Mayana Duarte (24) morreu vítima de acidente em junho de 2010. O que dirigia foi atingido por outro, a 110 km/h, no cruzamento com a rua José Antônio. Audiência com as testemunhas de defesa foi presenciada pelos três réus (foto)

Uma jovem cautelosa no trânsito, por vezes insegura, mas que dirigia sempre devagar. Assim Mayana Duarte (24) foi descrita por duas amigas que participaram de audiência na 2ª Vara do Tribunal do Júri, na manhã de quinta-feira (10) em Campo Grande. O temperamento calmo ao volante não impediu que ela fosse vítima de um grave na madrugada de 14 de junho do ano passado, e que causou sua morte.

Mayana conduzia um Celta pela rua José Antônio em baixa velocidade, e tinha o sinal verde quando foi atingida por um Vectra que trafegava a 110 quilômetros por hora na avenida Afonso Pena.

O carro era dirigido por Anderson de Souza Moreno, vulgo “Fuscão”, que está sendo acusado pela promotoria de participar de “racha” Willian Jhony de Souza Ferreira, que guiava um Uno. Ambos respondem a processo por homicídio com dolo eventual no trânsito, qualificado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Deborah Pereira Arantes dos Santos (24) foi ouvida como declarante e não como testemunha, devido aos fortes laços de amizade que alegou manter com Mayana. Relatou ao juiz titular Aluízio Pereira dos Santos que sempre foi a festas com a amiga, mas que nos últimos tempos já não saíam com frequência desde que seu filho nasceu, há pouco mais de um ano. Deborah disse que Mayana não tinha vícios, apenas fumava e bebia socialmente.

Depois do acidente, ela confirmou ter procurado informações sobre os acusados em sites de relacionamento, e encontrou fotografias de Anderson bebendo cerveja com amigos na balada. Mas, por causa de comentários negativos e até agressivos feitos contra Anderson, ele teria retirado conteúdo de seu perfil.

A outra amiga, Maria Clara Pinheiro Lino (21), contou que Mayana era uma pessoa alegre e querida por todos. Na noite dos fatos, ela admitiu que estava em companhia da vítima em um bar, mas não soube informar se ela teria ingerido bebida alcoólica. Mais cedo naquele dia, Maria Clara confirmou que tinha ido a um churrasco na casa de amigos, e Mayana também participou.

Vigias testemunharam acidente

Das seis testemunhas de acusação arroladas na audiência desta manhã, uma não compareceu e a promotoria desistiu da convocação. Os outros três eram seguranças ou vigilantes noturnos que trabalhavam em prédios próximos ao local do acidente.

Alexandre da Silva Flores relatou em juízo que estava em frente ao prédio onde trabalhava quando percebeu o Vectra e o Uno trafegando em alta velocidade pela avenida. Notou que o carro guiado por Anderson fez a ultrapassagem na altura do paço municipal, e logo abriu vantagem em relação ao automóvel dirigido por Willian.

Confirmou que o Vectra avançou o sinal vermelho no cruzamento da Afonso Pena com a 13 de Junho, a uma quadra do local do acidente, mas em razão da distância, não soube informar se o semáforo também estava fechado na José Antônio. Ao notar a colisão, Alexandre foi ao local e viu os dois carros envolvidos mais o Uno, estacionado a poucos metros.

Já o porteiro Edson de Freitas recorda que conversava com alguns colegas quando ouviu um “barulho de avião” na avenida. Nisto, o vigilante Vanderlei Barbosa Silva – também ouvido em audiência – comentou: “vai acontecer um acidente”. Segundos depois, veio a batida. Edson permaneceu na portaria, enquanto os outros foram ao local.

Os advogados de defesa questionaram o porteiro sobre o conceito de “racha”, pois ele tinha dito em depoimento à polícia que era comum ver carros em alta velocidade à noite pela avenida Afonso Pena. Edson avaliou que acima de 80 quilômetros por hora já seria alta velocidade, mas o Vectra estava além disso na opinião dele.

Ainda nesta tarde, serão ouvidas mais nove testemunhas – são policiais que atenderam a ocorrência e outras pessoas ligadas à família da vítima.

O juiz Aluízio Pereira dos Santos informou que na manhã de 28 de fevereiro serão ouvidas as testemunhas de defesa, além do interrogatório dos três acusados. Só depois irá proferir a sentença que pode ou não submeter os réus a júri popular.

Há um terceiro réu no processo, Kennethy Gonçalves Pereira da Silva, que está sendo acusado de falso testemunho. Ele teria tentado influenciar as investigações policiais.

A tia da vítima, Marinez Sandim, falou dos sentimentos da família em relação ao processo. “Foi difícil estar ali [na sala de audiência] porque revivemos todos os sofrimentos da família. O intuito não é obter vingança, mas sim que o caso sirva de exemplo para que as pessoas não saiam por aí impunemente, causando mais dor e sofrimento”.