Os crimes sexuais vitimando crianças se alastraram nos bairros. De acordo com uma pesquisa do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) de Dourados, casos que antes eram registrados apenas na periferia chegaram à área central e bairros nobres. De acordo com a coordenadora do Creas, a pedagoga Marísia de Paula Brandão Martins, de 100% dos casos, entre 5% a 10% ocorrem fora da periferia. Segundo ela, há 5 anos, o mapa do Creas chegava a detectar quais os bairros com maior índice de crimes sexuais infantis. Na época lideravam nas estatísticas os bairros Cachoeirinha, Vila Valderez e Brasil 500. Hoje, segundo ela, fica difícil indicar com precisão estes pontos, devido a diversidade dos crimes que vitimizam crianças.

Os números não param de crescer. Conforme o Creas, de janeiro a maio deste ano, já foram registrados 21 casos de violência contra crianças. Destes, 18 são estupros. Os demais são exploração sexual e pedofilia.

Todas as vítimas têm entre 7 a 10 anos. Destes casos, cinco foram registrados somente no último dia 02 deste mês. De acordo com a coordenadora, todos os agressores foram pessoas próximas às vítimas. “São parentes ou vizinhos, que atraíram as crianças com doação de dinheiro, doces, brinquedos e até alimentos”, diz, lembrando que nos últimos cinco anos em Dourados, a criança mais nova vítima de violência sexual tinha 2 anos quando foi abusada. O agressor foi o próprio pai.

Marísia acredita que com o avanço e maior acesso a internet, os números de crimes sexuais como a pedofilia, por exemplo, aumentaram 10% nos últimos anos. Segundo ela, este acréscimo nas denúncias está relacionado a conscientização das pessoas. “Em todas as nossas campanhas levamos muitas informações sobre a importância de se denunciar e como fazer isto”, disse.

O Creas oferece em Dourados todo o atendimento a vítimas e familiares de crianças e adolescentes que sofreram violência. São psicólogos, advogados entre outros profissionais disponibilizados o tempo que for necessário, para reintegrar a criança à sociedade e protege-la de agressões.

O Juiz da Vara da Infância de Dourados, Zaloar Murat Martins, diz que o judiciário vem cumprindo seu papel para inibir o problema. Segundo ele, prova disso são as fiscalizações realizadas pela Vara da Infância em motéis e casas noturnas. Ações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê multas administrativas aos responsáveis por estes estabelecimentos que permitem a presença de menores, muitas das vezes vítimas de exploração sexual. Diante do flagrante, segundo Zaloar, o caso é encaminhado para a Polícia Civil e até mesmo para o Ministério Público, que após investigação minuciosa aciona a Justiça.