Bem humorados, Satie e Cesar afirmam que os anos no Japão valeram a pena economicamente. Em Campo Grande, os dois mantém tradições com restaurante da culinária típica oriental.

O Midiamax faz uma homenagem à colônia japonesa, que chegou ao Brasil em 18 de junho de 1908, com a história de um casal sul-mato-grossense que mostra o espírito da persistência e empreendedorismo japonês. Antônio Cesar Hokama e sua esposa Creuza Satie Sumida Hokama são sanseis da 3ª geração de imigrantes japoneses. Brasileiríssimos, ainda recém-casados decidiram ir para o Japão ‘com uma mão na frente e outra atrás’ para trabalhar e voltar para o Brasil com algum dinheiro. A ideia funcionou.

Quando desembarcou no Japão, em 1991, apenas com a garantia de emprego para cada um, o casal foi almoçar levado pelo agente que mediou trabalho em uma fábrica de peças e já percebeu que a vida seria muito difícil no País do Sol Nascente. O prato feito custava U$ 100 e eles iam pagar pela comida. “O que eu ia fazer? Já estava lá mesmo, sem amigos e recém-casado. Eu funcionário público e ela tecnologa de telecomunicações. Quando o agente disse que se conseguisse cumprir a jornada de trabalho ia ganhar um valor bom, decidi abraçar com garra”, lembra Cesar.

Cesar conta ter percebido que os brasileiros que estavam no Japão não tinham opções de lazer ou como manter a lembrança da terra natal. Foi aí que teve sua primeira ideia de empreendedor em solo japonês. Comprou filmes brasileiros e colocou a esposa, que tinha jornada de oito horas, ou seja, quatro menos que ele, para reproduzir em fitas VHS para serem alugadas. A pirataria deu muito certo e o casal começou a juntar dinheiro.

Com os primeiros dólares economizados, Cesar encontrou uma nova maneira de multiplicar o dinheiro: ele descobriu que uma importadora estava comprando carne bovina na Austrália e vendendo a um preço bem mais baixo do que o praticado no varejo. Só para ter uma ideia, o quilo de carne para churrasco estava valendo U$ 50 e a importadora vendia a U$ 10. Ele passou tirou carteira de habilitação no Japão e passou a viajar 150 quilômetros para buscar o produto e revender por U$ 20.

“Estava muito fácil ganhar dinheiro naquela época, mas nunca esbanjamos. Fizemos economias e começamos a mandar para uma irmã minha aplicar no Brasil”, conta. De acordo com César, ele e a esposa compraram um terreno, na Rua Pedro Celestino e lá construíram um sobrado e outras três casas. “Fomos pra lá (Japão) na intenção de comprar só uma casa, mas deu tudo muito certo pra nós”, comemora.

Terremoto

Cesar e Creuza tiveram a experiência nada agradável do terremoto Kobe, em 1995, que atingiu 7,2 de magnitude na escala Richter. O tremor começou na madrugada do dia anterior e atingiu a região central do Japão. Mais de seis mil pessoas morreram e o estrago material de milhares prédios foi realmente devastador. A cena de destruição que mais lembrava o cenário da Segunda Guerra Mundial, nunca mais saiu da cabeça do casal. ‘“Teve, inclusive, mortes de brasileiros lá”, recordam.

Retorno

O casal retornou cinco anos depois para o Brasil, já com o primeiro filho Cesar Felipe Kendi Hokama, hoje com 17 anos. Em terra brasileira nasceu Lucas Cesar Ken Hokama, 12 anos. O primeiro negócio que montou em Campo Grande foi uma loja para venda de produtos orientais como alga desidratada, arroz, bebidas, doces, artesanatos e presentes. No mesmo ambiente fez um pequeno sushi bar.

A venda dos produtos orientais não foram tão bem quanto a sucesso do sushi bar. “No primeiro mês o sushi era 50% de todo faturamento da loja e no segundo saltou pra 80%. Então decidimos ficar só com a parte da culinária”, conta Cesar que diz ter buscado orientação no Sebrae para abrir o negócio. Os cursos fizeram com o famoso Kengo Yshikawa.

Em 2002, Cesar decidiu voltar para o Japão, mas desta vez sozinho. A esposa Creuza ficou cuidando dos negócios. Le ficou por quase três anos. Em 2008 foi novamente, mas ficou apenas três meses. Já em 2009 decidiram trazer o sushi bar da Rua Padre João Crippa para a Pedro Celestino, onde está até hoje. Em março de 2010 o empreendimento abriu as portas e é sucesso até hoje.

Para oferecer um serviço diferenciado, o casal decidiu não fazer pratos montados de sushi ou sashimi. Cada cliente paga por unidade e compra quantos quiser. O cardápio traz exclusividades como, por exemplo, um sushi morango, que é feito com uma unidade da fruta, arroz temperado, leite condensado e creme chocolate. O conhecido Hot Holl do restaurante tem o dobro do tamanho de outros estabelecimentos.

O casal que foi para o Japão apenas com U$ 1 mil de economias e venda de uma moto, hoje, comemora resultado da audácia com o aluguel de fitas VHS e carne bovina. Com 11 funcionários registrados em carteira mais a ajuda dos dois filhos, são 16 pessoas atendendo de segunda a sábado, das 17h30 as 23h30, Pedro Celestino com a Calarge.

O prédio onde funciona atualmente o sushi bar Wasabi foi do avô de Cesar, Tokuze Hokama. No passado era uma chácara onde eram cultivadas hortaliças, enquanto que a avó de Cesar estava no Japão cuidando dos sogros que já eram bem idosos. “Eles eram recém-casados, mas é tradição japonesa o filho mais velho cuidar dos pais até a morte deles. Como meu vô veio, ela ficou lá, mas depois veio também pra cá”, conta.

Com todo sucesso que conseguiu no Japão, Cesar e a esposa hoje dizem que está bem melhor morar e empreender aqui. Economicamente, o Brasil está melhor, segundo eles.