O presidente do Egiro, Hosni Mubarak, vai falar à nação, de seu palácio no Cairo, na noite desta quinta-feira (10), disse a TV estatal.

Ele falaria às 22 locais (18h de Brasília), segundo um porta-voz citado pela rede CNN, mas ainda não havia confirmação oficial do horário.

O discurso ocorrerá em meio a vários relatos, muitos contraditórios,  de que o contestado Mubarak iria renunciar, depois de 17 dias de fortes protestos de rua contra seu regime, que já dura 30 anos no país.

A TV estatal mostrou imagens de Mubarak, de 82 anos, reunido com seu vice-presidente, Omar Suleiman. Mas não estava claro se a transmissão era ao vivo.

O alto comando das Forças Armadas estava reunido, também segundo imagens mostradas pela TV estatal.

De acordo com a rede Al Jazeera, é apenas a terceira vez na história que isso ocorre -as anteriores foram em 1967 e em 1973.

O Exército anunciou em um comunicado que começou a tomar medidas necessárias “para proteger a nação e para apoiar as legítimas demandas do povo”.

Dezenas de milhares de manifestantes continuavam reunidos nesta quinta na Praça ahrir, que se tornou um símbolo dos protestos, exigindo a saída de Mubarak.

O ambiente é agitado e alegre entre os manifestantes depois do anúncio do Exército.

Cada vez mais gente chegava à praça depois do anúncio.

Essam al-Erian, representante da Irmandade Islâmica, principal força de  oposição disse temer que um golpe militar esteja sendo tramado no país. Mas depois ele se retratou e afirmou que “ainda é cedo” para falar sobre a situação.

Mais cedo, o premiê do Egito, Ahmed Shafiq, disse à rede britânica BBC que Mubarak poderia renunciar e que a situação no país seria esclarecida em breve. A declaração iniciou uma guerra de versões.

Mais tarde, na TV estatal, o recém-nomeado Shafiq disse que nada havia mudado no governo. “Nenhuma decisão foi tomada. Tudo está normal”, disse. “Tudo ainda está nas mãos do presidente.”

Hosam Badrawi, secretário-geral do partido governista, disse também à BBC que Mubarak poderia “responder aos pedidos do povo” por sua saída imediata. Ele disse que a saída, transmitindo o poder para o vice, seria “a coisa certa a fazer”.

Sem citar fontes, a americana CNN afirmou que Mubarak poderia transferir seu poder de chefe militar ao Exército. A também americana NBC afirmou que o presidente deve renunciar ainda na noite desta quinta-feira.

O Egito está quatro horas à frente do horário brasileiro de verão no fuso horário.

Uma fonte do ministério egípcio, que não se identificou, disse à agência Reuters que Mubarak “muito provavelmente” deve renunciar.

A CIA, principal agência de inteligência dos EUA, também trabalha com este cenário. Leon Panetta, chefe da agência, disse em audiência no Congresso dos EUA que a saída imediata seria significativa para uma “transição ordeira”. Panetta disse não ter confirmação da renúncia, mas apenas “relatos”.

A TV Al Arabiya disse que Mubarak iria anunciar “procedimentos constitucionais” antes de entregar o poder ao vice, Omar Suleiman.

A Al Arabiya também afirmou que o Exército “agirá” se os manifestantes recusarem um plano para transferir o poder.

Mubarak teria viajado para Sharm el-Sheikh, resort às margens do Mar Vermelho onde tem residência, com seu chefe de gabinete, também segundo a TV Al Arabiya. Ainda não houve confirmação oficial dessa informação.

O jornal britânico “Guardian” e a rede Al Jazeera disseram que o discurso que será televisionado nesta noite já teria sido gravado.

Mubarak, segundo os mesmos relatos, já teria saído de Sharm El-Sheikh.

O presidente mantém o poder e não irá renunciar, disse à Reuters, em duas ocasioes nesta quinta, o ministro da Informação do Egito. “O presidente ainda está no poder e não está renunciando”, disse Anas el-Fekky. “O presidente não está renunciando e tudo o que ouviram são rumores da mídia.”

Pressionado

Mubarak enfrenta 17 dias de crescentes protestos de rua que pedem sua saída imediata.

Apesar da crescente pressão interna e internacional contra o regime, Mubarak anunciou que só sairia do poder em setembro, para quando estão marcadas eleições. Ele disse temer que o país virasse um “caos” no caso de sua saída antecipada.

Uma negociação com a oposição começou no domingo (6), com o recém nomeado vice-presidente Suleiman representando o governo.

Mas as concessões do regime, feitas a conta-gotas desde então, foram recebidas com ceticismo pelos diversos grupos envolvidos -incluindo a poderosa Irmandade Muçulmana-, e as conversas pouco avançaram.

Os protestos deixaram pelo menos 300 mortos e 5.000 feridos no país, segundo levantamento das Nações Unidas. Ativistas denunciaram nesta quinta que o Exército teria cometido abusos contra ativistas presos.