Se o sujeito tem bola nos pés, ar nos pulmões é o de menos. O Inter passou por cima da altitude de Cochabamba, abateu os aviadores do Jorge Wilstermann antes que eles pudessem alçar voo e deixou muito bem encaminhada sua situação no Grupo 6 da Libertadores da América. A vitória de 4 a 1 no estádio Felix Capriles teve mais uma vez a gurizada como destaque: Oscar foi a referência técnica do time, e Leandro Damião marcou outro gol.

É um resultado determinante para o objetivo vermelho de ser campeão da chave e, se possível, fazer a melhor campanha geral da etapa de grupos. O Inter foi a sete pontos, na liderança de seu quadrangular, mas dependendo do resultado do jogo entre Jaguares e Emelec, que abrem ainda nesta quarta-feira a quarta rodada do grupo. Já o Jorge Wilstermann, que leva o nome do primeiro piloto comercial da Bolívia, ficou no solo. Tem três derrotas em três jogos.

O Inter assegurou a vitória no primeiro tempo. E foi de virada. Brown colocou os bolivianos na frente, e ele mesmo, contra, criou o empate, em cruzamento de Oscar. Leandro Damião e Zé Roberto marcaram na sequência. Na etapa final, Kleber ampliou.

Um susto, para ter graça, e três gols, para mostrar quem manda

Celso Roth abriu os braços na beira do campo como se imitasse o Cristo Redentor que observa Cochabamba do alto, e que pode ser visto do estádio, quando Abregú cruzou da direita, Toscanini desviou de cabeça e Lauro fez defesa espantosa. Só tinha corrido um minuto de jogo, e o Jorge Wilstermann ameaçava incomodar o Inter. Será? O Jorge Wilstermann? Um time da segunda divisão boliviana?

Andaram mais alguns minutos em um jogo com ar esquisito na Bolívia, com o Inter um tanto perdido, parecendo não saber direito para que lado correr. Aos sete, veio a pancada. Ojeda cobrou falta boba cometida por Zé Roberto, a zaga não se encontrou, e Brown, de cabeça, desviou de Lauro. Celso Roth, na beira do campo, não acreditou. O Cristo Redentor boliviano, lá no alto, seguiu de braços abertos, mas deve ter achado meio esquisito aquilo. Será? Perder para o Jorge Wilstermann? Um time da segunda divisão da Bolívia?

 Coisa nenhuma. Em menos de dez minutos, o Inter fez três gols e mostrou que um campeão da Libertadores não pode, com todo o respeito aos simpáticos bolivianos, perder uma partida dessas. Foram três golpes letais, um depois do outro.

Golpe um, aos 16 minutos: Oscar, esse capeta de 19 anos, colocou calor na defesa adversária pela ponta direita e mandou na área para Tinga acossar Brown, que mandou contra. Pobre Brown: do gol a favor ao gol contra em poucos minutos.

Golpe dois, aos 19 minutos: Oscar, desta vez pela esquerda, acionou Guiñazu, que mandou cruzamento na área. Leandro Damião se antecipou à zaga e fez seu milésimo gol na temporada. Ok, quase isso: foi o 13º em oito jogos.

Golpe três, aos 24 minutos: Leandro Damião roubou a bola, partiu em disparada, entrou na área e, na hora de fazer seu milésimo-primeiro gol na temporada (sim, sim, o 14º), rolou para Zé Roberto. O meia-atacante só completou: 3 a 1.

Aí o Inter baixou o ritmo. Afinal, estava na altitude de 2,5 mil metros de Cochabamba. Mesmo assim, poderia ter ampliado. Chutes de Damião e Oscar levaram perigo ao time boliviano.

Kleber fecha a conta: 4 a 1

Não houve sustos para o Inter no primeiro tempo. Com total domínio do jogo, o time colorado mandou no relógio, controlou o espaço, transformou sua melhor condição técnica em palavra de ordem na Bolívia. Com o tempo, Celso Roth foi mexendo no time. Tirou Damião e Oscar, colocou Cavenaghi e Andrezinho. No intervalo, já havia sacado Tinga, com a entrada de Wilson Matias.

Estava na cara que o Inter conseguiria ampliar o resultado. Leandro Damião, na pequena área, perdeu, de cabeça, um tipo de gol que não vem perdendo. Zé Roberto puxou um sem número de ataques, mas sempre faltou o encaixe final. Cavenaghi emendou uma pancada da entrada da área, só que o goleiro pegou. Quem fez mesmo foi Kleber.

Foi aos 36 minutos. O Inter teve ótima jogada ofensiva e fez a bola viajar de um lado a outro do campo. Saiu da direita, passou pelo meio, com Andrezinho, e parou com o lateral na outra ponta. Ele mandou chute forte, cruzado, para mudar o patamar do resultado: de vitória para goleada.

Os bolivianos, com ar de sobra e pontos de menos, começaram a deixar o estádio. Não havia muito a fazer por ali. E o Inter, com ar de menos e pontos de sobra, só teve que deixar o tempo passar. Ar para quê, se o importante é bola no pé?