Viúva de gerente de mercado morto durante assalto vai acionar o Estado judicialmente

No assalto um cabo da PM atirou nos ladrões, matou um, feriu outro e acabou matando também o gerente do mercado. Imagens foram registradas pelo circuito do mercado e mostram que só o policial atirou

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No assalto um cabo da PM atirou nos ladrões, matou um, feriu outro e acabou matando também o gerente do mercado. Imagens foram registradas pelo circuito do mercado e mostram que só o policial atirou

A.C.S.B., 34 anos, vai acionar judicialmente o estado de Mato Grosso do Sul. A alegação é de que seu marido, o gerente do supermercado Souza, Carlos Expedito Ferreira Bocchia, 41 anos, morreu com um tiro disparado por uma arma manuseada por um funcionário concursado da Polícia Militar.

Juridicamente isto significa, no entendimento de seu advogado, que o Estado responde pelos atos dos seus servidores. No crime, o policial disparou vários tiros dentro do mercado. Resultado: ele matou um dos assaltantes, o gerente do local e feriu um segundo assantante.

Nesta terça-feira, o policial militar, que é cabo da corporação, será ouvido novamente pelo delegado que cuida do caso, Valmir de Moura Fé.

Depois disto, o advogado da viúva, Rodolfo Carneiro Homem de Carvalho, pretende pegar uma cópia do inquérito e entrar com a ação no fórum de Campo Grande.

“Independente do indiciamento dele ou não no fato, nós vamos entrar com um pedido de indenização por danos materiais e moral e ainda pensão”, revela.

Ainda de acordo com o advogado Rodolfo Carneiro, a viúva entrou com um pedido de pensão por morte, já que Carlos Expedito foi morto durante seu expediente laboral. Esta decisão deve sair antes da ação contra o Estado.

A vida que veio depois

Morando de aluguel, com dois filhos (5 e 13 anos) numa casa a poucas quadras do mercado onde o marido trabalhava, a viúva não tem emprego. A criança menor estuda em colégio particular – rotina que deve mudar nos próximos dias – os benefícios de INSS ainda não foram liberados e a ausência do chefe da família, o único que trabalhava, traz um clima de muita tristeza à residência que a maioria do tempo do dia fechada e com portões trancados.

O clima de tristeza também é visível no Mercado Souza. Funcionários colegas de Carlos Expedito preferem não lembrar o dia do crime. Ao invés disto, resumem que era uma pessoa boa e companheira. Uma caixa que trabalhava na noite do crime e presenciou a ação está bastante abalada, inclusive ela pensa até em deixar o emprego

No início da tarde de segunda-feira A.C.S.B. prestou depoimento ao delegado Moura Fé. Ela estava acompanhada do filho do advogado do dono do mercado onde o esposo trabalhava, Almir Pereira Borges Filho. Segundo Almir (pai) ele representa o proprietário Manoel Souza, que disponibilizou sua assessoria jurídica para acompanhar a viúva.

Questionado se o dono do mercado está prestando algum auxílio para a família de seu ex-funcionário, Almir (pai) disse que sim e acredita que inclusive alimentícios. “A vítima começou a trabalhar ali quando tinha 15 anos. Era o braço direito do Mané, por isso tenho certeza que ela (viúva) não vai ficar desamparada”, acredita.

Investigação

O inquérito policial conduzido pelo delegado Moura Fé tem aproximadamente 300 páginas. Nos relatos estão depoimentos, laudos periciais de necropsia, balística, vídeos das câmeras de segurança que mostram o momento do assalto que culminou nas mortes, imagens de dias anteriores mostrando a rotina do estabelecimento e do local do crime.

Nesta terça-feira, o delegado deve concluir o inquérito. Não é descartada a possibilidade de uma coletiva à imprensa para detalhamento do caso, que gerou grande clamor público: primeiro porque morreram duas pessoas (o trabalhador e o assaltante), depois, porque as pessoas têm a curiosidade de saber se o cabo da PM fazia algum bico no local como segurança, já que isto é proibido. Outra dúvida é quanto ao indiciamento por homicídio e lesão corporal ou se vai seguir para arquivamento.

O caso

Maicon Igor, 18 anos, armado com um revólver calibre 38 e o menor T.C.T., 17 anos, com um 22, chegaram ao estabelecimento numa bicicleta e anunciaram o assalto, por volta das 20h, do dia 5 de julho deste ano. Quando o maior de idade saia do local, foi baleado pelo policial, que chegou atirando. O menor também foi atingido nos testículos. O gerente, que estava na linha da troca de tiros, foi alvejado e morreu na Santa Casa de Campo Grande.

Em depoimento ao delegado Moura Fé, o menor revelou que conhecia Maicon há pouco tempo, mas os dois moravam no mesmo bairro, o Taquarussu. Eles fumavam maconha juntos na praça pública do bairro Jacy. Naquele dia, fizeram uso do entorpecente, mas, como acharam pouco, decidiram sair em busca de dinheiro para mais. O maior teria dado a ideia de cometer o assalto.(Material editado às 16h06 para correção ortográfica)

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