O total de veículos no país mais que dobrou nos últimos dez anos e atingiu 64,8 milhões em dezembro de 2010, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) divulgado na quinta-feira (10).

Para neutralizar as emissões de gás carbônico da frota, o Brasil precisaria aumentar em mais de 11 vezes a cobertura de Mata Atlântica atualmente existente no território nacional, de acordo com cruzamento de dados do Denatran realizado por pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB) a pedido do G1.

O balanço do Denatran aponta que o Brasil fechou 2010 com exatos 64.817.974 veículos registrados. Em dez anos, o aumento acumulado é de 119%, ou seja, mais 35 milhões de veículos chegaram às ruas no período.

Segundo o órgão, essa seria a frota circulante no país e considera carros, motos, caminhões e outros tipos de automotores inseridos no cadastro desde 1990. Os dados do Denatran não desconsideram, por exemplo, eventuais proprietários que registraram o veículo, mas deixaram de circular e não deram baixa no registro.

Com base no número absoluto divulgado pelo órgão, foi realizado – a pedido da reportagem – uma projeção do total de gás carbônico (CO2) emitido pela frota durante um ano. A estimativa é do professor Genebaldo Freira, pesquisador e Diretor do Programa de Mestrado e Doutorado em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Ele explica que, “para fins de estimativa (resultado aproximado, fins pedagógicos) considerou-se que cada veículo roda, em média, 50 km/dia; que o combustivel majoritário é o gasol (mistura de gasolina e álcool) e que a média de emissão é de 150 g CO2 por km rodado”.

Com essas variantes, o pesquisador aponta que a atual frota emite anualmente 171,1 milhões de toneladas de CO2. “Seriam necessários 945 mil quilômetros de Mata Atlântica para neutralizar essas emissões (caso a frota toda estivesse rodando). Isso representa 11,1 % da superfície do País”, comenta o professor.

“Obviamente não temos essa biomassa disponível para efetuar esse trabalho. Logo, grande parte dessas emissões vai se juntar às outras e aumentar a concentração do CO2 na atmosfera”, comenta o professor. Atualmente, de acordo com dados da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, esse tipo de floresta ocupa apenas 1% do território brasileiro.

Um carro para cada 2,94 habitantes

Considerando o resultado do Censo IBGE 2010, que indica que a população é de 190,732 milhões, o país tem uma media de um carro para cada 2,94 habitantes.

O aumento na frota de veículos foi significativo também no período de 12 meses. Entre 2009 e 2010, as ruas brasileiras ganharam 5,456 milhões de carros, um crescimento de 9,19%. O aumento nos registros superou a produção do setor: em 2010, a indústria automobilística produziu 3,638 milhões de veículos, número considerado recorde.

Cidades

Segundo o Denatran, há carros licenciados em 5.567 cidades do país. As cidades no topo do ranking de veículos são São Paulo (6,390 milhões), Rio de Janeiro (2,063 milhões), Belo Horizonte (1,340 milhões), Curitiba (1,247 milhões) e Brasília (1,245 milhões).

De acordo com o levantamento do Denatran, a cidade de Afuá, no Pará, é cidade do país com o menor número de carros. Seriam apenas quatro para uma população de 35.017 pessoas, segundo o censo do IBGE em 2010. Entretanto, na cidade não circula nenhum carro.

O secretário municipal de meio ambiente de Afuá, Altemis Fernandes Monteiro, explica que a cidade, localizada no arquipélogo do Marajó, é toda construída sobre palafitas. A maioria de madeiras. “Não existe nenhum carro aqui. Os quatro devem ser carros da administração que circulam em Macapá e Belém para serviços administrativos”, disse. “O único meio de transporte aqui é a bicicleta. Deve ser a única cidade do país sem carros”, avalia o secretário. A cidade já foi destaque em reportagem do Jornal Hoje pela utilização da bicicleta como táxi.

Ranking dos estados

A lista dos estados brasileiros, de acordo com o tamanho da frota, segue a seguinte ordem: São Paulo (20.537.980 milhões), Minas Gerais (7.005.640), Paraná (5.160.354), Rio Grande do Sul (4.808.503), Rio de Janeiro (4.489.680), Santa Catarina (3.414.195), Goiás (2.428.705), Bahia (2.308.978), Pernambuco (1.774.389), Ceará (1.711.998), Espírito Santo (1.262.848), Distrito Federal (1.245.521), Mato Grosso (1.173.125).

Outros 14 estados somam frotas que não ultrapassam o total de 1 milhão de carros. São eles: Mato Grosso do Sul (972.529), Pará (969.667), Maranhão (796.083), Rio Grande do Norte (731263), Paraíba (698.556), Piauí (582.777), Rondônia (561.811), Amazonas (530.814), Alagoas (438.788), Sergipe (427.048), Tocantins (394.628), Acre (151.320), Roraima (125.451), Amapá (115.323).

Os dados nacionais ainda não consideram o primeiro mês de 2011. Entretanto, em São Paulo, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) divulgou que o total de veículos registrados até o dia 31 de janeiro era de 6,973 milhões. Em todo o estado chegavam a 21,672 milhões.

Projeção da poluição

Na quarta-feira (9), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou o 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários. A projeção do inventário é que, em 2009, tenham sido emitidas quase 170 milhões de toneladas de CO2.

O levantamento do ministério considera diversas variáveis e não é comparável com a projeção feita pelo professor da UCB a pedido do G1. Um dos acréscimos é a consideração do diesel como uma das fontes de combustível, fonte energética apontada como uma das mais poluentes. Segundo o levantamento, o Diesel responde por 53% da emissão de gás carbônico no trânsito no Brasil. Outras diferenças básicas dos cálculos são o tamanho da frota circulante e a intensidade do uso.

Segundo o MMA, as estimativas para 2020 apontam que o setor de transporte rodoviário poderá emitir cerca de 60% a mais do que em 2009, alcançando cerca de 270 milhões de toneladas de CO2. “Assim, do total dessas emissões em 2020, 36% virá da frota de caminhões, 13% de ônibus, 40% de automóveis (incluindo os veículos movidos a GNV), e 3% de motocicletas”, aponta o inventário.

Queda de emissões regulamentadas

O gerente do Departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Sustentabilidade da Cetesb, Carlos Ibsen Vianna Lacava, aponta o inventário do MMA como a projeção referência para o efeito da frota de veículos na questão ambiental. Ele lembra que o inventário trabalha com uma frota de 38 milhões, porque considera uma metodologia que busca avaliar a quantidade real de carros em circulação.

Com base nos números do levantamento e na experiência dentro do órgão paulista, o gerente afirma que estão sendo verificadas “ganhos ambientais” em relação à dimuição dos “poluentes tóxicos”. Segundo Lacava, é resultado de medidas como estabelecimento de limites mais rígidos para emissão do veículo em fábrica, políticas de regulagem (inspeção veicular) e fiscalização de fumaça preta em veículo diesel. Entretanto, ele admite que nem todos os gases apresentaram diminuição em comparação com o aumento da frota. “O fato concreto é que a gente tem ainda produzido ganhos ambientais, o que não é verdade para o caso dos gases de efeito estufa, cuja tendência é crescente”, diz.