O ministro do Esporte, Orlando Silva, afirmou que não pretende processar a revista Veja e o jornalista que publicaram reportagem com denúncias de que ele seria coordenador de um esquema de irregularidades envolvendo convênios com ONGs. “Não vou processar a revista nem o jornalista. Ainda sou novo pra isso. Mas vou pedir que me deem o mesmo espaço que foi dado para as acusações”, disse Silva. O ministro, porém, admitiu que vai mover uma ação judicial. “Vou processar duas pessoas, mas só falo disso depois que voltar ao Brasil”, completou.

Em declarações feitas ao Terra neste sábado à noite, no aeroporto de Guadalajara, Orlando Silva disse ainda que, à luz da legislação brasileira, quem faz as acusações é que precisa prová-las.

O ministro do Esporte, que estava no México para acompanhar o início da participação brasileira nos Jogos Pan-Americanos, passou praticamente o dia inteiro rebatendo as denúncias sobre o suposto esquema de corrupção em sua pasta. Ele, contudo, negou que o retorno tenha sido antecipado por causa da reportagem. Segundo ele, a passagem já estava comprada, porque ele foi ao México apenas para acompanhar a cerimônia de abertura e que retornará o país para ver o Parapan, em novembro.

Mais cedo, em coletiva realizada em Guadalajara, Orlando Silva afirmou que as denúncias são caluniosas e “retaliações de ações” que ele tomou à frente do ministério. Ele disse já ter sido avisado no passado de irregularidades em uma organização não-governamental (ONG) e de ter tomado a medida mais drástica para apurar as denúncias. O ministro anunciou que pediu à Polícia Federal para abrir investigação.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, por sua vez, disse que as denúncias são infundadas e fazem parte de uma campanha contra o partido, para atingir integrantes da sigla que ocupam cargos no governo, como Orlando Silva. Segundo Rabelo, o ministro está tranquilo em relação à sua inocência e se colocou à disposição para depor sobre o caso na Câmara dos Deputados, na próxima terça-feira, atendendo a pedido da bancada do PCdoB. Rabelo questionou ainda a legitimidade da fonte ouvida pela revista, o policial militar e ex-militante João Dias Ferreira, “cuja trajetória é pontuada por ações obscuras”, afirmou.

Oposição

Em Brasília, o PSDB e os Democratas se manifestaram sobre o caso. O líder tucano na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira, disse que vai entrar até com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR), na Controladoria-Geral da União (CGU) e no Tribunal de Contas da União (TCU) para que os órgãos investiguem as denúncias. O DEM, por sua vez, se manifestou por meio de nota oficial pedindo também o afastamento do titular da pasta. “A demissão de Orlando Silva não é o bastante. Polícia Federal, PGR e TCU precisam investigar a fundo esse esquema no Ministério do Esporte”, diz o texto.

Denúncias

Segundo reportagem da revista Veja, diversos membros do PCdoB, capitaneados pelo ministro, faziam parte do esquema de irregularidades envolvendo convênios entre a pasta e ONGs, que teria desviado mais de R$ 40 milhões em oito anos. As acusações têm como única fonte o policial militar e ex-militante do PCdoB João Dias Ferreira, que aponta o ministro como um dos beneficiados do desvio.

Ferreira foi um dos cinco presos no ano passado pela polícia de Brasília sob acusação de participar de desvios de recursos destinado a um programa da pasta. Investigações passadas apontavam diversos membros do PCdoB como protagonistas das irregularidades, na época da Operação Shaolin, mas é a primeira vez que o nome do ministro é mencionado por um dos suspeitos. Ferreira, por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu, firmou dois convênios, em 2005 e 2006, com o Ministério do Esporte.

De acordo com Ferreira, as ONGs recebiam verbas mediante o pagamento de uma taxa que podia chegar a 20% do valor dos convênios. Orlando Silva teria recebido, pessoalmente, dentro da garagem do Ministério, uma caixa de papelão cheia de cédulas de R$ 50 e R$ 100 provenientes da quadrilha. Parte desse dinheiro, acusa a Veja, foi usada para pagar despesas da campanha presidencial de 2006.