O nome do ex-comissário europeu Mario Monti surgiu nesta quinta-feira (10) como favorito para substituir Silvio Berlusconi no cargo de primeiro-ministro da Itália, num momento em que a crise da dívida no país ameaça toda a zona do euro.

Há várias semanas os mercados já falam em Monti como o nome mais indicado para comandar um governo de unidade nacional, que seria responsável por impor medidas de austeridade urgentes.

Fontes do partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade (PDL), disseram à Reuters que o premiê agora estava convencido de que seria melhor não convocar eleições, numa mudança brusca de posição.

Berlusconi anteriormente havia dito que via a antecipação das eleições como a única opção realista assim que renunciar ao cargo, o que ele disse que pretende fazer tão logo um pacote de reformas econômicas urgentes for aprovado pelo Parlamento, dentro de alguns dias.

Atenuando a crise política, o PDL parecia ter abandonado sua insistência de eleições antecipadas, e disse cogitar o apoio a um gabinete comandado por Monti.

“O PDL não pode simplesmente seguir o grito do núcleo duro por eleições… Há o interesse nacional, que vem antes de tudo”, disse o chanceler Franco Frattini ao jornal Corriere della Sera.

O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, nomeou na quarta-feira como Monti senador vitalício, num sinal de que deve convidar o acadêmico para tentar formar nos próximos dias um governo de base ampla.

A Itália passa por um teste econômico já nesta quinta-feira, quando o Tesouro deve lançar mais 5 bilhões de euros em títulos com vencimento para 12 meses. Na quarta-feira, os juros para esse tipo de papel se aproximaram dos 7 por cento, limite que especialistas consideram perigoso, e que já levou Grécia, Portugal e Irlanda a pedirem socorro internacional.

Num sinal da tensão, o geralmente sóbrio diário econômico Il Sole 24 Ore publicou na sua manchete, em letras garrafais, a frase “tenham pressa”, num apelo à classe política.

O líder da bancada parlamentar do PDL, Fabrizio Cichitto, disse à Reuters nesta quinta-feira que o partido estava analisando duas opções, pressionar por eleições ou apoiar um governo liderado por Monti, mas ainda não havia chegado a uma decisão.

Foi a primeira vez que o PDL disse que consideraria um governo de coalizão — uma opção à qual antes se opunha fortemente.

Na quarta-feira, Napolitano tentava desesperadamente acalmar os mercados, oferecendo garantias de que Berlusconi cumprirá sua promessa de deixar o cargo assim que o Parlamento aprovar reformas econômicas. Mas a pressão dos mercados continuou, e os juros sobre os títulos de 10 anos chegaram a cerca de 7,3 por cento.

Monti, de 68 anos, há muito tempo é citado como possível líder num gabinete pluripartidário de emergência – uma fórmula política que já funcionou em crises anteriores.

Respeitado economista, ele atualmente é reitor da prestigiosa universidade Bocconi, de Milão. Monti é visto como um negociador duro, que se habituou a enfrentar interesses corporativos poderosos na época em que foi comissário europeu na área de Concorrência.