Homem que teria incitado linchamento na Capital é posto em liberdade

Paulo Roberto Lopes era pai de um menino de 16 anos, morto a tiros por outro adolescente; pai do rapaz atirador apareceu no local e foi linchado até a morte por ao menos dez pessoas

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Paulo Roberto Lopes era pai de um menino de 16 anos, morto a tiros por outro adolescente; pai do rapaz atirador apareceu no local e foi linchado até a morte por ao menos dez pessoas

A Justiça concedeu nesta terça-feira o habeas corpus a Paulo Roberto Lopes, detido desde o dia 8 de dezembro passado por suposta participação no linchamento até a morte de um pintor de paredes no Jardim Anache, em Campo Grande.

A tragédia foi motivada por outro crime. O filho de Roberto Lopes, de 16 anos de idade, tinha sido morto baleado e o adolescente que o matou, fugido. No local, apareceu Daniel Delmondes dos Santos, 38, o pai do menino atirador, morto em seguida durante sessão de tortura e linchamento.

O advogado de Lopes, Júlio Cesar de Moraes disse que a Justiça concordou com a liberdade de seu cliente por acreditar que o linchamento teria sido provocado por moradores do bairro, não pelo pai do rapaz morto.

O defensor disse que Lopes deve deixar o presídio de Trânsito na tarde de hoje. Resta apenas a assinatura de papéis no fórum de Campo Grande, disse o advogado. O caso em questão foi um dos mais bárbaros ocorridos no ano passado, em Campo Grande. Além de Lopes, a polícia prendeu cinco adultos e dois adolescentes por envolvimento no crime. Testemunhas disseram que ao menos uma dezena de pessoas participou do linchamento.

O crime

De acordo com apurado pelos investigadores da Polícia Civil, o filho de Daniel Delmondes, o adolescente de 15 anos de idade, saiu de casa com uma arma na madrugada do dia 5 de dezembro. O menino teria chegado a casa com um revólver que não era dele e, por insistência da mãe, saiu para devolver ao dono.

O adolescente, apreendido no dia seguinte ao crime, seguiu por uma rua, a Dos Amigos, e nela teria encontrado com Lucas Pereira, 16, com quem manteve uma dura discussão por razão não revelada. Ele disse à polícia que fez um disparo, que matou Lucas. O menino fugiu logo em seguida.

Daniel Delmondes teria ficado sabendo que o filho havia saído armado e, segundo relato da mãe, o homem deixou casa e, de carro foi à procura do adolescente.

No caminho, Delmondes parou o carro, um Chevette assim que viu um grupo de pessoas ao redor do corpo de Lucas, que morreu ali no local.

De acordo com testemunhas, Delmondes, antes de descer do carro, foi agredido por Paulo Lopes, pai de Lucas. O veículo foi apedrejado.

“Agora é olho por olho, dente por dente”, teria dito Lopes. Delmondes foi agredido a socos, chutes e pedradas por ao menos dez pessoas. “Vamos conversar, resolver isso”, teria insistido o pintor de paredes.

Paulo Lopes e os amigos de Lucas, uns oito adolescentes, segundo cálculo das testemunhas ouvidas até agora, arrastaram Delmondes por ao menos cem metros. No trajeto, o pintor de paredes foi castigado com chutes e pedradas.

Delmondes foi arrastado até a frente da casa de Paulo, que teria entrado e pego uma faca. Um dos adolescentes apreendido após o crime teria aplicado quatro golpes e perguntado aos colegas “se alguém queria dar mais facadas”.

Nilson Roma, de 19 anos, preso após se apresentar na delegacia, teria dado mais dez golpes em Delmondes, já desacordado. De acordo com testemunhas, outros adolescentes também teriam esfaqueado o pintor de paredes.

Embora tenham dito que Lopes havia incitado o linchamento, as testemunhas disseram não ter visto ele desferir algum golpe na vítima. Após o crime, os acusados teriam também apedrejado a casa do rapaz atirador.

 

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