“Tema da eleição é o futuro, e não o passado”, diz Serra

Neste sábado (10), José Serra entra oficialmente na corrida presidencial. Vai à disputa com a disposição de produzir algo parecido com uma mágica. Candidato de “oposição”, foge do figurino do anti-Lula. Esquiva-se de fazer críticas frontais ao presidente superpopular.   Promete, na essência, algo muito próximo da “continuidade”. Com uma diferença: declara-se mais preparado do […]

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Neste sábado (10), José Serra entra oficialmente na corrida presidencial. Vai à disputa com a disposição de produzir algo parecido com uma mágica. Candidato de “oposição”, foge do figurino do anti-Lula. Esquiva-se de fazer críticas frontais ao presidente superpopular.

 

Promete, na essência, algo muito próximo da “continuidade”. Com uma diferença: declara-se mais preparado do que a rival Dilma Rousseff. Esmiuçou suas ideias numa entrevista aos repórteres Alberto Bombig, Guilherme Evelin e Helio Gurovitz.

 

O resultado foi às páginas da última edição da revista Época, que começa a circular neste sábado. A íntegra pode ser lida aqui. Na conversa, em vez de criticar, Serra elogia Lula. Reconhece que o país avançou em várias áreas.

 

Ao situar as conquistas na linha do tempo, cuida de recuar a um período que inclui as duas gestões do amigo Fernando Henrique Cardoso: “25 anos”. Vai abaixo o que há de essencial sobre o pensamento de Serra:

 

– Por que um brasileiro deve votar em Serra? Eu me considero preparado para esse desafio. É algo para o qual eu talvez tenha me preparado a vida inteira. […] Você se candidatar e chegar à Presidência, além de uma decisão pessoal, envolve muito destino.

– O que mudou em relação à derrota na campanha presidencial de 2002? Aprendi bastante desde lá. Aprendi com a derrota. Aprendi com a reflexão. Aprendi com a prefeitura, aprendi com o governo de São Paulo. […] Eu me considerava preparado em 2002. Mas hoje eu estou mais preparado que em 2002.

– Lula tem altíssimos índices de aprovação. Como convencer o eleitor a votar em Serra?O tema da eleição é o futuro, não é o passado. As pessoas vão eleger quem vai dirigir o país nos próximos anos. O Lula não é candidato, e a Dilma não é o Lula. […] Nós vamos dar um passo para o futuro a partir de um diagnóstico atual sobre o que pode ser feito para o Brasil ter mais. Basicamente isso.

– Que avaliação faz do governo Lula? Trouxe alguns avanços, sim. Acho que, por exemplo, foi bastante ágil durante a crise internacional.

– A impressão é que o país nunca esteve tão bem. O sr. diz que o Brasil pode mais. O que é esse mais? O Brasil não é um país construído. Há muita coisa a ser feita. […] Você tem muitas coisas por fazer. A retomada do crescimento é promissora, mas ela tem de ser sustentável ao longo dos anos…

– O Brasil hoje, na comparação com o país da sua juventude, melhorou na oferta de oportunidades? Nos últimos 25 anos, o Brasil avançou bastante. Nós tivemos a redemocratização, uma Constituição que garantiu a democracia, a pluralidade e avanços sociais significativos. Nós tivemos também um fortalecimento da agricultura, um avanço de eficiência na indústria. Temos um sistema financeiro muito sólido. Conseguimos domar a superinflação com o Plano Real. Entramos numa era de responsabilidade fiscal. Avançamos muito na área da saúde, com o SUS, e na da educação, no que se refere à inclusão. Reduzimos a pobreza. Isso tudo é fruto desses 25 anos. Mas falta muito ainda, né? […] Que o Brasil pode mais, eu tenho certeza. O problema é como fazer.

– Qual é sua posição sobre o papel do Estado? O Estado no Brasil é um pouco obeso. Eu defendo um Estado ativo, que se contrapõe ao Estado paternalista e produtor do passado e ao Estado da inércia e da pasmaceira. Minha opção não é intermediária, mas nova. […] Se você incha o Estado, você até o enfraquece. A obesidade é uma doença. Não é uma virtude física…

– Na prática, um Estado ativo significa o quê? Eu não sou a favor do Estado produtor como ele era no passado, mas isso não significa que você vai retirar o Estado de tudo. Sou a favor do Estado eficiente naquilo que faz e ativista, insisto. É o Estado que regulamenta, em vez de intervir. […] Agora, eu sou a favor da existência de banco nacional, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica…

– Vai manter o tripé baseado em metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal? Olha, sem ser pretensioso, eu tenho a impressão de que quem fez a denominação “tripé” fui eu. […] Esse tripé está aí para ficar.

– Não não há o que mexer? Não. Agora, a forma como você aplica cada uma das coisas não é única, sempre é determinada. Nós não estamos falando de ciências matemáticas ou físicas. E mesmo as físicas, hoje, já são relativas.

– O que acha da idéia de dar autonomia para o BC? O BC brasileiro já tem bastante autonomia na prática. Quando falam que querem fazer um banco igual ao FED [banco central americano], isso, na verdade, implicaria ter de mudar totalmente o BC, porque o FED, por exemplo, não tem a função de supervisão bancária. Você teria de fazer uma legislação muito complexa. Não creio que seja necessário.

– Privatização virou palavrão no Brasil. Mas há casos, como o dos aeroportos, em que ela parece ser indispensável, não? O termo correto não é privatização, é concessão. Concessão tem um contrato, regras, pode ser quebrada. É completamente diferente de privatização. Eu defendo a concessão de aeroportos. […] Não é que a concessão é a salvação da lavoura. Mas, quando você faz uma concessão, você tem um cronograma. É a via mais rápida e mais eficiente.

– O governo Lula se aproximou de Cuba, Venezuela e do Irã. Qual é sua opinião sobre essa política externa? Defendo a política de autodeterminação. Você não deve interferir nos assuntos de outros países. Por outro lado, nós temos também uma responsabilidade com direitos humanos e com democracia. O Brasil deve fazer ativamente todas as gestões que puder fazer no sentido de serem respeitados os direitos humanos. Um princípio tem de ser claro. Onde há preso por opinião, não há uma democracia. Isso não significa que não vamos ter relação com esse ou aquele país…

– Como o senhor vê sua principal adversária, Dilma Rousseff? Fica meio despropositado como competidor analisar agora cada uma das pessoas. Sempre tive relações cordiais com ela. Espero que a campanha seja cordial dentro do possível.

– Ao se despedidir do governo de São Paulo, disse que não permitiu “roubalheira”. Foi uma referência aos governos petistas?  […] Eu estava sublinhando a importância desse valor. A imprensa deu uma ênfase ao que era uma parte restrita do discurso, e alguns vestiram a carapuça sem que minhas palavras tivessem sido direcionadas. Você vai olhar os escândalos no Brasil. Não são exclusivos do PT.

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