Vaticano nega que carta do papa busque minimizar denúncias de pedofilia
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou neste sábado que a carta pastoral do papa Bento 16 sobre os casos de pedofilia na Irlanda, é apenas “uma etapa de um caminho” e “não busca desculpar-se” pelas denúncias de abusos sexuais contra padres em outras nações. A carta foi criticada pelas vítimas dos abusos na […]
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O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou neste sábado que a carta pastoral do papa Bento 16 sobre os casos de pedofilia na Irlanda, é apenas “uma etapa de um caminho” e “não busca desculpar-se” pelas denúncias de abusos sexuais contra padres em outras nações. A carta foi criticada pelas vítimas dos abusos na Irlanda como “decepcionante”.
“Quem conhece a história e as obras do cardeal Joseph Ratzinger [nome de batismo de Bento 16], encontra no papa uma testemunha da busca pela clareza e coerência”, defendeu Lombardi, que recordou que a atividade de Raztinger, quando esteve à frente da Congregação para a Doutrina da Fé (de 1981 a 2005), foi caracterizada na direção “do compromisso, da clareza e da intervenção”.
Ainda questionado sobre a postura da Santa Sé frente aos recentes casos em diversas nações europeias –Alemanha, terra natal do papa, Holanda e Áustria–, Lombardi reiterou que o papa se pronunciará “no momento oportuno” e “saberá encontrar um modo apropriado para referir-se à situação”.
“Nunca houve uma carta semelhante”, afirmou Lombardi, acrescentando que “esta é uma resposta que não será esquecida”. “Para mim é consistente, não é uma resposta pequena”, completou.
Os grupos de vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos na Irlanda se declararam muito decepcionados neste sábado com o conteúdo da carta pastoral.
“Sentimos que a carta fica aquém [das expectativas] na hora de abordar as preocupações das vítimas”, disse Maeve Lewis, diretora-executiva da organização One in Four.
Lewis critica o papa por não reconhecer a responsabilidade do Vaticano nos casos de abusos sexuais contra crianças em instituições católicas na Irlanda e no resto do mundo e diz que ele errou ao não pedir a renúncia do primaz da Igreja Católica irlandesa, o cardeal Sean Brady.
“Não há nada nesta carta que sugira que qualquer nova visão de liderança na Igreja Católica exista”, diz Lewis, que critica o fato da carta focar demasiadamente nos sacerdotes do baixo clero e eximir o alto clero.
Outra vítima dos abusos sexuais, Andrew Madden, afirmou em nota que a carta “não aborda este assunto com total seriedade”.
“O contexto é, certamente, inadequado, já que, por definição, uma carta pastoral é dirigida apenas aos católicos praticantes e, portanto, faz caso omisso de muitas outras pessoas que se viram afetadas por esta questão”, explicou Madden.
“Uma carta pastoral não é a maneira de dar uma resposta aos relatórios de Ferns, Ryan e Murphy, que tratavam de violações, maus-tratos e abusos sexuais contra crianças cometidos por padres e religiosos neste país e que foram ocultados pelas autoridades da Igreja”, concluiu Madden.
Carta
Na carta, o papa expressa “muita desolação” e pede desculpas às vítimas, manifestando a vergonha e o remorso de toda a Igreja Católica ante o escândalo de pedofilia.
“Vocês sofreram gravemente e eu sinto muito, verdadeiramente”, disse Bento 16, em uma medida inédita que visa a recuperar a confiança da Igreja Católica. “É compreensível que vocês achem difícil perdoar e se reconciliar com a Igreja. No nome dela, eu abertamente expresso a vergonha e remorso que nós sentimos”.
Ele disse ainda que está disposto a se encontrar com as vítimas e conversar sobre o sofrimento que enfrentam e que a carta deve ajudar a curar as feridas e renovar a fé.
Bento 16, que não se referiu às denúncias em outros países da Europa e até mesmo no Brasil, anunciou a abertura de uma investigação em várias dioceses da Irlanda, em seminários e em congregações religiosas.
Escândalo
A Igreja Católica da Irlanda foi criticada por ocultar, segundo relatório de uma investigação oficial publicado em novembro passado, os abusos sexuais cometidos por padres da região de Dublin envolvendo centenas de crianças durante várias décadas.
O documento, de mais de 700 páginas, fala sobre a atitude da hierarquia católica no arcebispado de Dublin entre os anos 1975 a 2004. Acusa, principalmente, quatro arcebispos por não terem denunciado à polícia que sabiam dos abusos sexuais, cometidos a partir dos anos 60.
Os casos de pedofilia atingiram ainda a Holanda, onde a Igreja Católica recebeu 1.100 denúncias de pessoas que afirmam ter sofrido abusos sexuais por parte de membros do clero entre os anos 50, 60 e 70.
Na Alemanha, as denúncias de pedofilia chegam a 120 e teriam ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980 em escolas jesuítas locais. O caso envolveu até mesmo o sacerdote Georg Ratzinger, irmão do papa, que liderava os rapazes do coro da catedral de Regensburg. O sacerdote negou saber dos casos de abusos e foi inocentado pelo Vaticano.
Na semana passada, na Áustria, a imprensa local noticiou casos de abusos cometidos em dois institutos religiosos nas décadas de 1970 e 1980. O Vaticano reconheceu ainda os abusos cometidos por dois monsenhores e um padre do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió (AL), depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.
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