Assim que recebeu o documento da Comissão de Ética Pública da Presidência da República com a recomendação de exonerar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se com um grupo mais próximo de auxiliares para avaliar qual posição tomar e mandou avisar ao ministro sobre a recomendação de exonerá-lo feita pela comissão. A primeira avaliação indicava que a situação de Lupi ficou extremamente delicada, e a sinalização era a de que já não há mais a sobrevida dada a ele até a reforma ministerial de janeiro. Lupi não quis se manifestar, mas entre políticos de oposição, governistas e até pedetistas sua situação já era considerada insustentável. Segundo interlocutores, Dilma disse que vai decidir sem pressa e sem pressão.

Mas nesta quinta-feira, antes de viajar para Venezuela, Dilma quer fazer nova reunião de avaliação política do quadro. Auxiliares palacianos consideravam que a saída seria Lupi pedir demissão. Assim, a presidente nomearia um interino para comandar o Trabalho até a reforma ministerial.

A recomendação da Comissão de Ética deixou a presidente numa saia-justa, segundo interlocutores, já que ela pretendia fazer a mudança no Trabalho na reforma ministerial. Lupi disse, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria enquanto não tivesse acesso ao conteúdo da decisão.

No PDT, a decisão foi recebida com surpresa, mas, de imediato, pedetistas afirmavam, reservadamente, que o melhor para o Lupi e para o partido seria ele entregar o cargo imediatamente. E reforçaram a constatação de que foi um erro Lupi não ter saído antes.

Surpreso com a notícia, o líder do PDT na Câmara, deputado Giovanni Queiroz (PA), afirmou:

– Com essa recomendação da Comissão de Ética Pública, temos que parar para avaliar o que devemos fazer. Me surpreendeu essa decisão, até porque não há prova clara do comprometimento ético de Lupi.

O deputado Paulinho da Força (PDT-SP) criticou a decisão e acusou a comissão de perseguir Lupi.

– A Comissão de Ética sempre perseguiu Lupi e continua perseguindo o ministro. Essa comissão é muito politizada. Não sei se Dilma vai levar em consideração essa recomendação. Mas, para mim, ela não deveria considerar. Aliás, não sei para que existe essa Comissão de Ética – disse.

O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) disse desconhecer as razões da Comissão de Ética e acrescentou que Lupi tem prestado todos os esclarecimentos. Ontem, ao longo do dia, Lupi conversou com vários parlamentares, avisando que, na próxima semana, levará à Câmara todas as informações em seu novo depoimento.

– O ministro Carlos Lupi não tem se furtado a dar os esclarecimentos.
 

“A decisão é da presidente”, diz o líder do governo no Senado

A oposição quer a saída imediata de Lupi. Líder do PSDB, o deputado Duarte Nogueira (SP) disse que isso é inevitável:

– O ministro não tinha qualquer condição de permanecer no cargo já há algum tempo. O que mais, além desse posicionamento da Comissão de Ética, a presidente Dilma está esperando? Isso só comprova que a faxina não existe. A presidente apenas reage e, neste caso, perdeu o timing.

Nem os líderes do governo esconderam a surpresa. No auge das denúncias de desvio de recursos em sua pasta, Lupi desafiou Dilma a demiti-lo e disse que era preciso uma bala muito forte para derrubá-lo. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou acreditar que a recomendação da comissão forçará o governo a se posicionar. E não perdeu a piada:

– Não sei se é fatal, mas (a decisão da comissão) é uma bala. A comissão é autônoma. É uma ação que surpreende e causa uma questão dentro do governo. Mas a decisão é da presidente. Sem dúvida, é um fato relevante e negativo que cria problemas internamente no governo.