O mau funcionamento dos caixas eletrônicos e a ameaça de cortes de energia sobressaltaram nesta quinta-feira a população de Tóquio, onde milhões de pessoas começaram a estocar arroz e outros mantimentos e permanecem trancadas em casa ou aglomeradas nos aeroportos com medo da crise nuclear no Japão.

O excesso de transações em algumas agências do banco Mizuho causou a paralisação abrupta de centenas de caixas eletrônicos, e o governo alertou para a possibilidade de grandes apagões, contribuindo com a desordem numa cidade tão habituada à precisão e à eficiência.

Enquanto técnicos lutam para impedir uma catástrofe na usina nuclear de Fukushima, 240 quilômetros ao norte da capital, em Tóquio a calma da população era posta à prova, quase uma semana depois do terremoto de magnitude 8,9 que causou um tsunami e danificou vários reatores da instalação atômica.

Alguns moradores estão fugindo, outros solicitaram passaportes, e muita gente estoca o que pode — alimentos, dinheiro ou mesmo ouro, reserva segura em tempos de crise.

Num escritório do segundo andar do centro de emissão de passaportes no bairro de Yurakucho, as filas desciam as escadas. “Não sabemos a razão, mas de repente, desde ontem, tivemos 50 por cento mais gente do que de costume solicitando um passaporte ou pedindo informações sobre como obtê-lo”, disse o funcionário Shigeaki Ohashi.

AEROPORTO CHEIO, RUAS VAZIAS

Restaurantes normalmente movimentados, que servem sushis e sopas a funcionários de escritórios, ficaram vazios. Muitas escolas estão fechadas. As empresas autorizaram seu pessoal a ficar em casa, e voluntariamente reduziram o consumo de energia. A cidade, habitualmente iluminada por neons, ficou parcialmente escura.

O ministro do Comércio, Banri Kaieda, disse que apagões grandes e inesperados são possíveis, embora não muito prováveis.

O banco Mizuho disse que os problemas nos caixas eletrônicos se deveram a uma concentração de operações em algumas agências não identificadas. Os caixas ficaram cerca de duas horas desativados durante a manhã, e voltaram a parar à noite. Era impossível fazer saques em moedas estrangeiras e outras transações.

Muitas pessoas estocaram arroz, leite e outros alimentos, esvaziando as prateleiras de alguns supermercados. Milhares de pessoas compareceram aos aeroportos próximos, mesmo sem passagens, na esperança de reservar voos.

“A vida e a saúde são a prioridade, e não o custo disso, então estou fugindo do Japão, embora eu não queira”, disse La Ha-Na, estudante da Coreia do Sul que vive em Tóquio.

A TV mostrou ônibus cheios de pessoas saindo da cidade.

Na quinta-feira, a embaixada dos EUA orientou seus cidadãos que estejam num raio de 80 quilômetros em torno da usina de Fukushima a saírem da região ou ficarem dentro de casa, e a Grã-Bretanha também sugeriu a seus cidadãos que “cogitem deixar a área”.

Alguns países foram ainda mais longe, pedindo aos seus cidadãos que abandonem o Japão. Os EUA estão fretando aviões para retirar norte-americanos.