O sonho do casal Vanja e Julio Nepomuceno era ter um negócio. Ao saberem da venda de um restaurante já estabelecido, chamaram os cunhados, Márcia e Otávio Costa para serem seus sócios. A parceira deu certo e no início de agosto o quarteto assumiu o restaurante Patroni Pizza, instalado na praça de alimentação de um shopping em São Paulo. “O potencial de crescimento da loja nos atraiu muito e apostamos no negócio”, revela Márcia. Para efetivar a compra, os sócios tiveram apoio de um consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). Mas o que leva um empresário a vender um negócio consolidado e que está operando no azul?
O primeiro motivo é a aposentadoria, seguido pelo cansaço decorrente da rotina de trabalho, associado ao desejo de fazer coisas novas, afirma o consultor da Sunbelt Business Brokers, Batista Gigliotti. A empresa é uma franquia da companhia americana que atua em 30 países na intermediação de negócios.
Problemas de saúde, mudança geográfica, divórcio, ou briga entre sócios, também são fatores que levam à venda negócios positivos. Muitas vezes, o empresário sabe que precisará investir em melhoria tecnológica ou em ampliação, mas não tem esse capital. “Esse é um momento interessante para a venda, mas não é bom esperar muito tempo, porque o negócio começa a decair e o valor da empresa vai baixando”, diz Gigliotti.
Ao decidir pela venda, o empresário precisa observar vários aspectos antes de definir o preço. “Existem 80 tipos de metodologias para calcular o valor da empresa, mas o próprio mercado já estabelece um certo preço”, afirma o consultor do Sebrae-Santos, Ricardo Curado. “O ideal é que vendedor e comprador nos consultem juntos para que compreendam os métodos empregados no cálculo.”
Para o sócio-diretor da Naxentia, especializada em transições críticas, fusões e aquisições, Vincent Baron, é importante considerar o momento da empresa, porque ela pode ter crescido muito nos últimos anos, mas estar num momento de estagnação.
“Nesse caso, recomendamos que o proprietário faça uma reestruturação e espere que o negócio volte a crescer por mais um ano.” Dessa forma, o vendedor terá um parâmetro razoável para apresentar ao investidor, porque quanto maior o potencial de crescimento da companhia, maior será o valor de venda.
Baron também orienta o empreendedor a deixar tudo arrumado e criar, por exemplo, um programa de eficiência operacional de redução de custos e de melhores práticas de gestão. Medidas como essas influenciam de forma positiva o valor do resultado operacional da empresa.
O que também melhora a percepção do comprador é ter nas mãos números auditados pelo menos um ano antes da venda. “Ter uma companhia de auditoria confirmando os números apresentados pelo vendedor, traz mais conforto para o investidor”, afirma Baron.
Gigliotti reforça esse aspecto e diz que pequenas coisas como o registro de patente e da marca, assim como a contagem física do estoque, agregam valor ao negócio. “Não dá para vender uma empresa sem fazer uma avaliação criteriosa e profissional do negócio, que leve em conta o que ele realmente gera e não apenas o que os livros dizem.”
Os consultores destacam a importância do valor de ativos intangíveis, que muitos empresários não levam em consideração. Processos e desenvolvimento de tecnologia interna, que demandaram horas de trabalho, marcas já compradas, websites, contratos de parceria, contrato de exclusividade e carteira de clientes, valorizam consideravelmente o valor do negócio.
Para quem quer comprar, a grande dificuldade é saber se o vendedor diz a verdade. “A melhor recomendação é procurar conhecer os números da forma mais real possível. Além de passar um período vivenciando o negócio”, recomenda Curado.