Produtores estariam usando passagens ilegais em rios, como o Apa (Bela Vista) e Murtinho (Paraguai) e na fronteira seca. Secretária Tereza Cristina acha “complicadíssimo” manter presença constante de fiscais.

A proibição da entrada de animais do Paraguai em território de pelo governo estadual não tranquiliza os pecuaristas do estado. Denúncias de que gado do país vizinho, onde foi detectado um foco de febre aftosa, continuariam com facilidades para entrar em MS deixa os produtores rurais temerários de que se repitam os prejuízos de 2005.

O Governo de Mato Grosso do Sul decidiu proibir a entrada de animais, veículos com produtos e subprodutos orgânicos e agropecuários que venham do Paraguai. O decreto nº 13.267 foi assinado pelo Governador André Puccinelli na última sexta-feira (23) e publicado no Diário Oficial desta segunda (26), mas produtores dizem que em algumas regiões o fechamento sanitário da fronteira é facilmente driblado.

As denúncias são de que gado do lado Paraguaio continuaria passando para o Brasil, mesmo com as barreiras que foram montadas. Entre as passagens ilegais, produtores do país vizinho estariam transportando os animais por meio de rios, como o Apa (Bela Vista) e Murtinho (Paraguai) e pela ampla fronteira seca.

Flagrante nacional

Na semana passada, exatamente no dia da visita do Ministro da Defesa (Celso Amorin) ao Estado, na quinta-feira (22), a reportagem do jornal o Estado de São Paulo registrou uma boiada cruzando a fronteira a menos de 30 kms do bloqueio montado pelo Exército.

O flagrante ocorreu na área de influência do foco de febre aftosa notificado pelas autoridades paraguaias. A secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de Mato Grosso do Sul (Seprotur), Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias afirmou na ocasião que “todo gado que passar a fronteira será abatido”.

Sobre a possibilidade de criadores continuarem furando o bloqueio, Tereza Cristina disse que é é “complicadíssimo” manter presença constante de fiscais ao longo de uma fronteira seca de 700 quilômetros.

Na manhã desta terça- feira, a reportagem ouviu o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Chico Maia, que comentou a situação. “Temos orientado nossos produtores para não arriscarem, para não negociar gado do Paraguai. E pedimos ainda se souberem de algo (da passagem da fronteira) que avisem imediatamente a Acrissul”, explicou.

Segundo ele, a conscientização é a arma mais eficiente devido à dificuldade de fiscalizar.  “Não existe um marco divisório real, é praticamente uma linha imaginária que divide os dois países. Sabemos que é muito difícil realizar essa vigilância. Mas temos que ficar sempre atentos”, diz.

No Paraguai, existem grandes fazendas vizinhas ou pequenas propriedades e, ainda, muitos assentamentos, de onde animais acabam transitando de um lado (país) para o outro.

Chico Maia disse também que as autoridades de Mato Grosso do Sul ainda não se reuniram com a Acrissul para discutir ações conjuntas para evitar que o problema novamente se repita no Estado. “A nossa Associação, que representa a classe produtora de Mato Grosso do Sul, está à disposição para discutir estratégias de combate à aftosa. Estamos aqui para tentar somar e ajudar os nossos produtores”.

O presidente da Associação dos Criadores acredita que a ação do exército deve inibir produtores e trabalhadores a passarem com gado ou produtos agropecuários para o lado brasileiro, mas entende que quase impossível controlar 100% a fronteira. “Sabemos desse problema, mas concretamente ainda não chegou notícia sobre essa passagem ilegal nesses últimos dias. Cabe a todos ajudarem nessa fiscalização”.

O superintendente da Superintendência Federal de Agricultura, Orlando Baez, revelou que equipe da SFA/ MS está controlando o trânsito de aproximadamente 800 mil animais na região de fronteira, na antiga área de alta vigilância.

Questionado sobre as denúncias de passagem ilegal de gado por meio do , por exemplo, respondeu que a fiscalização na fronteira é rigorosa e até o momento não há nenhum registro de gado indo do Paraguai para o Brasil. “Estamos em pontos estratégicos, com apoio do Exército, para ajudar no controle de veículos por tempo indeterminado. Até agora não sabemos de desrespeitos, de passagens por essas barreiras”, afirmou Baez.

Sobre as atuais ações de combate à aftosa, Orlando disse que o Governo de Mato Grosso do Sul e a SFA/ MS têm discutido constantemente com sindicatos, entidades e prefeitos de Eldorado, Bela Vista e Ponta Porã, por exemplo. “Essa parceria com representantes das classes produtoras do Estado e Exército deve continuar, pois sabemos dos riscos que o foco de aftosa trazem para Mato Grosso do Sul.

Insegurança na fronteira

De acordo com a matéria publicada na semana passada pelo Estadão, nos 410 quilômetros ao longo da “Linha Internacional”, divisa entre os dois países, não foi localizada nenhuma barreira, região onde a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) informava ter sido reforçada nos 15 postos fixos além de cinco equipes volantes.

O gado paraguaio teria sido flagrado enquanto atravessava um dos trechos asfaltados em rodovia no distrito de Sanga Puitã, mesma região onde um surto de aftosa em 2005 causou o abate de mais de 35 mil animais, interdição de propriedades rurais e prejuízo superior a R$ 1 bilhão.

Moradores da área de fronteira reclamam da falta de cercas, e ainda do descaso em função do baixo preço do gado que seria comprado para abastecer açougues de Ponta Porã e região. Os casos de febre aftosa foram confirmados no departamento de San Pedro, a 130 km da fronteira com o Brasil, o que levou ao embargo da carne e provocou queda de 50% no preço da arroba no mercado paralelo, pois os negócios oficiais estão paralisados.

Produtores da região demonstram apreensão quando relatam que têm a preocupação em aplicar a vacina, mas não conseguem controle sobre o boi doente que atravessa para o Brasil e, caso infecte um rebanho deste lado, perderão tudo, mesmo que tenham feito a sua parte em relação ao controle da doença.

Informada de que havia bois entrando livremente no Brasil, a secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de Mato Grosso do Sul (Seprotur), Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias disse que todo gado que passar a fronteira será abatido. Criadores têm o hábito de manter bois soltos nesta faixa, embora sejam animais vacinados, mas não podemos correr este risco e, também, é “complicadíssimo” manter presença constante de fiscais ao longo de uma fronteira seca de 700 quilômetros, segundo explicou a secretária. (Com informações do jornal O Estado de São Paulo)