A capital está sofrendo uma epidemia de conjuntivite viral desde fevereiro. Segundo o de Controle de Doenças (CCD) da Prefeitura, foram registrados 50.405 casos da doença em 45 dias – mais de mil casos por dia.

Assim que o aumento foi detectado, os profissionais de saúde foram orientados a ampliar as ações de vigilância e foi enviado um alerta a escolas e creches, que receberam orientações sobre as medidas de controle.

A doença passou a ser de notificação compulsória caso a caso. Isso significa que todos os serviços de saúde do município, particulares ou públicos, foram obrigados a informar os registros individualmente.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, o pronto-socorro oftalmológico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) está atendendo cerca de 400 casos da doença por dia – o esperado eram 60. No Hospital das Clínicas, são ao menos 300 novos casos – o triplo do esperado para o período. Na Santa Casa, cerca de 70% dos 330 atendimentos diários são por causa da conjuntivite. No Beneficência Portuguesa, foram notificados 114 casos nos primeiros 15 dias deste mês.

Problema viral. Existem três tipos de conjuntivite: alérgica, provocada geralmente por uso de filtro solar na região dos olhos; bacteriana, que provoca vermelhidão e coceira, além de uma secreção amarelada e grudenta; e a viral, a mais comum e contagiosa, que provoca coceira, vermelhidão e uma secreção aquosa. No caso da epidemia de São Paulo, os casos foram associados à forma viral da doença.

Segundo Milton Ruiz Alves, oftalmologista do HC e professor da USP, depois de instalado em um olho, o vírus demora cerca de 48 horas para passar para o outro. Depois, o doente transmite o vírus por cerca de dez dias.

Nos casos mais graves, a evolução é lenta e pode demorar até três semanas para curar. Nos casos leves, o problema pode regredir sozinho em dez dias.

O vírus sobrevive por várias horas na superfície. Por isso, espaços públicos, como metrô, ônibus e escadas rolantes, são potenciais locais de transmissão. “Imagine a pessoa que segura no corrimão da escada rolante e leva a mão ao olho. Se o corrimão estiver contaminado, certamente ela vai se infectar”, diz Alves.

Segundo a oftalmologista Elisabeth Nogueira Martins, da Unifesp, as pessoas não devem usar água boricada nem soro fisiológico para fazer a compressa. “Eles aumentam o risco de irritação e de contaminação, porque são embalagens grandes que não são descartadas na hora.”

Ao contrário do que ocorre com outras doenças, como sarampo e catapora, a conjuntivite não garante imunidade para o paciente. Como o vírus sofre mutações frequentes, a pessoa pode estar contaminada, curar-se e voltar a se infectar.

Para o oftalmologista Milton Ruiz Alves, do HC, a epidemia acontece porque faltam políticas de saúde pública específicas para o problema. “Não há uma campanha de esclarecimento, especialmente nessa época do ano, para mostrar às pessoas que a conjuntivite é um problema sério e pode causar mais prejuízos, como diminuição da visão.”

Incômodo. A notícia de que não precisaria ir ao colégio por uma semana deixou Ian Mota dos Santos, de 8 anos, animado. O inchaço no olho direito foi diagnosticado como conjuntivite. Mas a felicidade dele durou pouco, conta a mãe, Márcia Arruda, de 32. “Agora, ele reclama por não aguentar ver televisão ou ficar no computador por muito tempo”, diz. A doença foi transmitida na por colegas de escola

Marion Guerra, de 62 anos, crê que pegou a doença no . “O pessoal de outros setores foi dispensado. Na segunda, cheguei com o olho vermelho e me mandaram para o médico da firma.” / COLABOROU FELIPE ODA, JORNAL DA TARDE