UFGD forma primeira turma de Licenciatura Intercultural indígena do país e lança Faculdade de Estudos Indígenas

Ao todo 39 indígenas se formaram no curso de Licenciatura Indígena, que passará a integrar a nova Faculdade. Os formandos da Teku Arandu são os primeiros a se formar.

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Ao todo 39 indígenas se formaram no curso de Licenciatura Indígena, que passará a integrar a nova Faculdade. Os formandos da Teku Arandu são os primeiros a se formar.

Neste Sábado (22), no recém inaugurado auditório na unidade II da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), o reitor professor Damião Farias assinou documento lançando a Faculdade de Estudos Indígenas da UFGD. O lançamento ocorreu durante a formatura da 1° turma da Licenciatura Intercultural Teko Arandu.

Ao todo 39 indígenas se formaram no curso de Licenciatura Indígena. O Teku Arandu começou em 2006 através da iniciativa do Movimento de Professores Guarani e Kaiowá, profissionais da área da Educação do Estado, Universidades (UFMS, UCDB, Uems, UFRR, UFMT), Secretarias Municipais de Educação do Estado, Funai, MEC e políticos locais, juntamente com os professores Guarani e Kaiowá.

Atualmente, há cerca de 23 turmas de Licenciaturas Interculturais em todo o Brasil. Os formandos da Teku Arandu são os primeiros em Licenciatura Intercultural a se formar. A partir da criação da Faculdade de Estudos Indígenas, o curso de Licenciatura Indígena passa a fazer parte desta faculdade. O curso era lotado na FAED – Faculdade de Educação.

Mais de 500 pessoas participaram da solenidade, entre elas, lideranças indígenas e políticas da região e do Estado. O lançamento da Faculdade de Estudos Indígenas aconteceu antes da solenidade de colação e teve como principal orador o reitor Damião Farias que afirmou que a “UFGD é uma universidade que vive em busca incessante pela qualidade, ano a ano (…) por isso é a melhor do MS e uma das melhores do Centro-oeste”.

Um apelo pela educação e pela terra

Uma das principais oradoras foi a pedagoga e mestra em educação, da Comissão Professores Guarani e Kaiowá, a indígena Guarani-Kaiowá, Teodora de Souza. A professora, que é uma das principais militantes em educação indígena, pediu as autoridades e políticos presentes que lutem mais pela educação no estado e principalmente pela educação dos povos tradicionais.

Teodora agradeceu o empenho da UFGD em promover a educação superior indígena no Estado. “Ganhamos espaço na educação superior a partir do governo de Lula da Silva, mas precisamos de ainda mais espaço”, afirmou a indígena aos presentes.

Após o lançamento da Faculdade de Educação Indígena houve a colação de grau da primeira turma Teku Arandu. Lideranças indígenas subiram ao palco do anfiteatro, onde – quebrando o protocolo – dançaram e cantaram por quase 15 minutos, enquanto os formandos tomavam seus lugares para a cerimônia.

O usual é que após a mística de abertura, o cerimonial anuncie formando por formando ao entrarem no recinto, porém a emocionante mudança na cerimônia demonstrou que, apesar de estarem na academia, os indígenas não deixam de lado sua raiz. Essa foi uma constante durante toda a cerimônia. Principalmente durante o discurso da oradora da turma, a indígena guarani-kaiowá, Valdelice Verón.

“Mba’éichapa ndeko´ê [saudação matutina em guarani]. Sou multilíngüe [sinônimo de poliglota]. Falo espanhol, guarani e português. Mas em respeito aos que não são (multilíngües), vou discursar na língua oficial brasileira”, disse a indígena que continuou seu discurso em português. Valdenice falou das dificuldades enfrentadas pela primeira turma Teku Arandu, mas principalmente do crescimento de vivenciar a academia.

“Vocês que serão os próximos a cursar a Licenciatura Indígena não temam a dificuldade de decodificar os temas propostos pela universidade”, disse a Valdelice. O ponto alto do discurso foi sua fala sobre a terra indígena e sobre os ancestrais: “Nossa formatura é uma homenagem a todos os Guarani e Kaiowá que tombaram na luta pela terra e aos professores”.

Valdelice é filha de Marcos Verón, cacique kaiowa-Guarani da terra indígena Taquara, município de Juti, assassinado em 13 de janeiro de 2003, em uma tentativa de recuperar a terra tradicional de seu povo na região.

Homenagem

A turma leva o nome do professor doutor da UFGD Renato Gomes Nogueira, um dos grandes incentivadores da implantação do curso em Dourados, falecido em um acidente automobilístico na BR 163, ocorrido em 2008.

Os patronos da turma foram Dona Tereza Espíndola, liderança indígena e o professor doutor Damião Duque de Farias, reitor da UFGD. Os paraninfo foram o Senhor Nelson Cabreira, liderança indígena e o professor doutor Levi Marques Pereira.

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