PT e PSDB, rivais históricos, se aliam para dividir cargos na Câmara de Porto Murtinho

Tucanos e petistas fizeram composição para eleger a mesa diretora; união provocou a renúncia de sete membros do diretório do PT, entre eles o presidente e o vice

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Tucanos e petistas fizeram composição para eleger a mesa diretora; união provocou a renúncia de sete membros do diretório do PT, entre eles o presidente e o vice

A aliança entre dois adversários políticos históricos – PT e PSDB – para a eleição da mesa diretora da Câmara de Porto Murtinho provocou a renúncia do presidente do diretório municipal petista e outros seis membros.

A debandada foi um ato de protesto ao posicionamento dos vereadores do PT, Carlos Heitor Santos da Silva e Fábio Silva Santos, respectivamente vice-presidente e 1º secretário eleitos para o biênio 2011/2012 na gestão do tucano José Gomes Sobrinho, o Malaquias.

Na cerimônia de posse em 1º de janeiro, o novo presidente da Câmara considerou decisivo o apoio dos colegas do PT para assumir a mesa diretora e agradeceu pela atitude corajosa dos petistas de superar as divergências ideológicas.

A renúncia foi assinada em 21 de dezembro pelo então presidente do diretório e ex-vereador Ailton Sanches, o vice Domício Monteiro de Almeida, a secretária de Formação Política, Josely Tavares, além de Marciana Brito, Maria Fátima Diaz, Sérgio Luiz Bacha e Estevão Martinez.

No comunicado, os ex-integrantes afirmaram que foram “traídos e desrespeitados” pelos correligionários em um acordo com adversários em nível municipal, estadual e federal.

“Em momento algum, os membros do diretório municipal sequer foram consultados ou comunicados acerca de eventuais acordos ou arranjos envolvendo os nobres edis, prefeito municipal, eminências pardas ligadas à administração municipal e parlamentares do PSDB local”, informa a nota de renúncia.

Com a saída dos dirigentes, o partido será conduzido interinamente pela secretária-geral Carla Cristiane Santos da Silva.

“Vaquinhas de presépio”

O ex-vice-presidente e um dos fundadores do partido na cidade, Domício Monteiro de Almeida, afirmou que seu grupo abandonou a chalana por entender que a aliança PT-PSDB é um gesto irregular do ponto de vista político, feito às escuras e à revelia da orientação nacional do partido. Em relação aos vereadores, ele afirma que nem sequer fazem oposição ao prefeito na Câmara, atuando apenas como “vaquinhas de presépio” que só “dizem amém” aos projetos do executivo.

Questionado se o comando nacional do PT poderia ser provocado para enquadrar a aliança, Domício dispara: “Se nós acionássemos a comissão de ética, não ia dar em nada porque ela não funciona como deveria”.

Do vinho para a água

Em 2008, PT e PSDB protagonizaram a eleição mais disputada dos últimos tempos em Mato Grosso do Sul, quando Nelson Cintra Ribeiro reelegeu-se com uma margem de apenas 12 votos sobre o petista Heitor Miranda dos Santos. Mas, três anos depois, integrantes do grupo político que foi derrotado nas urnas aderiram à causa tucana em uma provável costura política visando as eleições municipais de 2012.

Os dois partidos antagônicos ensaiam uma aproximação no mínimo inusitada. O prefeito, que não poderá concorrer novamente, não vê sucessores imediatos à sua disposição. Entre os cotados para as eleições municipais já aparece o nome do ex-vereador Ozório Miranda dos Santos.

Zeca não vê problemas

Para o ex-governador Zeca do PT, nascido em Porto Murtinho, não há problemas na aliança entre opositores no legislativo, já que a gestão da Câmara é colegiada. Disse que exemplos como esse acontecem em inúmeros municípios brasileiros e citou o caso do deputado estadual Pedro Kemp (PT), que participa da mesa diretora da Assembleia Legislativa como 1º vice de Jerson Domingos (PMDB). Nem por isso abandonou seu papel de opositor, na opinião de Zeca.

“Até eu apoiei Londres Machado na presidência da Assembleia quando fui deputado estadual”, sustentou.

Zeca disse que foi consultado pelos vereadores à época da formalização da aliança e os aconselhou a não se isolarem politicamente na Câmara. Mas cobrou deles que fizessem oposição, já que PT e PSDB são diametralmente opostos.

Perguntado sobre eventual apoio de Cintra ao PT pela prefeitura em 2012, o ex-governador disse: Se o PSDB quiser apoiar, sem problemas”.

 

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