Um ano depois do pior terremoto das últimas cinco décadas, o Chile ainda lamenta os 600 mortos e 200 mil desabrigados, além da perda de prédios públicos e privados que foram levados ao chão. No total, serão investidos cerca de US$ 7,4 bilhões para a reconstrução de casas, hospitais e escolas. Hoje, no país, poucos são os sinais do que ocorreu no dia 27 de fevereiro de 2010, quando, por volta das 4h, o Centro-Sul do Chile foi atingido por tremores de até 8,8 graus na escala Richter e sua costa foi afetada por um tsunami.

Emocionado ao lembrar desse dia marcante na história do país, o embaixador do Chile no Brasil, Jorge Montero, afirmou que o povo chileno vive o lema de “levantar os ombros e seguir adiante”. O diplomata disse que “as adversidades” fazem parte do cotidiano dos chilenos, que aprendem a driblá-las com solidariedade e união, como o que ocorreu também com os mineiros soterrados a 700 metros de profundidade, no Deserto de Atacama, no ano passado.

“Em segundos, você vive a sensação de morte e pensa realmente que vai morrer. Mas tantas tragédias produzem no Chile o espírito de solidariedade e união”, sintetizou o embaixador ao referir-se sobre a sensação de quem vive momentos como o de um terremoto e também sobre a apreensão dos mineiros soterrados. “O chileno tem esta fortaleza.” A seguir, os principais trechos da entrevista de Montero à Agência Brasil.

Agência Brasil (ABr) – Um ano depois do terremoto, é possível tirar alguma lição da tragédia?

Jorge Montero – Sim, é. O chileno está acostumado a viver adversidades, temos períodos de seca extrema, de chuva intensa e assim por diante. Os terremotos são constantes. Eu mesmo vivi três muito fortes, mas este de fevereiro do ano passado foi o pior. Em segundos, você vive a sensação de morte e pensa realmente que vai morrer. Mas tantas tragédias produzem no Chile o espírito de solidariedade e união. O chileno tem esta fortaleza. Também contamos muito com a solidariedade dos países vizinhos, como o Brasil.

ABr – Apesar desta “experiência” com terremotos, já que o país está numa região geográfica que favorece esses acontecimentos, o Chile ainda luta pela reconstrução do que foi devastado.

Montero – É verdade. Cerca de 50% do país foram duramente afetados não só pelos tremores de terra, mas também pelo tsunami, principalmente as áreas rurais sofreram demais. Houve 600 mortos, 200 mil perderam casas e as crianças ficaram um período sem aula. Mas o chileno vive o lema de levantar os ombros e seguir adiante. É o que estamos fazendo. A nossa engenharia se aperfeiçoou a tal ponto que as construções no Chile são feitas para resistir a tremores até um determinado nível de magnitude.

ABr – Na época do terremoto e do tsunami, houve informações de falhas no serviço de alerta. Depois isso se comprovou. Pode ocorrer novamente?

Montero – Lamentavelmente alguns alarmes falharam. Os esforços depois do ano passado são para evitar que novas falhas ocorram. Tudo é muito grave, os tremores de terra e o tsunami, mas entre um e outro, o segundo é assustador. Não é possível prever o tamanho das ondas nem a intensidade que atingirão. É tudo muito rápido e infelizmente muitas pessoas se recusam a deixar suas casas e querem permanecer em lugares arriscados, isso tudo é mais complexo.

ABr – Seis meses depois do terremoto, o Chile enfrentou o drama dos 33 trabalhadores que ficaram soterrados, a 700 metros de profundidade, na Mina San José. Como lidar com tantas tragédias?

Montero – É a nossa história. O Chile é um país mineiro por excelência [mais da metade de exportações do país se refere à exploração de minérios]. O que ocorreu com os mineiros acendeu a luz de alerta do governo para aumentar o rigor na fiscalização das empresas, principalmente as menores, que costumavam desobedecer as normas. Mas são mudanças lentas que dependem do Parlamento e de muita discussão. De toda maneira, a Mina San José está fechada. Por sorte, o final da história dos mineiros acabou bem. Mas não tínhamos segurança sobre o que ocorreria. Pedimos ajuda à Nasa [Agência Espacial Americana], ao Canadá, ao México e a especialistas europeus, entre outros.

ABr – O governo do presidente do Chile, Sebastián Piñera, dá assistência aos mineiros?

Montero – Há uma preocupação para que eles mantenham a qualidade de vida e não estão abandonados. Alguns pretendem voltar a trabalhar em minas, outros assumiram-se como estrelas e viajam pelo mundo, como agora esta semana que estiveram em Israel. Há planos para fazer um filme e um livro sobre a história dos 33 mineiros que ficaram [67 dias] soterrados.