Moradores do interior morrem em busca de atendimento médico em Campo Grande

Quando a vida está por um fio no interior do MS, as famílias que dependem do tratamento público sabem que, antes de tudo, têm de recorrer à fé. É uma espécie de convivência forçada com o destrato, que varia da resignação à revolta, quando o desamparo resulta na perda de familiares e entes queridos. Dois […]

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Quando a vida está por um fio no interior do MS, as famílias que dependem do tratamento público sabem que, antes de tudo, têm de recorrer à fé. É uma espécie de convivência forçada com o destrato, que varia da resignação à revolta, quando o desamparo resulta na perda de familiares e entes queridos.

Dois casos recentes ocorridos em Porto Murtinho, nesse ano de 2011, retratam a situação que se espelha na maioria dos municípios carentes de atendimento público de saúde, principalmente nos casos emergenciais.

Um dos casos é o do jovem Edward Espindola, de 21 anos, falecido em 16 de janeiro. Ele foi ferido à faca numa festa da cidade. Logo no primeiro atendimento que recebeu, o Corpo de Bombeiro diagnosticou alta possibilidade de hemorragia interna no rapaz.

Quando ele morreu, no hospital de uma cidade vizinha, Caracol, a certidão de óbito indicou como causa da morte hemorragia interna, com falência do sistema cardiovascular. Mas não havia meios para estancar o sangramento e nem repor o sangue que se esvaia.

Pelo que o pai, Eládio Espíndola contou, tratou-se de uma sequência de horrores que combinou descaso, incompetência e falta de estrutura pública de saúde na região. A mãe, Sebastiana, que cuida dos dois netos pequenos e órfãos, ainda não caiu em si. Ela fala que a filha de Edward, quase um bebê, sente tanta falta do pai e se agarra às roupas dele.

No depoimento ainda sentido do pai e da mãe, toda a história do pesadelo que se abateu sobre a família, sem data para ser superado.

Recém nascida morre em ambulância, a caminho de Campo Grande

Outro caso envolvendo uma menina recém nascida tem tanta semelhança com a morte de Edward, que a hipótese de negligência médica eventual, ou isolada, pode ser descartada de saída.

A menina Yasmin, com cinco dias de vida, deu entrada no mesmo hospital municipal de Porto Murtinho com problemas de icterícia e febre. Foi consultada e teve alta imediata.

O avô, Carlos Alberto Gonzáles, inconformado com a perda da netinha, foi quem deu o primeiro alarme. “A menina não está boa, o médico não podia ter dado alta assim”, alertou. Providenciando a reinternação imediata, em busca de cura para Yasmin, jamais imaginaria que, um dia depois, estaria chorando a morte da primeira netinha.

A mãe Cristiane acredita que uma intubação mal feita, por técnicos de enfermagem despreparados, provocou uma ruptura interna nos órgãos respiratórios da recém nascida. O atestado de óbito descreve uma hemorragia interna nas vias respiratórias como uma das causas da morte da falência circulatória. Mas, como Edward, não teve chances de cura. E, estranhamente, recebeu dois atestados de óbito diferentes.

No caso do jovem, segundo o pai, a secretaria de Saúde de Porto Murtinho confirmou que ele teria tratamento em Caracol. Ao chegar lá, não havia médico e nem sangue para repor a hemorragia.

Yasmin, ao contrário, demorou tanto para ser transferida, que nem conseguiu chegar com vida a cidade vizinha, depois de hora de sofrimento è espera de remoção. Quando a ambulância parou na estrada, o motorista desceu e avisou à família que não adiantaria mais seguir em frente.

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