Exposição itinerante mostra qual é a cor dos sonhos de crianças que vivem em abrigos

O projeto foi desenvolvido junto a crianças e adolescentes de cinco abrigos de Campo Grande e resultará na exposição, a partir do dia 29, dos livros-arte feitos durante oficinas.

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O projeto foi desenvolvido junto a crianças e adolescentes de cinco abrigos de Campo Grande e resultará na exposição, a partir do dia 29, dos livros-arte feitos durante oficinas.

Encarar a realidade e superar os desafios de forma lúdica é a proposta das oficinas A Cor de Um Sonho, ministradas pela artista plástica e arte educadora Ana Ruas, e que tem como tema a obra Enquanto Mamãe Não Vem, da procuradora de Justiça Ariadne Cantú.

O projeto foi desenvolvido junto a crianças e adolescentes de cinco abrigos de Campo Grande e resultará na exposição itinerante dos livros-arte feitos durante as oficinas, realizadas entre os dias 17 e 20 de outubro.

A exposição começa pelo Marco (Museu das Artes Contemporâneas), no dia 29 de outubro, e tem duração de uma semana. Logo após, viaja pelo interior de Mato Grosso do Sul, até voltar às instituições de origem. O projeto é uma parceria da editora Alvorada, que em 2011 lançou a segunda edição do livro Enquanto Mamãe Não Vem.

Para Ariadne, além de trabalhar a imaginação das crianças nas oficinas, o principal resultado esperado através da exposição é que os sonhos delas sejam vistos pela população. “Queremos sensibilizar a sociedade para essas causas tão importantes, proporcionando uma maior ampliação do leque de possibilidades que essas crianças têm de serem adotadas, e visibilidade social dessa problemática”, explica a procuradora.

A Cor de Um Sonho

Ana Ruas estimulou a imaginação das crianças com a história do labirinto e da formiga. “O labirinto é confuso e às vezes nos perdemos dentro dele, mas sempre terá uma entrada e uma saída. E a formiga é um inseto determinado, ela pode até encontrar obstáculos no meio do caminho, mas desvia e segue seu objetivo”, explicou Ana.

Com esta didática, a artista propôs às crianças que desenhassem um labirinto e na entrada um personagem, que representaria a cada um, e no final do caminho o sonho delas, ou seja, aquilo que elas mais gostariam que acontecesse em suas vidas.

Com papel, canetinha e tinta em mãos, as crianças deram asas à imaginação e começaram os desenhos.  No alto da folha um personagem, e um caminho cheio de manobras o levava à saída. Salvo raríssimas exceções, a maioria desenhou a família no final do labirinto.

Algumas nem sabiam ao certo quem procuravam, mesmo assim o desenho era representado por alguém que se assemelhava à família. “Essa sou eu, e esse outro eu não sei”, diz uma criança de 9 anos, que tem a resposta atravessada por outra menina de 7 anos. “É a pessoa que ela está procurando, acho que é o irmão dela”.

Duas figuras femininas compunham o desenho de uma adolescente de 15 anos. Entre elas, um percurso cheio de quinas e voltas. “Acho que vai ser difícil eu reencontrar minha mãe”, diz a garota, que há quatro meses mora no abrigo. Enxugando as lágrimas e com o olhar mirando para o chão, a menina contou por quê foi separada da mãe: “Ela era usuária de drogas”.

Enquanto Mamãe Não Vem

O livro Enquanto Mamãe Não Vem conta a história de Juliana, uma menina que mora com a avó, Benê, e, na escola, conhece Lara, uma garota que vive no abrigo. Do convívio e troca de experiências nasce uma forte amizade, que, no livro, tem o final feliz com a adoção de Lara pela avó Benê.

Baseado em histórias que a própria autora vivenciou durante o período em que trabalhou na área da Infância e da Juventude, Ariadne diz que são fatos reais que ela pegou para compor a fantasia. “O desejo de toda criança que está institucionalizada é ser adotada. Muitas delas já me olharam e disseram: ‘tia, arruma um pai pra mim’”.

A obra-tema da oficina retrata a realidade de crianças que vivem ou vivenciaram algum tipo de abandono. “As crianças dos abrigos são vítimas de violência doméstica, foram tiradas dos pais pelo Poder Judiciário, e a maior agressão cometida contra um ser humano é separá-lo de sua família, principalmente no desenvolvimento da infância”, diz Ariadne.

Para ela, a sociedade só se preocupa com adolescentes que furtam, com o rebaixamento da idade penal. “Mas todo adolescente infrator é vítima de uma desestrutura familiar, já foi uma criança abusada, que não tinha creche, atendimento à saúde, filho de pais negligentes, e esses não incomodam ninguém, a sociedade não vê, e é para isso que será feita a exposição”, explica a procuradora.

Na capa do livro a autora estampa a frase “aprendendo que nem tudo na vida é cor-de-rosa”, mas defende que busca mostrar às crianças que, apesar disso, podemos pintar a vida com outras cores igualmente alegres. “Então percebemos que as crianças podem superar”, diz Ariadne, com um sorriso esperançoso no rosto.

Adoção

Em 2011, até o final de setembro, foram deferidas 51 adoções em Campo Grande, e atualmente há 21 crianças e adolescentes que esperam ser adotados. Segundo a juíza da Infância e da Juventude, Katy Braun, 96% das pessoas que desejam adotar procuram crianças com até 5 anos de idade, independentemente de raça e cor, e que não tenham irmãos.

Quem tem interesse em adotar deve procurar a vara da Infância e Juventude da cidade e se submeter a um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude.

Durante essa preparação, os candidatos a pais têm conhecimento das crianças disponíveis para adoção e, com o auxílio de um assistente social e de uma psicóloga, definem o perfil da criança desejada, como idade, raça, cor e condições de saúde.

Após a etapa de preparação, a pessoa deve apresentar um pedido com cópia no qual conste qualificação completa, dados familiares, cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de união estável, cópia da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas, comprovante de renda e domicílio, atestados de sanidade física e mental, certidão de antecedentes criminais e certidão negativa de distribuição cível.

De acordo com a juíza, os pretendentes a pais adotivos são entrevistados por assistente social e psicólogo e algumas vezes ouvidos em audiência para demonstrar que possuem capacidade e preparo para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável.

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