Catadores e cooperativa temem ser tirados do mercado de reciclagem por programa oficial
Até uma cooperativa que reúne ex-catadores autônomos acha que ficou de fora e poderia ser melhor aproveitada sem lucro para empresas particulares. A coleta seletiva de Campo Grande começou com um contrato de R$ 80 mil com a Financial e quem vive da coleta nas ruas teme ficar sem renda.
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Até uma cooperativa que reúne ex-catadores autônomos acha que ficou de fora e poderia ser melhor aproveitada sem lucro para empresas particulares. A coleta seletiva de Campo Grande começou com um contrato de R$ 80 mil com a Financial e quem vive da coleta nas ruas teme ficar sem renda.
Trabalhadores que já atuam informalmente na tarefa de separar materiais recicláveis em Campo Grande acham que deveriam estar melhor contemplados no programa de coleta seletiva da administração municipal. Até uma cooperativa que reúne ex-catadores autônomos acha que ficou de fora e poderia ser melhor aproveitada sem lucro para empresas particulares.
O presidente da Coopervida José Pedro Tavares, 67, é a favor do início da coleta seletiva feita pela prefeitura de Campo Grande, porém é contra o fato de que o material recolhido inicialmente em até 32 mil casas sejam destinadas a uma empresa privada, no caso a Financial.
O contrato da prefeitura com a Financial é de R$ 80 mil pela prestação do serviço por um período de oito meses. O objetivo desta primeira etapa do projeto é realizar a coleta em 32 mil domicílios com a separação de papel, papelão, plástico, metal e vidro.
Entre os catadores, que sustentam as famílias com a atividade informal, o anúncio de que a Prefeitura contratou uma empresa ao invés de chamar quem já atua no setor também causou estranheza.
Márcia Cristina Oliveira de Araújo, de 60 anos, conta que trabalha há quatro anos com a coleta e ganha por volta de R$ 100 por semana. É a renda que ajuda no sustento da família, com seis filhos. Agora, ela diz estar com medo de que, com o programa oficial, diminua a coleta de quem já trabalha nas ruas. “Essa coleta podia ter a participação da gente”, avalia.
Segundo Marcos Cristaldo, titular da Semadur (Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) todo o lixo recolhido será levado para uma usina de triagem, onde será feita a separação dos materiais para posterior comercialização.
De acordo com a Prefeitura, parte do recurso obtido com a venda desse material reciclável será destinada ao Fundo Municipal de Meio Ambiente, para a implementação de ações voltadas para a cidade.
“Tem que apoiar a prefeitura, toda iniciativa é valida. Porém, não podemos concordar que esse material seja repassado para uma empresa particular”, diz. Tavares cita como exemplo a coleta seletiva da cidade de Goiânia (GO), onde o material é levado para cooperativas.
A Coopervida, que tem experiência de 11 anos, coleta em torno de 12 toneladas por mês. “Já chegamos a tirar de circulação, em apenas um dia, até 60 toneladas de material das ruas”, orgulha-se o responsável.
A cooperativa está localizada no bairro Aero Rancho, com 23 associados, em um prédio alugado e com um caminhão estragado. Segundo Tavares, apesar da relevância que o trabalho desenvolvido tem, gerando renda para os associados, que são ex-catadores autônomos, falta de incentivo do poder público.
Ele também confirma que fará parte do programa da prefeitura em um dos Ecopontos localizado na saída de Cuiabá, que são locais que também recebem óleo de cozinha, pilhas, lâmpadas e materiais de computador.
Em relação à participação de coletores no programa municipal, a Prefeitura informa que será implantado da Unidade de Processamento de Lixo – UPL, onde, a partir da segunda etapa será feita a separação do material reciclável do não aproveitável e a implantação de um programa de renda alternativa que ainda será definido.
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