Reeleição de Cristina coroa a política de enfrentar a crise econômica sem ajuda externa
Na campanha presidencial, a presidenta Cristina Kirchner prometeu seguir o mesmo modelo implementado pelo marido em 2003. Mal assumiu um país que tentava sair de uma das piores crises econômicas e sociais de historia, Néstor Kirchner reabriu os processos contra os militares suspeitos de cometer crimes durante a ditadura (1976-1983). Muitos haviam sido presos e […]
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Na campanha presidencial, a presidenta Cristina Kirchner prometeu seguir o mesmo modelo implementado pelo marido em 2003. Mal assumiu um país que tentava sair de uma das piores crises econômicas e sociais de historia, Néstor Kirchner reabriu os processos contra os militares suspeitos de cometer crimes durante a ditadura (1976-1983). Muitos haviam sido presos e condenados durante o governo de Raul Alfonsin (1983-1989). Outros nem chegaram a ser julgados. Mas todos foram beneficiados por leis de anistia. Hoje, há 800 processos em andamento.
Néstor e Cristina também enfrentaram o Fundo Monetário Internacional (FMI), recusando-se a aceitar políticas de ajuste fiscal. Preferiram ficar sem créditos internacionais e renegociar a divida externa unilateralmente. Em vez de apertar o cinto dos gastos públicos para pagar os credores, optaram por investir em programas sociais. A Argentina saiu da crise de 2001 graças, em parte, ao aumento dos preços das principais matérias primas que exporta: carne, trigo e e soja (commodities).
“Foi uma política que deu resultados palpáveis. Desde 2003, 14 milhões de argentinos saíram da pobreza e temos uma divida externa menor. É difícil para a oposição argumentar com esses números”, disse o analista político Artemio Lopez, da consultora Equis. A oposição reconhece os méritos de Cristina, mas questiona a viabilidade do programa de governo no longo prazo.
Roberto Lavagna, que foi ministro da Economia de Néstor Kirchner e hoje está na oposição, acha que os maiores desafios de Cristina Kirchner são a inflação e a fuga de capitais. Em 2007, o governo mudou a fórmula de cálculo de inflação do Indec (o instituto nacional responsável pelas estatísticas oficiais). Com a mudança, a inflação anual oficial gira em torno de 9%, muito abaixo da medição feita por consultorias privadas, que calculam que os preços aumentam, em média, mais de 20% ao ano. Quanto à saída de capitais, nos últimos 51 meses quase US$ 70 bilhões foram sacados do sistema financeiro argentino, apesar da situação política e econômica permanecer estável.
“O governo pode dizer que os preços aumentam apenas 9%, mas o que vale é o índice do carrinho de supermercado da dona de casa, que registra um aumento duas vezes superior ao oficial”, disse Lavagna, em entrevista à Agência Brasil. “A prova que a inflação real é mais alta que a oficial é que os sindicatos negociam com os empresários e o governo aumentos salariais baseados no índice do carrinho de supermercado”.
Uma explicação para a decisão do governo de mudar a fórmula de cálculo do Indec é que os muitos títulos da divida externa argentina estão indexados à inflação. Como os aumentos salariais são negociados com base na inflação real, os argentinos não sentem o efeito dos aumentos dos preços. Mas, segundo Lavagna, o governo não tem como continuar financiando os gastos públicos (que aumentaram vinte vezes desde 2005) sem uma política econômica mais austera. A economia argentina, que vem crescendo graças aos preços altos de matérias primas como a soja, apresenta hoje um déficit no orçamento público. E ainda não conta com empréstimos de organismos internacionais.
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