Valter Pereira diz que André não tem lado e não se pauta pela ética e nem pelo respeito a compromissos

Senador comenta o atual cenário eleitoral e dispara contra o governador André Puccinelli, a quem atribui práticas “maquiavélicas” para atingir seus objetivos políticos.

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Senador comenta o atual cenário eleitoral e dispara contra o governador André Puccinelli, a quem atribui práticas “maquiavélicas” para atingir seus objetivos políticos.

Peemedebista histórico, o senador Valter Pereira recusou a alternativa sugerida pelo governador após ser derrotado nas prévias para o deputado federal Waldemir Moka pela candidatura ao Senado, em março deste ano. Valter, em sintonia com a orientação nacional, recebeu a missão de coordenar em nível regional a campanha de Dilma Rousseff à presidência da República. Na avaliação do senador, seu apoio ao PT decorreu de uma circunstância local.

Em entrevista ao Midiamax, Valter Pereira comenta o atual cenário eleitoral e dispara contra o governador André Puccinelli, a quem atribui práticas “maquiavélicas” para atingir seus objetivos políticos. “Ao romper o seu compromisso, desprezar minha biografia partidária e me tratar como adversário, o governador Puccinelli agiu com deslealdade”, declara.

Midiamax – O PMDB de Mato Grosso do Sul decidiu apoiar a candidatura de José Serra à presidência e o senhor assumiu a coordenação da campanha da ex-ministra Dilma Rousseff. Isso é um rompimento com o seu partido?

Valter Pereira – Absolutamente. O PMDB decidiu na sua instância suprema, a convenção nacional, coligar-se com o PT e indicou o jurista Michel Temer como vice da ministra Dilma. Assim, quem transgrediu a diretriz partidária foi o governador André Puccinelli, que levou o PMDB estadual para o ninho dos tucanos, declarando apoio ao candidato José Serra.

Midiamax – O senhor acha que a decisão do diretório nacional foi a melhor opção para o partido?

VP – A melhor decisão teria sido o lançamento de candidatura própria. Infelizmente, o PMDB nacional vem abrindo mão do papel principal para ser coadjuvante da cena política brasileira. Mas no contexto em que o partido se insere, a decisão foi a mais coerente e melhor. Afinal, o PMDB tem sido o principal parceiro do presidente Lula no Congresso. Nenhum outro partido da base aliada tem dado maior respaldo ao seu governo. Dessa forma, o apoio à candidata petista foi um resultado natural dessa cooperação. Ao decidir participar da chapa presidencial, o PMDB se habilita a participar das decisões de governo. E isso é bom porque dá um certo tempero ao governo petista e abre espaço para o PMDB retomar sua inserção nacional.

Midiamax – Apesar de ter iniciado a campanha do candidato do PSDB, o governador deixou de empenhar-se na campanha do candidato José Serra e tem usado imagens suas com presidente Lula nos programas eleitorais. Como o senhor enxerga isso?

VP – Na verdade, o governador não tem lado e não se pauta pela ética nem pelo respeito a compromissos. Ele se orienta exclusivamente pela máxima maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Se o Serra se mantivesse competitivo, ele não economizaria exibições com o tucano. Como a candidatura do PSDB naufragou, ele não se constrange em escondê-lo e, ao mesmo tempo, apropriar-se das imagens do Lula, a despeito das declarações até emotivas do presidente em favor do Zeca do PT.    

Midiamax – Não é segredo para ninguém que o senhor rompeu com o governador André Puccinelli, que é do seu partido. Sua atitude não foi uma retaliação desmedida ao resultado da eleição prévia que resultou na escolha de outro candidato ao Senado?

VP – Minha atitude não foi conseqüência do resultado da eleição prévia, até porque quem entra nesse jogo precisa considerar as hipóteses de ganhar ou perder. O problema foi a conduta do governador André Puccinelli. Ele garantiu que permaneceria imparcial e agiria apenas como árbitro. Até a terceira semana que antecedeu a prévia, ele manteve a isenção apalavrada. Naquele momento, depois de constatar que eu conquistara a preferência dos filiados, ele abandonou a isenção e se engajou na candidatura do meu concorrente. Mais grave: manejou o poder público para me vencer. Ao romper o seu compromisso, desprezar minha biografia partidária e me tratar como adversário, o governador Puccinelli agiu com deslealdade. Ao longo de minha vida aprendi resignar-me com muitas provações, mas com a trapaça, não. O fato de ter sofrido o golpe de um companheiro a quem só ajudei, demoliu a confiança que deve orientar a relação política. Na verdade, o gesto de eleger-me seu adversário já traduziu um rompimento promovido pelo próprio governador.

Midiamax – Depois da eleição prévia que lhe tirou da disputa do Senado, o governador não lhe propôs uma compensação política?

VP – Na manhã seguinte à prévia, recebi a visita dele. Na ocasião, tentou eximir-se da responsabilidade pelo que aconteceu e me propôs compensar-me com a eleição de deputado federal. Prometeu-me apoio político e financeiro. Depois disso, procurou-me mais duas vezes, quando desculpou-se pelo que fez. Além do que havia proposto, acenou-me com a participação em seu governo atual e numa hipotética administração futura.

Midiamax – Não teria sido melhor ter aceitado a ajuda oferecida e ter entrado na disputa por uma vaga na Câmara Federal? O senhor não mediu o efeito de ficar sem mandato?

VP – Quem acha que o mandato é o maior de todos os valores, não tem dificuldade para transigir com a prepotência de quem se julga dono das pessoas. Para mim, dignidade e respeito são mais relevantes do que qualquer mandato ou cargo público. Mandato se conquista com voto. A dignidade e o respeito são frutos de atitudes. Se aceitasse a proposta do governador, teria que subir no palanque de quem me traiu e falar bem de quem não honra a palavra.   

Midiamax – Sempre houve um reconhecimento no seu partido sobre o papel que o senhor vem cumprindo desde a fundação do antigo MDB. No entanto, o senhor declarou apoio à candidatura do Zeca do PT. Isso não é uma negação a sua própria historia peemedebista?

VP – Inicialmente gostaria de lembrar que o governador André Puccinelli já se hospedou no ninho dos tucanos. Quem abriu as portas para ele voltar fui eu, quando assumi a presidência do diretório estadual do PMDB. Se as portas do partido permanecessem fechadas, muito provavelmente ele não teria sido prefeito de Campo Grande e governador do Estado. Portanto, ele não tem lá esse histórico de lealdade partidária para merecer fidelidade canina de seus companheiros. De sorte que o apego e a dedicação dele aos compromissos do PMDB sempre foram muito frágeis. Quer um exemplo? Ele não mede o seu investimento e peso político para eleger o engenheiro Edson Giroto como o deputado federal mais votado nesta eleição. No entanto, o Giroto não é filiado ao PMDB e, sim, ao PR. E todos nós sabemos que ele se inscreveu nesse partido por escalação do governador. Ora, se o governador tivesse um razoável apego ao PMDB, jamais escalaria o seu preferido, o seu homem de confiança, para ser o mais votado em outra agremiação. Ele disputaria pelo PMDB. Ou alguém duvida que foi o governador que escalou o Giroto para encher a empadinha do PR?

Midiamax – Na sua opinião, quem perde com isso?

VP – Quando você usa uma barriga de aluguel para eleger alguém, o seu partido perde. Perde em tempo de mídia institucional, aquela que destina horário de TV para o partido fora do período eleitoral. Perde financeiramente, também. Acontece que, tanto o tempo de mídia quanto o valor do Fundo Partidário, são calculados através do número de deputados federais do partido e não da coligação. Assim, maior bancada de deputados federais significa mais recursos e mais tempo de TV. É por isso que todos os partidos priorizam a eleição de deputados federais, menos o PMDB do André.

Outro sintoma de desapreço do governador com o PMDB foi a precariedade de sua interlocução com o partido. Dirigentes municipais do PMDB só passaram a ser recebidos pelo governador no ano eleitoral, quando se descobriu que haveria disputa acirrada. Naquele momento o governador enxergou serventia nos diretorianos municipais e passou a distribuir até casas populares para vereadores fazerem política. E isso só não lhe trouxe maiores problemas porque o PMDB é um partido tolerante.

Outro desprezo ao partido foi na eleição de 2002. Naquela ocasião ele se comprometera de ser o candidato a governador e empolgara o partido. Na ultima hora amarelou, desertando da disputa sem dar explicação dos motivos. O PMDB não teve como reformular seu projeto. Na ocasião, defendi o lançamento de Ramez Tebet ou outro nome e fui até criticado por isso. Mas a verdade é que o partido ficou sem candidato e acabou improvisando a candidatura da Marisa Serrano, do PSDB, em cuja campanha o André fez corpo mole e todo mundo percebeu isso. Aliás, até hoje o André não explicou a razão daquela deserção, o que acaba dando crédito às desabonáveis explicações que se alastraram pela “radio peão” na época. Por tudo isso e muito mais, garanto que não rompi com um líder que tenha histórico partidário e tomei a decisão de apoiar o Zeca ciente de que em nada afeta minha coerência política. Ao contrário, a conduta política do Zeca está mais próxima do programa doutrinário do PMDB do que o comportamento autoritário do André.

Midiamax – Até que ponto esses desentendimentos internos podem afetar o desenvolvimento do Estado?

VP – De minha parte, nunca neguei apoio à administração do governador André Puccinelli. Mesmo depois de ingressarmos no calendário eleitoral, me empenhei na aprovação, do Senado, de um generoso empréstimo de U$ 360 milhões para infra-estrutura do Estado. Portanto, mesmo depois da trairagem dele comigo. Afinal, o Estado é permanente e o governante é transitório. A verdade é que nunca neguei a minha contribuição com desenvolvimento do Estado, independentemente de me preocupar com o partido que o governa.

O contorno ferroviário de Três Lagoas será construído pelo Estado com recursos federais alocados com emenda orçamentária de minha autoria. O contorno rodoviário de Corumbá é obra federal proposta por emenda de minha autoria juntamente com o senador Delcídio Amaral e o deputado Antonio Carlos Biffi. E quem foi inaugurá-lo foi o governador André Puccinelli. Recursos federais para o Estado dotar municípios de patrulhas mecanizadas foram alocadas por mim através de emendas, também. Meu trabalho contemplou escolas estaduais, rodovias federais, a ponte que vai ligar Três Lagoas a Castilho (SP), infra-estrutura de municípios, entre outros, e não vou parar de liberar recursos enquanto tiver condições de fazê-lo.

O que pode afetar o desenvolvimento do Estado é a má gestão. Nesse sentido, confesso-me desapontado com modelo de gestão implementado em Mato Grosso do Sul nos últimos anos. Um governante que centraliza em suas mãos tanto a maior obra do Estado quanto uma diária de um policial para realizar uma diligência em outro município, inevitavelmente acaba travando o desenvolvimento do Estado.

Midiamax – A campanha eleitoral está trazendo à tona muitas denuncias nos programas eleitorais e em outros meios, inclusive apócrifos. O que o senhor acha desse clima?

VP – Toda campanha tem um momento propositivo e outro de embate. É importante para o eleitor conhecer a forma com que cada candidato enfrenta tais problemas. O Zeca tem feito diretamente e sem rodeios suas críticas. Já o André vem terceirizando seus ataques. Basta prestar atenção no programa eleitoral do PSOL e na linha editorial de numerosos órgãos de imprensa que tem vivido às expensas do Estado. Quando o candidato usa um pseudo-concorrente para enfrentar o adversário, acaba ocultando sua verdadeira identidade. Como disse o Ministro Minc, o André precisa sair do armário e enfrentar o seu adversário de peito aberto. Aliás, é muito estranho que os mais importantes veículos de comunicação do Estado não tenham realizado debates entre candidatos a governador e senadores.

Midiamax – Dentre as denúncias contra Zeca do PT, há noticias de supostas irregularidades em seu governo. Como o senhor avalia essas denúncias?

VP – É difícil um governante deixar a administração sem ser atingido por algum tipo de processo. Quando são procedentes, a justiça condena. O Zeca tem enfrentado vários e se defendido. Já o atual governador vem se esquivando dessa responsabilidade através de uma proteção que obteve da Assembléia Legislativa. Há um processo peludo contra ele no STJ que está paralisado porque o legislativo estadual negou licença para processá-lo. Enquanto o STJ não julgar o André é temerário dizer que o processo dele é procedente ou não. E isso vale, também para o Zeca.

Midiamax – Em face das recentes perturbações políticas no Estado, é possível a convocação de tropas federais para garantir a regularidade eleitoral em Mato Grosso do Sul?

VP – Essa medida é extrema e cabe ao TRE solicitá-la caso entenda que existam riscos que justifiquem.

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