Entre 2010 e 2011 o Ministério Público Federal acusou a regional do Incra em Mato Grosso do Sul de desvio de cestas básicas adquiridas com dinheiro público destinadas a famílias acampadas de MS.

Vilton Bento Soares, 53 anos, e Manoel José Lemes, 66 anos, são acampados da fazenda Luana, que fica as margens da MS-060, próximo ao município de Sidrolandia. Como muitas outras famílias do local, eles sonham como presente de Natal a demarcação das terras para o próximo ano e, de imediato, o pedido é pela volta da distribuição de cestas básicas que há nove meses ninguém recebe.

A reportagem encontrou Vilton empurrando uma carriola com uma porca dentro as margens da MS-060. Manoel o acompanhava. A primeira impressão era que o animal foi abatido para a festa de Natal, mas, na verdade, tinha morrido durante a parição. “Tadinha, ela não agüentou parir os leitões e morreu”, disse Vilton, que é mais conhecido por Osvaldo.

A tristeza de Vilton e Manoel ia mais do que a morte da porca que tentou parir na antevéspera do Natal. Os dois carregavam a tristeza de não ter uma ceia para comemorar a data e muito menos perspectivas de fartura até o final e começo de 2013.

Manoel faz aniversário em 25 de Dezembro. Como presente de Natal deseja muito uma cesta básica, aliás, a volta das cestas que antes eram distribuídas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Estamos ha três anos morando aqui e esperando por terra. Queremos trabalhar, mas fica difícil plantar nesse torrão. É preciso maquinário pra preparar melhor. Aqui nada que planta vai para frente”, diz mostrando uma plantação de mandioca que não se desenvolveu.

O acampado Manoel é um dos poucos que realmente mora no lugar, já que os demais trabalham em Campo Grande ou em Sidrolandia para garantir o sustento. Com a filha e a neta, ele conta que tentou criar galinhas e poucas cabeças de porcos para o sustento da casa, mas todos vão morrendo. “Aqui dá muita doença e a gente acaba não tendo como cuidar e eles morrem”, conta.

Vilton mora no acampamento com a esposa há três anos e também já tentou plantar no pequeno pedaço de terra entre a MS-060 e a cerca que delimita a área particular da fazenda. Para 2013 sua grande expectativa é que a terra seja divida em lotes e entre aos trabalhadores rurais. “Eu e a mulher merecemos porque moramos aqui, queremos viver disso”, diz.

Alvo

Entre 2010 e 2011 o Ministério Público Federal acusou a regional do Incra em Mato Grosso do Sul de desvio de cestas básicas adquiridas com dinheiro público destinadas a famílias acampadas de MS.

Segundo a Procuradoria, o número de beneficiários era superestimado, gerando um excedente que era desviado e vendido por presidentes de sindicatos rurais e líderes de acampamentos.