O cineasta Stanley Kubrick (1928-1999) ficou horrorizado com os desdobramentos de sua obra que mais influenciou cultura pop, moda e comportamento.

Lançado naquele ano, Laranja Mecânica disparou uma onda de violência no Reino Unido, o que fez com que o próprio diretor pedisse que o longa fosse tirado de cartaz, mesmo com ótimos resultados em bilheteria.

“Ele ficou triste com as reações do público e com o comportamento da mídia de ter embarcado na ideia de culpar o filme”, conta Jan Harlan, produtor do clássico e cunhado de Kubrick.
“Seria bem diferente hoje, já que a violência no cinema superou – e muito – aquela mostrada em ‘Laranja’.”

Harlan é um dos primeiros convidados da 35ª Mostra de São Paulo a chegar à cidade. O festival começa no dia 21 e o alemão dará uma aula sobre Kubrick no dia 25, na Faap, em que falará sobre a versão restaurada do filme.

O longa retrata um futuro em que jovens delinquentes infernizam a sociedade com violência gratuita. “Uma cena não precisa ser realista. Precisa ser tão real quanto a conexão emocional que faz com o espectador. Kubrick conseguiu filmar estupros terríveis apenas cortando da cena para a trilha sonora. Não é o que se vê, é o que se sente que faz com que as cenas sejam tão fortes”, diz.

Harlan e Kubrick trabalharam juntos por 30 anos. Foi o alemão que negociou, a pedido de Kubrick, os direitos de “Traumnovelle”, de Arthur Schnitzler. O livro daria origem, 30 anos depois, ao filme “De Olhos Bem Fechados” (1999). Uma semana após a exibição desse longa para produtores, Kubrick morreu.

Convidado a fazer um documentário sobre o diretor, Harlan diz que “A Life in Pictures” (2001) foi “terapêutico” e o ajudou a lidar com o choque da morte repentina. “Kubrick era obcecado por fazer filmes que importassem. Seus medos eram a mediocridade e a irrelevância.”

Hollywood passou ao largo disso, e o único Oscar concedido a ele foi para os efeitos especiais de “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968).