado um aumento de 18% na adesão às diretrizes nas primeiras 24 horas e de 19% na adesão as diretrizes durante toda a hospitalização. Berwanger afirma que, como resultado, a equipe identificou ainda a redução do número absoluto de eventos cardiovasculares em hospitais que receberam a estratégia do Bridge.

RECONHECIMENTO – Os resultados da primeira fase do projeto foram apresentados com destaque no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia (American College of Cardiology Scientific Sessions 2012), realizado em Chicago (EUA). O trabalho também repercutiu positivamente em artigo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association), uma das publicações médicas mais importantes do mundo.

O diretor geral do HCor e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, acredita que essa associação entre o poder público e o setor privado é fundamental na busca de soluções estratégicas para superar os desafios da gestão e para qualificar o Sistema Único de Saúde. “A estratégia do Bridge é simples, barata e pode salvar muitas vidas na rede pública de saúde, independente da estrutura da unidade de saúde. Além disso, ela demonstra que, com parcerias como esta, é possível realizar pesquisas relevantes no Brasil, cujos resultados possuem alto interesse nacional e podem, também, ter impacto internacional”.

PARCERIAS– O projeto Bridge, conduzido HCor de São Paulo em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisas Clínicas (BCRI/Unifesp), está inserido no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). A ideia do programa é possibilitar que as entidades de saúde de referência assistencial participem do desenvolvimento do SUS, transferindo tecnologia, conhecimento, experiência em gestão e oferecendo práticas úteis para serem adaptadas pela rede pública.

Os projetos são apresentados pelos hospitais ao Ministério da Saúde, que os analisa e uma vez aprovados, são desenvolvidos com o recurso despendido pela própria entidade de saúde. Em contrapartida, estes hospitais usufruem de isenções fiscais, garantidas por lei (12.101/2009), mais especificamente contribuições sociais, devidas ao governo.

Atualmente, são mais de 120 projetos em execução, todos alinhados com os objetivos do Ministério da Saúde. Os projetos selecionados para o triênio 2009-2011 totalizam cerca de R$ 835,6 milhões em isenções fiscais. Estes projetos perpassam por diversas áreas do SUS, desde a Atenção Primária até a Alta Complexidade, não deixando de considerar a qualificação e aprimoramento da gestão, inovação cientifica e tecnológica e capacitação dos profissionais e trabalhadores do SUS.

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