Pais de homossexuais falam do amor e das lições de respeito mútuo
Eles tiveram reações diferentes ao descobrir a homossexualidade dos filhos, mas se mantiveram inabaláveis na cumplicidade e agora têm motivos extras para celebrar no próximo domingo. O funileiro Juarez Martins, de 52 anos, de Viçosa, em Minais Gerais, jamais poderia imaginar que um dia estaria no alto de um trio elétrico em uma parada gay. […]
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Eles tiveram reações diferentes ao descobrir a homossexualidade dos filhos, mas se mantiveram inabaláveis na cumplicidade e agora têm motivos extras para celebrar no próximo domingo.
O funileiro Juarez Martins, de 52 anos, de Viçosa, em Minais Gerais, jamais poderia imaginar que um dia estaria no alto de um trio elétrico em uma parada gay. Para ele, a orientação do filho Daniel Arruda Martins, de 26 anos, foi assimilada inicialmente com dificuldade após ser partilhada com a família. “Nenhum pai educa o filho para que ele seja assim [homossexual]. No início eu me sentia culpado”, diz. Hoje, nem de longe o tema coloca a relação familiar em xeque. “Se os pais não estiverem ao lado dos filhos, quem estará? Ele é uma pedra preciosa para mim”, explica.
O representante comercial João Sávio Ferreira Braga, de Cuiabá, lembra que, antes de suas próprias expectativas e projeções, optou por acolher o filho Carlos Eduardo dos Reis Braga. Tanto que o filho mora com o namorado, também de 18 anos, na casa dos pais. “Exigi estudo, caráter, que não partisse para a vulgaridade e que ele fosse distinto”, lembra o pai cuiabano. “Sentar, conversar e ouvir meu filho. Isto é o que fiz. Acredito que foi a maior prova de amor que pude dar a ele”, afirma.
Em São Paulo, o industriário Ricardo Santana Reder, de 49 anos, precisou de ajuda que veio de fora da família. “Quando a gente descobre [a homossexualidade do filho], parece que o mundo desaba”, diz . Para o mineiro que chegou à capital paulista aos 18 anos, o conflito de aceitar o fato de ter um filho gay foi contornado com a ajuda do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), criado há 14 anos pela terapeuta Edith Modesto.
“Eles sofrem muito porque gostariam que os filhos fossem como eles. Ficam envergonhados diante dos amigos”, conta Edith. Após a ajuda da terapeuta e do grupo, a relação entre Reder e o filho é harmoniosa. “Deus nunca deixou apagar o amor que tenho pelo meu filho. O Victor não mudou nada, é um filho bondoso e nunca teve problemas. Isso tudo só nos aproximou”, diz o industriário.
Sem crises
O mecânico Antônio Luiz dos Santos, de 53 anos, se considera um pai coruja e diz não ter tido problemas com a descoberta da homossexualidade do filho, o técnico em enfermagem Kenidy Palácio, de 28 anos. “Eu não me intrometo na vida pessoal, sempre quis que ele ficasse à vontade”, disse Santos.
A mesma experiência viveu o diretor comercial Cezar Augusto Galvão Brandt, de 58 anos, pai da jornalista Maria Augusta Zeni Brandt. Ele diz que “em nenhum momento” se abalou com a orientação da filha. Para ele, é algo tão particular que não cabe discussão. Em sua opinião, os pais devem encarar como problema ter um filho dependente químico que não consegue se tratar, “sem educação, sem caráter ou que não respeita as pessoas e as opiniões alheias”.
“A gente não aceitou, a gente simplesmente entendeu”, explica Cezar. Apesar disso, ele sabe que a sociedade tem preconceitos e admitiu temer ações homofóbicas. “Eu peço para elas tomarem cuidado. Elas não têm o direito de impor, mas podem expor”, avaliou Cezar.
O aposentado Carlos Alberto, morador de Salvador, conta que percebeu que o filho precisava falar sobre o assunto. “Ele falava que não estava bem. Perguntei um dia se ele estava doente, se estava com algum problema, até o dia em que ele contou. Ninguém quer que seu filho seja gay, mas se foi o que ele escolheu, paciência. Trato ele como meu filho, só não abro mão do respeito”, diz o baiano.
Filhos orgulhosos
O cuiabano Carlos Eduardo dos Reis Braga, que chegou a ter quatro relacionamentos escondidos da família, comemora não ter mais que apresentar meninas aos pais para despistar a suspeita da homossexualidade e muito menos se refugiar na casa dos avós. Pelo contrário, celebra a defesa que recebe do pai.
“Ele disse aos amigos dele que se não me aceitassem, ele não mais frequentaria a casa de nenhum deles. Daí por diante eu senti que por mais que ele [pai] não me aceitasse 100%, ele me defendia de qualquer coisa”, observou o estudante. “Eu só tenho que agradecer. Muitos amigos foram colocados para fora de casa. Da parte dele, eu nunca senti aquele olhar de desprezo”, acentua o filho.
O baiano Thiago conta que também é defendido pelo pai de tudo e todos. Entretanto, soube dar suas contrapartidas e por isso adotou as “regras” do pai, que têm facilitado a convivência. “Meus pais conhecem meus amigos, recebem bem, gostam deles. Não levo ninguém para dormir em casa, isso ele [o pai] não gosta e eu respeito”, completa.
O estudante e dançarino Victor Vasconcelos Reder, de 18 anos, é enfático ao definir a importância do acolhimento paterno. “Parece que nasci de novo para o meu pai. É o homem da minha vida. Tem coisas que eu só conto para ele e não para minha mãe.”
No caso do mineiro Daniel, a melhor das notícias veio em agosto do ano passado. “O meu pai saiu de Viçosa e viajou durante quatro horas para encontrar comigo em Juiz de Fora para participarmos juntos da Parada Gay”. Martins conversou com os amigos do filho, vestiu, literalmente, a camiseta contra a homofobia e até subiu no trio elétrico. “Tenho orgulho do meu pai, da origem simples dele, de um homem que trabalhou na roça. Mesmo sem ter o recurso da informação, ele trata bem os meus amigos travestis, gays e lésbicas”, falou Daniel.
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