Fórum Social Mundial: Países ricos não são sensíveis à fome, diz Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou países e líderes do G-20 nesta segunda-feira, 7, em Dacar, Senegal. “Eu participo do G20 (na verdade, não participa mais). Não pensem que lá tem sensibilidade para o problema da fome, para os pobres do mundo. Só fomos chamados para as reuniões dos países ricos porque eles […]

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou países e líderes do G-20 nesta segunda-feira, 7, em Dacar, Senegal. “Eu participo do G20 (na verdade, não participa mais). Não pensem que lá tem sensibilidade para o problema da fome, para os pobres do mundo. Só fomos chamados para as reuniões dos países ricos porque eles estavam em crise e precisavam da nossa ajuda”, disse.

Lula discursou nesta segunda-feira, 7, como destaque da 11ª edição do Fórum Social Mundial, que tem como tema “As Crises do Sistema e das Civilizações”.  ”Essas reuniões são nosso encontro com as ideologias que diziam estar perdidas. No Fórum nos reunimos para dizer que um outro mundo é possível e necessário. Esse é um sonho que não vamos abandonar nunca”, disse.

O ex-presidente ainda criticou os EUA. Segundo ele, a Rodada Doha só não foi finalizada em 2008 porque os EUA não quiseram. “Mas essa não é uma briga só de presidentes, também de ativistas como vocês”, acrescentou. Lula ainda condenou a especulação sobre preços e matéria prima.

Em sua fala, Lula também destacou as conquistas sociais de seu governo, como a criação de 15 milhões de empregos com carteira assinada e o “maior salário mínimo em 40 anos”, entre outros exemplos.

O ex-presidente também criticou “aqueles que pregavam o fim da história”. “É cada vez mais forte a consciência de que o Consenso de Washington faliu. Aqueles que com arrogância nos davam insttruções não evitaram a crise. Hoje somos parte essencial e incontornável da solução da crise internacional”, afirmou.

Até recentemente predominava a tese de que o desenvolvimento só era possível para uma pequena fatia da população, qualquer esforço para afrontar a pobreza era visto, e ainda o é, como assistencialismo e populismo. A história está se encarregando de desmentir essas teorias. Felizmente já não predomina a tese do estado mínimo, mas não podemos substituir um neoliberalismo que faliu por um nacionalismo primitivo e autoritário”, acrescentou.

África

Lula fez um discurso bastante direcionado à África, continente sede do evento. “É hora de colocar o desenvolvimento e a democracia no centro da agenda africana e mundial”. Segundo ele, o mundo desenvolvimento precisa dos país emergentes para sair da crise, e a saída para isso é incorporar os cidadãos africanos à economia mundial. Segundo ele, que “mais do que ajuda, a África precisa de oportunidade”.

O brasileiro lembrou ainda que o Brasil tem a segunda maior comunidade negra do mundo, só atrás da Nigéria, com oitenta milhões de afrodescendentes. “Nos 29 países que visitei como presidente constatei a vitalidade com que esse continente irmão afirma seu desenvolvimento, sem ingerências externas e com democracia”, disse. “A África tem um futuro extraordinário, e esse futuro está chegando”, completou.

Lula ainda pediu ajuda para que a África alcance a independência na sua produção de alimentos. ‘Não há soberania real sem soberania alimentar’, afirmou.

O ex-presidente também falou de passagem sobre os eventos das últimas semanas na Tunísia e no Egito e chamou os protestos de “ventos que sacodem o norte da África”. Lula voltou a se desculpar pela escravidão no Brasil, como já havia feito em 2005.

Lula também pediu, e foi muito aplaudido por isso, o reconhecimento de um estado palestino que seja “economicamente viável, socialmente integrado e que esteja em paz com Israel”.

Além de Lula e dos chefes de Estados africanos, as personalidades mais aguardadas na Universidade Cheikh Anta Diop, centro dos eventos, são o músico Gilberto Gil, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e duas presidenciáveis do Partido Socialista da França, Martine Aubry e Ségolène Royal. O governo brasileiro é representado pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que vai chefiar a delegação e terá a companhia das ministras de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros.

Em sua primeira viagem ao exterior desde que deixou a Presidência, Lula não integra a comitiva oficial, mas tem status privilegiado no evento – no qual foi ovacionado no ano passado. Em 2010, em Porto Alegre, ele prometeu ir a Dacar na posição “de uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao país as coisas que têm de ser feitas daqui para a frente”.


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