Diretora-gerente do FMI defendeu ação rápida e coletiva contra crise. Christine Lagarde falou à Globo News nesta sexta-feira.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse na sexta-feira (2) que a zona do euro poderá ter uma década perdida caso não seja tomada uma ação rápida e coletiva para combater a crise da dívida que atinge os países do bloco.

A francesa, que assumiu o comando do FMI este ano,  esteve na sede paulista da Rede Globo nesta sexta, em São Paulo, e falou a uma plateia de convidados.

A entrevista da diretora do FMI vai ao ar na Globo News, no programa Globo News Painel, neste sábado (3), às 23h.

A passagem por São Paulo faz parte de visita que a dirigente iniciou na segunda-feira (28) a países da América Latina. Na quinta-feira (1), Lagarde foi recebida pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Pressão dos mercados

Na visão de Lagarde, a demora para se chegar a uma solução para resolver a crise da dívida que atinge os países europeus é parte do processo democrático, “que precisa envolver todas as partes em todos os passos”.

Mas, segundo a dirigente do fundo, a Europa já sofre forte pressão dos mercados, para quem, na avaliação de Lagarde, “não faz diferença emprestar à Grécia ou à Alemanha”.

“Se não houver uma solução rápida e abrangente e coletiva, logo a zona do euro –  e não só sou eu a dizer isso, posso ter sido a primeira – corre o risco de ter uma década perdida. (…) a avaliação do mercado é de que a zona do euro é uma zona econômica também, não faz diferença emprestar à Grécia e à Alemanha”, disse.

‘Não vimos a crise se formando’

Lagarde disse que, assim como “praticamente todos” os órgãos internacionais do mundo, o FMI falhou em prever a crise de 2008, cujo marco inicial foi a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers.

“Nós, assim como muitos outros, falhamos em reconhecer a crise precocemente. Não me conforta o fato de que praticamente todos não anteciparam, apenas um ou outro economista no mundo. (…) Nós não vimos a crise que estava se formando”, disse a diretora.

Lagarde destacou pontos positivos da postura do FMI no reconhecimento, ainda que tardio, da crise.

“Fomos honestos o suficiente para reconhecer, e buscamos pessoas que têm a tendência a criticar para que dissessem a nós o que fizemos de errado, pedimos que nos apontassem por que não vimos a crise chegar. Fizemos um relatório que ‘levantou a pele’ do FMI e o levamos a público, nos arriscamos. Muitos outros não fizeram isso”.

A diretora disse que o objetivo do FMI é ser eficiente, mesmo que de forma mais discreta.

“Eu estou muito feliz que o FMI esteja no meio disso, mas de forma efetiva, não necessariamente de uma forma visível”, disse Lagarde.

Risco de contágio é concreto

Lagarde destacou a posição atuante do FMI no combate à crise citando os exemplos de Itália, Portugal e Grécia, que atualmente estão sob programas do Fundo.

“Dois desses três (países) estão procedendo conforme o plano; o caso da Grécia é muito mais complicado do que pensávamos inicialmente. O risco de contágio (para outros países europeus) que todos temiam agora é uma coisa concreta”. Para Lagarde, a dificuldade que países como a Alemanha têm enfrentado nos leilões de títulos é uma evidência de como a crise se estendeu.

Brasil melhor que outros

Sobre a situação do Brasil na crise, Lagarde elogiou as políticas tomadas pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e citou o alto volume das reservas brasileiras como um dos pontos fortes do país contra a crise.

“Não acho que qualquer país possa ficar imune se a crise crescer e não for tratada, mas acredito que o Brasil está em situação melhor do que outros”, na opinião de Lagarde, o país já enfrentou uma crise de forma bem-sucedida e está habilitado a resistir a choques.

Questionada sobre se os líderes europeus não deveriam se preocupar mais em resolver a crise da dívida imediata do que em discutir como evitar que o problema
volte a ocorrer no futuro, Lagarde disse acreditar que é importante tratar das três questões.

“Não se pode concentrar energia em um dos pontos. Concordo que a dívida deva ser a prioridade, mas depende também do que se faz em termos de consolidação fiscal e estimulo à economia (…). E também medidas que permitam o crescimento, porque sem crescimento é muito difícil resolver a dívida”, afirmou.

Países no FMI

Questionada sobre as críticas que recebe de que o FMI é considerado um órgão de liderança majoritariamente europeia, Lagarde disse que, como dirigente do fundo, é o que define como “animal do FMI”. “Somos uma espécie única”, brincou a diretora, bem-humorada.

“Eu me levanto todo dia e penso nisso, quando vejo as 177 bandeiras no hall do FMI, que tenho que trabalhar por todos eles”, afirmou. “O conselho do FMI, no entanto, representa seus respectivos países, e temos todos os interesses representados”, afirmou.