“Grãos” de polietileno e polipropileno vão parar no rio Paraguai

O rio Paraguai está sendo depósito para um derramamento de “grãos” de polietileno e polipropileno. Dois produtos petroquímicos utilizados na produção de tonéis, vasos, embalagens para filmes, plásticos para embrulhar roupas e caixas para bebidas. O empresário de turismo Carlos Nader, comandante da embarcação La Barca, denunciou o problema a este Diário e às autoridades […]

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O rio Paraguai está sendo depósito para um derramamento de “grãos” de polietileno e polipropileno. Dois produtos petroquímicos utilizados na produção de tonéis, vasos, embalagens para filmes, plásticos para embrulhar roupas e caixas para bebidas. O empresário de turismo Carlos Nader, comandante da embarcação La Barca, denunciou o problema a este Diário e às autoridades ambientais.

A maior concentração das “pelotas” de polietileno e polipropileno, despejada no rio Paraguai, é encontrada no Canal do Tamengo, aonde chegam através do córrego Arroyo Concépcion, que fica na faixa de fronteira da Bolívia com Corumbá.

Nader flagrou os resíduos na última semana e no sábado, dia 12, foi alertado por uma turista sobre a grande quantidade do produto boiando no rio, em meio aos camalotes, o que lhe chamou atenção e trouxe curiosidade. “Ela queria saber o que era aquilo que via na água, uma bolinha branca. Queria saber se era ‘ova’ de peixe”, contou.

“Desde terça-feira passada tenho observado esse resíduo. Na quarta-feira eu já vi em maior quantidade. Achei que fosse resíduo de reparo de alguma embarcação; material de PVC que é muito usado nas embarcações e, ao serrá-lo fica um resíduo, mas é de formato diferente desses”, disse o empresário. Os chamados “grãos” de polietileno e polipropileno encontrados no rio têm formato arredondado; são de tamanho pequeno e de coloração branca translúcida.

“É um crime ambiental e eu chamo atenção das autoridades competentes para resolver o problema. É um crime ambiental, repito. O polipropileno é resíduo de petróleo, isso no meio ambiente vai demorar muitos anos para se decompor”, afirmou Carlos Nader. Uma preocupação do empresário é que o produto vire alimentação dos peixes. “O produto está granulado e os peixes podem estar comendo”, argumentou o empresário de turismo. Segundo ele, o produto já teria sido encontrado na barriga de uma sardinha. “Isso precisa ser levado a sério e descobrir de onde veio”, complementou.

Ele informou ainda que os “grãos” translúcidos dos dois produtos químicos já começaram a causar problemas logísticos. “Estão por toda a orla portuária e, inclusive, entupiram o sistema de bomba de água de uma embarcação nossa no sábado”, finalizou.

Receita Federal foi notificada

Vistoria realizada na manhã desta segunda-feira, 14 de fevereiro, por uma equipe da Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário, da Prefeitura de Corumbá, encontrou a origem do derramamento de “grãos” de polietileno e polipropileno no rio Paraguai. De acordo com a fiscalização, o produto teve como ponto de origem o pátio da Receita Federal, na fronteira de Corumbá com a Bolívia. O órgão federal foi notificado.

“Estivemos na região de fronteira, no pátio da Receita Federal porque pelo histórico do produto já sabíamos qual era a origem. Estivemos lá e detectamos que havia o escorrimento desses grãos de polietileno e polipropileno, que são plásticos preparados para manipulação pela indústria para fabricação de diversos artigos plásticos”, explicou a este Diário o engenheiro químico da Fundação de Meio Ambiente, Luiz Henrique Manier.

O engenheiro disse que a vistoria constatou que os produtos foram esparramados no piso [do pátio da Receita] e foi detectada ainda a existência de “pelotas” dos produtos nas margens do córrego que fica na fronteira Brasil-Bolívia. “Detectamos na margem, a presença desses grãos, provavelmente arrastados do pátio pela chuva. É possível que tenha ido para o rio. Foi constatado que havia uma contaminação, digamos assim, das margens do córrego e constatada a origem”, afirmou o especialista, que não chegou a percorrer o rio Paraguai ontem. A reportagem, porém, encontrou os grãos no Canal do Tamengo ao percorrer o local em companhia do empresário de turismo, Carlos Nader.

Manier informou que como o material é plástico, o risco que existe, inicialmente é pelo fato de demorar “muitos anos” para degradar. “Ele não expele substância tóxica, não vai envenenar o rio nada disso. Só vai ficar lá até desaparecer”, argumentou o engenheiro químico.

“À primeira vista não é motivo de preocupação, não é produto que contamina o rio. Se tivesse um produto químico não industrializado; produto químico bruto, aí sim poderia criar problemas, nesse caso, o problema ambiental talvez seja se um peixe que engolir uma bolinha daquela, um pássaro, aí pode causar dano à fauna. Ao homem de modo geral não”, complementou.

A vistoria resultou em notificação para a Receita Federal. “Foi feito termo de notificação para a Receita Federal informando o problema e que são precisos ajustes para a contenção para que a água de chuva não arraste para o rio. A Receita deve se manifestar num prazo de 48 horas para resolver emergencialmente ou explicar o que vai ser feito”, finalizou o engenheiro responsável pela fiscalização.

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