Antes de morrer, no hospital, rapaz disse que foi xingado de ‘negro, pobre e vagabundo’

Anderson da Silva foi morto baleado em frente a uma padaria, em Campo Grande; o acusado, julgado hoje, era tio da namorada da vítima e seria contra a relação

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Anderson da Silva foi morto baleado em frente a uma padaria, em Campo Grande; o acusado, julgado hoje, era tio da namorada da vítima e seria contra a relação

Anderson da Silva, assassinado no início de 2008, em Campo Grande, supostamente por racismo, teria dito a mãe, no hospital, que o comerciante Geraldo Francisco Lessa, 50, julgado pelo crime nesta sexta-feira, o xingou de “negro, pobre e vagabundo”, antes de baleá-lo.

Lessa teria matado o rapaz, à época com 20 anos de idade, por desaprovar o namoro da vítima com uma sobrinha sua. O comerciante, que tocava uma padaria no bairro Parque do Sol, disse no início de julgamento que lutou com o rapaz por confundi-lo com um assaltante, versão contestada pela acusação.

Anderson foi baleado no dia 29 de dezembro de 2007, e morto 14 dias depois no hospital da Santa Casa.

Durante a internação, ele teria dito a mãe que havia passado em frente à padaria e ouvido insultos do comerciante. O rapaz teria retornado e perguntado a Geraldo Lessa, o motivo dos xingamentos. “Porque você é negro, pobre e vagabundo”, respondeu o comerciante, que logo disparou um tiro em sua direção.

Duas testemunhas, mulheres, e vizinhas do comerciante, disseram no julgamento desta manhã que viram o rapaz caído no chão, uma delas que viu o réu e a mulher em pé, próximo ao corpo.

Uma das testemunhas disse que assim que ouviu o disparo saiu correndo na rua e viu o rapaz caído e a mulher do comerciante perguntando-o: “por que você fez isto?”. “Cala a boca, e ajuda a tirar ele daqui”, teria retrucado o réu.

Antes de deixar do local, a mulher do comerciante teria chutado o braço do rapaz, caído no salão da padaria. Os dois fecharam o comércio e saíram rápido do local.

A outra testemunha, também comerciante, viu a mesma cena. Pior: ela disse ter registrado um boletim de ocorrência contra o casal por ameaças. “Se eu ouvir comentários que meu marido atirou em Anderson vai levar balaços também”, ouviu a testemunha.

Já de acordo com relato do comerciante, que responde o processo em liberdade, ele nem conhecia Anderson, declaração contestada pela própria sobrinha, que trabalhava com o tio e namorada a vítima.

Geraldo Lessa disse nesta manhã que no dia do crime ele havia atendido um vendedor de refrigerantes e logo fechado sua padaria. O citado negociante teria sido assaltado na região, no bairro Parque do Lago.

Mais tarde, disse Lessa, ele foi até o portão da casa porque alguém havia lhe chamado. Lá, entrou em luta corporal com um “desconhecido”.

Na briga, o réu teria ouvido um tiro e corrido do local. No caso, o desconhecido estaria armado e, na tentativa de atirar no comerciante disparou contra o próprio corpo. Essa versão foi contestada pela defesa.

O suposto assaltante estaria agarrando o pescoço do comerciante, e, com a outra mão, tentando pegar a arma na cintura. A defesa disse que a trajetória do projétil que matou o rapaz derruba a versão do réu.

O auditório da sala do júri, no fórum de Campo Grande, está lotado de amigos e familiares da vítima. A sobrinha do réu, ex-namorada da vítima, foi incluída como testemunha de acusação. A sentença deve ser lida no início da tarde de hoje.

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