O pesque e solte, que estará liberado a partir de amanhã, 1º de fevereiro, no rio Paraguai, pode causar “estresse” nos peixes se for praticado sem alguns cuidados básicos. Uma cartilha da Embrapa Pantanal, editada em 2007, traz recomendações que devem ser seguidas pelos pescadores neste período. As dicas, aliás, servem para toda a temporada de pesca.

“Todos os procedimentos de pesca utilizados no pesque e solte causam estresse sim para o animal. Porque além de se machucar com o anzol durante a luta para se libertar, ele está sendo retirado do ambiente e manuseado. Tudo isso causa estresse. Depois do pesque e solte, o peixe está mais estressado; mais debilitado”, explicou ao Diário a bióloga da área de recursos pesqueiros da Embrapa Pantanal, Débora Marques.

Para evitar que o peixe fique “estressado”, a pesquisadora – que também é zoóloga e geneticista – indicou algumas técnicas que podem minimizar os danos ao pescado. “Não deixe o peixe lutar muito, porque esse processo é estressante e muitas vezes, ele se machuca e atrai predador. O tipo de anzol correto é o circular. Se não tiver retire a farpa do anzol comum. Evite aquele tapinha nas costas do peixe ou aquela alisadinha. O peixe tem uma camada de muco na pele que o protege, além de fazer com que o corpo fique mais hidrodinâmico, o muco protege. Sem essa camada, o peixe fica desprotegido e assim é mais fácil de pegar infecção. A água do rio tem muito microorganismo que pode fazer isso com ele, do que quando está protegido”, disse a pesquisadora.

Débora orientou cuidados para o momento da retirada do anzol do corpo do peixe, esclarecendo que nessa hora seria prudente mantê-lo no rio. “Na hora de retirar o anzol, evite retirá-lo da água. Isso é difícil, mas já que vai retirar demore o menor tempo possível. Se o anzol estiver difícil de retirar, corte a linha e deixe lá. Se engoliu o anzol não tente retirá-lo, corte a linha e deixe o anzol. Quando se usa o anzol apropriado o risco é menor, pois degrada mais rapidamente que o comum”, observou.

Fragilidade

O anzol, segundo a geneticista, ideal para a prática é o chamado “circular” porque ele fica inserido “somente nas partes mais externas da boca, onde o peixe normalmente se machuca e não sangra”. O anzol comum pode causar danos irreversíveis ao pescado. “O cérebro do peixe vai até quase a ponta do focinho. Quando o anzol se insere no céu da boca, em todos os casos que observamos [em pesquisas de campo], o anzol danifica o cérebro. Esse peixe então vai morrer. O anzol quando se insere de dentro pra fora da boca, arranca o olho. Na hora em que esse olho é retirado, essa região vira porta de entrada para microorganismos e o sangramento atrai o predador”, afirmou.

Pelo menos duas espécies de peixes do Pantanal mostraram ter menor resistência ao pesque e solte. “Aqui no Pantanal, por exemplo, o pacu é mais resistente que o pintado ou o dourado. As amostras que pegamos no campo, foram poucas amostras de dourado, mas quando comparei os resultados de dourado; pintado e pacu, o pintado e o dourado foram os mais sensíveis. O pacu foi o mais resistente”, disse a especialista em recursos pesqueiros. Ela complementou que a fragilidade varia de acordo com o “estado fisiológico do peixe”.

“Seguindo as regras de manejo, o pesque e solte pode ser realizado sim. Causa danos, mas são minimizados utilizando a forma correta do pesque e solte. Não é preciso proibir o pesque e solte, até porque quando se faz regras de manejo do recurso pesqueiro, como por exemplo, respeitar o tamanho mínimo de captura, automaticamente o pescador faz o pesque e solte. Na hora que repeita o tamanho mínimo, ele devolve e está praticando o pesque e solte. Faça da forma correta. Não jogue o peixe na água, na hora que ele cai está tonto e dificilmente vai se recuperar e muito mais rápido vai ser o predador dele. Procure não machucar muito o animal; não demore muito com ele fora da água; não brigue. Se forem cumpridas essa regras os danos serão os mínimos possíveis”, finalizou Débora Marques.