Uma entrevistada disse que votou numa candidata “morena”, outra que o esquecimento se dá pela “correria” do dia a dia

Que o brasileiro tem memória curta isso é uma máxima. Esse velho bordão pode ser comprovado por uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha que em apenas 15 dias após as últimas eleições revelou que 30% do eleitorado já havia esquecido os candidatos em que haviam votado para deputados federal e estadual.

Hoje, há nove meses após as eleições e sem dados oficiais não é difícil saber que os números não mudaram.

A reportagem foi às ruas da Capital morena conversar com a população para saber se ainda recordam em quem votaram nas eleições do não passado, que escolheu o governador, deputados estaduais, federais e senadores.

O funcionários público Henrique Martins, 45 anos, até lembrou-se do partido que o candidato que ele votou era, mas não lembrava o nome. “Eu lembro que votei num político que era do PPS, mas não lembro o nome dele. Eu votei porque li um santinho com as proposta e achei interessante”.

Já a estudante de Direito Paula Regina de Almeida, 25 anos, disse que mudou sua zona eleitoral para Campo Grande no ano passado só para votar, mas mesmo com o empenho de exercer sua cidadania ela não lembra em quem votou.

“Parece até brincadeira, mas eu não lembro em quem votei, nem do partido que ele era. Isso é feio de dizer, mas depois da eleição nós não temos o ‘feed back’ deles e acabamos pela correria da universidade e trabalho não acompanhando os políticos”, justifica.

O estudante de ensino médio Carlos Villela dos Santos, 17 anos, disse que tirou seu titulo de eleitor ano passado só para votar, mas também não se lembra muito bem em que votou. “Eu não lembro o nome dela, mas sei que ela foi eleita e está na Câmara. Lembro que ela é uma morena, mas não lembro o nome dela”, argumenta.

O engenheiro civil Paulo Celso de Camargo, 28 anos, disse que lembra em quem votou nas eleições do ano passado e diz fiscalizar os trabalhos dos políticos. “Eu votei no Mandetta [eleito pelo DEM] para federal, no Zeca para governador [candidato petista que perdeu para o reeleito André Puccinelli, do PMDB], estadual foi no Jerson [eleito], presidente foi no Serra e para senador foi no Delcídio [eleito pelo PT]. Sempre quando posso eu leio as reportagens sobre política para saber o que eles estão fazendo com o voto que eu confiei a eles”, finaliza.

Há um ano e quatro meses para as próximas eleições e com diversos nomes para disputar a prefeitura de Campo Grande os eleitores ainda ficam divididos em quem vão votar e também nem lembram em quem votaram nas eleições passadas.

Atualmente, Campo Grande tem vários pré-candidatos para disputar o executivo municipal sendo eles: Paulo Siuffi (PMDB), vice-prefeito Edil Albuquerque (PMDB), deputado Marquinhos Trad (PMDB), secretário de Habitação Carlos Marun (PMDB), além dos deputados federais, Luis Henrique Mandetta (DEM), Reinaldo Azambuja (PSDB), Edson Giroto (PR), vereador Atayde Nery (PPS) e o deputado estadual Alcides Bernal (PP).

Análise

Segundo o cientista político da Universidade de Brasília José Pennafort, “o esquecimento dos eleitores em quem votaram nas eleições está relacionado à decisão de voto do eleitor que por vezes não segue uma estrutura lógica não há por parte do eleitor médio um envolvimento nas campanhas políticas, com análise de propostas e comparação de candidatos, pelo contrário, nestes períodos há um reforço do rechaço à política e ao envolvimento nas campanhas, por isso grande parte faz sua decisão de voto no dia do pleito.

Para o cientista, se perguntar para um eleitor que considera mais balizado politicamente, em geral alguém com um grau de instrução maior ou que, nas conversas informais apresenta posições políticas mais definidas, ele vai sugerir nomes para votar.

Ele lembra que é comum em famílias filhos perguntarem aos pais ou vice-versa em quem votar e, no limite, escolhem algum santinho jogado no chão no dia da eleição e utilizando critérios variados como numero mais interessante, melhor fotografia, aquele que não teria condições de ganhar e atribuem seu voto.

Pennafort explica que isso se dá pelo “distanciamento que os partidos políticos estabeleceram com a população, não envolvendo cidadãos e cidadãs no processo político durante os anos não eleitorais”. Segue o estudiosos: “não há um treinamento em política, que dizer, as pessoas não são chamadas a se manifestarem periodicamente em questões de ordem política, seja nas instancias de poder, seja nos próprios partidos”.

Há autores que dizem que há falta de associativismo, as pessoas estão cada vez menos envolvidas em processos coletivos de decisão o que não reforça a idéia de participação democrática e, muito menos, política.

Para Pennafort, o voto distrital poderia ser uma saída para que o eleitor lembre em quem votou já que em tese é um voto que aumenta o personalismo, porém hoje já vivemos uma certa condição de personalismo político e as pessoas continuam não lembrando em quem votou. As pessoas vão olhar mais para os candidatos que para os partidos.

“Mas se você observar este fato ocorre também com eleições majoritárias, como senador e governador, as pessoas também não lembram em quem votou”, disse ele.

O cientista explica que o voto distrital aumenta o personalismo e enfraquece o partidarismo, porém a participação política não está ligada a forma de votar se em lista partidária ou candidato, mas no envolvimento nas campanhas.

A situação seria mais ou menos como hoje, se a decisão de voto for tomada no dia do pleito. Além disso, o voto distrital no Brasil geraria distritos muito grandes geograficamente o que poderia ainda assim manter um distanciamento entre candidatos e eleitores.