Diante do fracasso das negociações com o governo chileno para a reforma na educação, cerca de 100 mil estudantes saíram às ruas hoje (22) em sinal de protesto. E a trigésima quinta marcha em quatro meses de protestos. A paralização das aulas podem levar 70 mil estudantes a perderem o ano letivo. Houve violência por parte dos estudantes e da polícia, que usou jatos d’água e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Dezenas de estudantes foram detidos.

O porta-voz do governo, Andrés Chadwick, disse que a violência foi provocada por incidentes isolados e que os estudantes conseguiram, por meio de seus protestos, colocar a reforma educacional no topo da agenda presidencial.

O presidente Sebastián Piñera, que está em Nova York para participar da Geral das Nações Unidas (ONU), refereiu-se à crise educacional, assegurando que seu governo realizou “a maior reforma” na educação e está disposto a tomar mais medidas para melhorar a qualidade do ensino.

Os estudantes reivindicam educação gratuita e de qualidade para todos. No Chile, tanto as universidades públicas quanto as privadas são pagas. Muitos professores, como Maria Soledad Contreras, somaram-se ao movimento estudantil. “Terminei a universidade com uma dívida de US$ 25 mil. E o dobro do que ganho em um ano de trabalho. Levarei anos para pagar o banco”, disse a professora.

Os estudantes também exigem o fim do lucro nas instituições educativas, o que é assegurado por lei. Chadwick reconheceu que muitos donos de universidade burlam a lei montando imobiliárias e alugam seus prédios para obter recursos.

“Queremos que o governo proíba as escolas de lucrarem com a educação”, disse o líder estudantil Camillo Ballesteros. “Se o dono de uma escola privada pode contratar um professor para quarenta alunos e lucrar mais, por que vai contratar dois professores para a mesma quantidade de alunos? Especialmente se ninguém está fiscalizando a qualidade do ensino”.

A proposta de diálogo do governo para os estudantes não funcionou. Os estudantes alegam as suas exigêcias não foram atendidas: o governo deveria retirar os projeto enviados ao Congresso; suspender os financiamentos às escolas privadas que lucram com a educação; voltar atrás na decisão de suspender créditos e bolsas de estudo aos estudantes que não terminassem o ano letivo; e tornar pública a negociação sobre a reforma educacional.

Segundo os estudantes, o governo aceitou apenas publicar os temas discutidos e fiscalizar as universidades. “O governo decidiu estabelecer a sua autoridade e não cedeu em coisa alguma. Isso gera polarização”, disse o líder estudantil Giorgio Jackson. Por essa razão, acrescentou, as mobilizações continuarão.