Dezenas de milhares de pessoas protestavam, neste sábado, em Moscou, contra a vitória do partido de Vladimir Putin, Rússia Unida, nas eleições legislativas de 4 de dezembro, que a oposição considera fraudulentas.

O movimento de contestação assegurou que pelo menos 120 mil pessoas foram às ruas da capital russa, enquanto a polícia só confirmou a participação de 29.000 manifestantes, segundo um comunicado.

O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev disse que Putin deve “partir agora”: “ele já teve três mandatos: dois como presidente (2000-2008) e um como primeiro-ministro – três mandatos já bastam”.

Apesar de não participar dos protestos, Gorbachev pediu ao governo que “reconheça que houve muitas falsificações e manipulações” nas eleições e reivindicou a realização de um novo pleito.

O premier Putin é candidato à presidência nas eleições de 4 de março de 2012.

Em 10 de dezembro, data do primeiro protesto, a polícia calculou em 25.000 o número de manifestantes, enquanto os meios de comunicação e a oposição mencionaram entre 50.000 e 80.000 pessoas.

Em São Petersburgo, segunda cidade do país, 4.000 pessoas foram às ruas protestar contra Putin, iniciativa seguida em Nijni-Novgorod (centro, entre 1.000 e 2.000 pessoas), Cheliabinsk (sudoeste), Samara (sul), Tomsk (centro) o Krasnodar (sul).

O protesto em Moscou terminou sem incidentes às 13H00 GMT (11h00 de Brasília), com a leitura de uma declaração que pediu “eleições antecipadas” e “a libertação de presos políticos”.

Os moscovitas se reuniram na avenida Sakharov, no centro da capital, capaz de abrigar de 55.000 a 60.000 pessoas, e onde se observou uma circulação constante.

Um dos líderes do movimento de protesto, Alexei Navalny, prometeu que “um milhão” de pessoas comparecerão ao próximo protesto que for realizado contra o regime de Vladimir Putin, ainda sem data prevista.

“Na próxima vez, conseguiremos mobilizar um milhão de pessoas nas ruas de Msoscou”, afirmou Nalvany, um popular blogueiro anticorrupção, que acaba de ser libertado após passar 15 dias detido por ter participado de um protesto proibido, no dia seguinte às eleições.

Na rede social Facebook foi publicada uma convocação para um novo protesto em 14 de janeiro contra um terceiro mandato de Putin, que foi presidente da Rússia entre 2000 e 2008.

O opositor Boris Nemtsov considerou oportuno, também, realizar um protesto em fevereiro, um mês antes das presidenciais, previstas para 4 de março.

Em Moscou, a oposição, aos gritos de “Putin, demissão”, conseguiu o apoio de personalidades de destaque da sociedade russa, de escritores, músicos, jornalistas e políticos ao famoso jogador de xadrez Garry Kasparov, que estava na avenida Sakharov.

Em meio aos manifestantes em Moscou também estava o ex-ministro da Economia Alexei Kudrin, que reivindicou “legislativas antecipadas” e denunciou a “falsificação dos resultados” das eleições, que o partido no poder, Rússia Unida, venceu com 50% dos votos.

“É preciso uma plataforma de diálogo porque senão haverá uma revoluão, porque senão perderemos a oportunidade que temos à nossa frente para (alcançar) uma mudança pacífica”, afirmou Kudrin, a quem Putin descreveu na semana passada como “um amigo”.

Os manifestantes exibiam cartazes denunciando o excutivo central junto a balões brancos – cor do movimento de protesto -, e cantavam palavras de ordem como “o poder do povo” e “Rússia sem Putin”.

“Entendemos que podemos nos mobilizar. É impossível deter uma multidão como esta”, afirmou um manifestante, Andrei Lujin, de 32 anos, simpatizante do partido de oposição.

Este movimento opositor sem precedentes desde a chegada ao poder de Vladimir Putin no ano 2000 se organizou pela internet, mobilizando tanto partidos nacionalistas de extrema esquerda, liberais, associações, ONG e celebridades do mundo da cultura e da TV do país.

Os opositores receberam, no sábado, o apoio do Conselho Consultivo para os Direitos Humanos no Kremlin, que criticou duramente a fraude nas eleições de 4 de dezembro.

O Conselho destacou, em um comunicado, que é “necessário adotar uma nova legislação eleitoral com o objetivo de organizar nesta base eleições legislativas antecipadas”, devido às “falsificações”.

A onda de descontentamento que varre a Rússia coincide com o propósito de Putin de tentar voltar à Presidência, cargo que deixou em 2008.