O acordo que triplicou o valor pago pelo Brasil ao Paraguai pela energia da Hidrelétrica de Itaipu agradou ao país vizinho, mas não fez os paraguaios desistirem da ideia de que deveriam dispor da sua parte na produção da maneira que quisessem – inclusive vendê-la para outros países que não o Brasil.

Retirado da mesa de discussões para que fosse possível levar adiante a revisão dos valores, o tema é uma questão de “princípios” para o Paraguai e, de acordo com diplomatas brasileiros que conhecem bem o país, deve ressurgir várias vezes até 2023, quando a dívida da construção da usina estaria paga e o tratado, da forma atual, encerrado.

Mesmo festejando o acordo, o vice-presidente paraguaio, Federico Franco, declarou à imprensa local que esse era apenas “o início, a ponta do iceberg” de uma reclamação legítima e histórica do país. No Congresso paraguaio, deputados da situação e da oposição também elogiaram o acordo, mas sempre com a ressalva de que era necessária a busca da “reivindicação plena”.

O maior entrave do caminho das intenções paraguaias é o próprio acordo de Itaipu. Um dos seus artigos diz que um dos sócios tem o direito de comprar toda a energia não utilizada pela outra parte. E esse é um direito que o Brasil não está disposto a abrir mão, deixa claro um diplomata. Para que isso fosse mudado seria necessário alterar o tratado e, como haveria prejuízo para uma das partes, a mudança dependeria de uma aprovação dos dois Congressos nacionais – algo quase impossível de passar no Brasil, onde o Senado já reclamou de atualizar os valores pagos pela energia excedente comprada do Paraguai.