Para analistas, discrição e estilo ‘gerente’ marcam início da Era Dilma

A postura discreta e a atenção a questões internas e administrativas são as principais marcas do início do governo da presidente Dilma Rousseff, segundo a opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Para o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Monteiro, o governo Dilma se caracteriza, até agora, […]

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A postura discreta e a atenção a questões internas e administrativas são as principais marcas do início do governo da presidente Dilma Rousseff, segundo a opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

Para o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Monteiro, o governo Dilma se caracteriza, até agora, por ser mais “institucional” e “organizacional” do que político.

“Dilma é uma liderança mais voltada para o interior do Estado do que para o exterior”, diz Monteiro. Em sua opinião, a presidente aparentemente prefere a cobrança aos ministros à exposição pública por meio de discursos e eventos que marcou a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre suas primeiras medidas de caráter administrativo, Dilma transferiu a gerência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Casa Civil para o Ministério do Planejamento.

Além disso, a presidente anunciou um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011, em uma tentativa de conter os gastos públicos.

O especialista também prevê que, devido a seu perfil, as primeiras medições de popularidade de Dilma mostrarão uma queda em relação aos números de Lula, que tinha, segundo ele, mais familiaridade no contato com o povo.

A última pesquisa CNT/Sensus do governo Lula, divulgada no fim de dezembro, apontava uma aprovação de 87% para o então presidente.

Embora os institutos de pesquisa Sensus e Ibope ainda não tenham publicado levantamentos sobre o novo governo, uma pesquisa do instituto Análise aponta popularidade de 50% para Dilma em seus primeiros 45 dias no Planalto.

Perfil diferente

Na opinião do cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, é normal para Dilma adotar certa discrição no início do governo. Para ele, a presidente tem um estilo de intervir nos problemas e de mostrar que está atenta, cobrando respostas da equipe.

“Como a agenda do Lula era mais voltada para fora do Planalto, ele às vezes demorava a responder aos fatos, evitava entrar em atritos”, diz Ismael. “O estilo de gerente da Dilma traz esta postura de cobrar responsabilidades, que é um perfil diferente.”

Em termos políticos, Tadeu Monteiro vê como uma diferença entre Lula e Dilma o fato de a atual presidente não se manifestar publicamente sobre os assuntos, evitando assim antecipar posições e colocando as pautas a cargo de sua equipe de articulação.

“Quando Lula se manifestava sobre determinados temas, ele estabelecia parâmetros e tornava pública a posição do governo”, diz. “Já Dilma evita comentar e coloca os termos da negociação para dentro do seu staff de negociação.”

Ricardo Ismael avalia que a recente aprovação do salário mínimo de R$ 545 na Câmara, considerada por muitos a primeira vitória política de Dilma, reaproximou PT e PMDB, mas a relação entre ambos no futuro tende a ser conflituosa pela natureza dos partidos, que querem conquistar espaços, constituindo assim um potencial desafio para a articulação política da presidente.

Política externa

A postura mais discreta da presidente também é uma das principais diferenças do governo Dilma em relação à Era Lula em termos de política externa, na avaliação de especialistas em relações internacionais ouvidos pela BBC Brasil, que também apontam a adoção de uma agenda mais voltada para os direitos humanos.

O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola afirma que o novo governo – tanto por parte da presidente como do chanceler, Antonio Patriota – trocou o “personalismo” por uma atitude mais “institucional”.

Viola diz que considera Dilma e Patriota mais pragmáticos do que Lula e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, com uma atuação, segundo ele, mais voltada para resultados concretos e menos carregada de retórica e de componentes ideológicos.

Para Viola, a vinda ao Brasil do presidente americano, Barack Obama, marcada para março, é reflexo desta mudança de orientação. O professor avalia que Obama se afastou de Lula devido à aproximação do brasileiro com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

Na opinião de Viola, o governo Lula priorizava a troca de apoio para uma candidatura a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, sem condenar violações dos direitos humanos nos países com os quais se relacionava.

O especialista em Relações Internacionais da USP Christian Lohbauer também observa um estilo mais contido por parte de Dilma. Ele elogia a presidente por ter realizado poucos discursos desde a posse, além de ter indicado uma orientação mais voltada aos direitos humanos.

Exemplo disso, segundo Lohbauer, foi a condenação pública feita por Dilma à punição por apedrejamento adotada pelo regime iraniano, em entrevista ao jornal americano Washington Post, em dezembro passado.

Já Antonio Patriota, para Lohbauer, é um ministro com uma orientação bastante próxima de Celso Amorim, de quem foi vice-chanceler, mas com um perfil bem mais discreto, sem buscar ser um protagonista.

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