Localizadas as caixas-pretas do Airbus que realizava o voo AF 447, entre Rio de Janeiro e Paris, uma etapa ainda mais complexa e delicada está em curso. O governo francês confirmou nesta quarta-feira (04), que uma equipe a bordo do navio Ile de Sein está tentando resgatar os corpos das 228 vítimas do acidente no Oceano Atlântico. A ordem para a tentativa de lançamento foi dada pela Justiça.

A confirmação foi feita à reportagem pelo embaixador Philippe Vinogradoff, diplomata destacado pelo Ministério das Relações Exteriores da França para manter contato com as famílias de vítimas. Na terça-feira, Vinogradoff enviou uma carta aos parentes informando que uma tentativa seria realizada com um dos corpos. Só então, diante do sucesso ou não da iniciativa, seria tentado o resgate dos restantes. “A decisão não foi tomada pelo governo francês, mas pela Justiça da França, que realiza a investigação judiciária”, disse o embaixador, confirmando: “A bordo, estavam se preparando para fazer uma tentativa.”

Vinogradoff, porém, diz não estar em contato direto com as equipes que estão no Atlântico, e logo garante não ter detalhes sobre se a operação já teve início ou não. Na França, a questão é tratada com a maior discrição possível, já que o assunto traumatiza as famílias – algumas das quais avessas à operação. Por essa razão, nenhum dos órgãos envolvidos na expedição no mar se manifesta a respeito.

Na Secretaria dos Transportes, a porta-voz do secretário Thierry Mariani, Marion Lamure, afirma que o assunto é da alçada do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA), que apura o acidente. Por sua vez, Jean-Paul Troadec, diretor do órgão, disse ao Estado que o tema não diz respeito ao escritório, mas à Justiça. E a Justiça da França, que tem oficiais a bordo – e não técnicos especializados no resgate -, não se pronuncia.

Há duas semanas, o Estado revelou que o governo francês havia advertido as famílias sobre a dificuldade de recuperar os corpos de vítimas depois de ouvir especialistas em medicina legal, que indicaram que o resgate seria tecnicamente muito difícil. Caso seja possível, entretanto, uma câmara fria a bordo do navio Ile de Sein garantirá o transporte até Caiena, na Guiana Francesa, de onde um avião partiria para a França, onde seria realizado exame de DNA.

No Rio de Janeiro, Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Familiares de Vítimas do Voo AF-447, mostrou-se inconformado com a tentativa de resgate em curso. Segundo ele, a operação tem de tentar trazer à superfície toda a estrutura do avião na qual estão presos os corpos de passageiros, e não tentar um a um. “Nós discordamos do procedimento. Queremos todos os corpos, porque as famílias precisam disso para realizar os sepultamentos e encerrar a vida das vítimas”, protestou. “Caso contrário, a operação só vai trazer mais indignação e sofrimento a todos.”