Apesar da promessa de cessar-fogo imediata anunciada nesta sexta-feira (18), forças do governo da Líbia continuam a atacar fortemente a cidade Misurata, provocando a morte de pelo menos 25 rebeldes, indicam testemunhas à imprensa internacional.
Abdulbasid Abu Muzairik, residente na cidade costeira no leste do país, disse à rede árabe Al Jazeera que houve bombardeios de artilharia e tanques.
– As forças de [Muammar] Gaddafi estão na periferia da cidade, mas eles continuam a bombardear o centro. O cessar-fogo não está acontecendo, ele [Gaddafi] continua a matar o povo da cidade.
Mohamed Ali, um membro do Conselho Nacional de oposição na cidade, descreveu cenas de guerra à Al Jazeera.
– Não há cessar-fogo em Misurata. Bombas estão caindo por toda a cidade agora, enquanto falamos. Esse ditador assassino começou os ataques de madrugada em todas as direções.
De acordo com Ali, Misurata é a última cidade-chave da oposição e Gaddafi está empreendendo a mesma ofensiva sangrenta que operou em Az Zawiyah dias antes.
As localidades ficam no leste do país, reduto tradicional dos opositores e onde um conselho de transição foi instalado após o início dos protestos, em fevereiro.
Oposição e comunidade internacional desconfia de cessar-fogo
Segundo o jornal britânico The Guardian, o Conselho Nacional opositor em Benghazi rejeitou o cessar-fogo enquanto os ataques continuaram.
Também descrente da promessa anunciada pelo ministro das Relações Exteriores Moussa Koussa, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse mais cedo que o ditador Gaddafi tem de sair do poder e que os EUA não se impressionarão por palavras, mas esperam atos honrem o que prometeram.
A União Europeia (UE) disse estar estudando o cessar-fogo, segundo a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. Ela acrescentou que os ministros de Exteriores da UE decidirão “um conjunto de medidas arrumadas”, em referência a novas sanções contra o setor de petróleo e gás líbio, depois o Conselho de Segurança (CS) da ONU ampliou o espectro de medidas contra o regime líbio.
Gaddafi diz que criará um “inferno” se Líbia for atacada
Em uma entrevista à Rádio Televisão Portuguesa” (RTP), na qual advertiu que um conflito como esse acabaria com a segurança no Mediterrâne, Muammar Gaddafi assegurou que criará um “inferno” sobre quem atacar.
– Se o mundo atua como um louco, nós faremos o mesmo. Vamos responder. Também faremos de sua vida um inferno. Nunca terão paz. A região do Mediterrâneo ficaria danificada, destruída, não haveria nenhuma circulação segura nem marítima nem aérea.
Na entrevista, Gaddafi se mostrou convencido de que o povo de Benghazi, onde se concentram os rebeldes contra seu regime, é fiel a ele e quer ser libertado dos “agentes de [Osama] Bin Laden”.
– O povo de Benghazi está conosco, está comigo, nos pedem que vamos libertá-los. Estamos combatendo o terrorismo, que é um inimigo para a Líbia e para o mundo.
Perguntado sobre possíveis negociações para acabar com o conflito que vive seu país, Gaddafi se perguntou primeiro com ceticismo: “Com quem?”, embora mais adiante tenha expressado sua disposição, “se for necessário”, de conversar com os “terroristas”.
O dirigente líbio também rejeitou a intervenção do Conselho de Segurança da ONU e afirmou que não reconhece suas resoluções porque não há uma guerra entre dois países que a justifique.