Sem clínicas, famílias enfrentam sofrimento para tratar filhos dependentes químicos
Em Campo Grande, famílias que vivem o drama de ter alguém viciado em drogas ou álcool vivem dramas diários com os problemas causados pela dependência. Esse é o caso da catadora de recicláveis Maria*. Ela tem um filho e uma filha que tem problemas com drogas. “A minha filha inclusive queria dar o bebê que […]
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Em Campo Grande, famílias que vivem o drama de ter alguém viciado em drogas ou álcool vivem dramas diários com os problemas causados pela dependência. Esse é o caso da catadora de recicláveis Maria*. Ela tem um filho e uma filha que tem problemas com drogas.
“A minha filha inclusive queria dar o bebê que ela tem agora. Ela deu um tempo na droga por causa do nascimento da criança, mas eu tenho medo dela voltar. E meu filho mais velho também usa”, conta ela. Os filhos usam a “Zuka” ou crack.
João* tem 23 anos e nem lembra há quanto tempo usa drogas. Começou usando maconha e hoje fuma “pedra”. Ele conta que comete pequenos furtos para conseguir manter o vício. “Eu só pego no mercado mesmo. Não tenho coragem de roubar pessoas não”, conta ele.
O rapaz já pediu ajuda várias vezes para largar do vício, mas não consegue. “Eu já pensei em me internar, mas não consegui vaga. Minha família não tem dinheiro para pagar os R$ 600 que uma das clínicas pediu. Já fui à igreja, mas também não consegui largar sozinho”. Ele é filho de Maria, a catadora.
A irmã dele, também usa drogas e conta que conseguiu parar após o nascimento do filho. Ela viu no nascimento do quarto filho a oportunidade de se agarrar na esperança.
“Eu pensei em dar o bebê, pensei em sumir, pensei em tudo. Mas se eu desse minha bebê eu não iria conseguir viver. E se continuasse usando drogas sei que venderia tudo por conta da maldita pedra”, conta Ana, que tem 25 anos.
“Ela ainda conseguiu, engordou, está bem melhor. Ele não, meu filho pára, daí volta a usar. De dia ele está mal, mas de noite ele fica bem e consegue sempre ter uma pedra para fumar. Só por Deus mesmo”, lamenta a mãe.
A família aguarda uma chance para internar o rapaz que é pai de dois filhos e cada dia fica mais debilitado devido ao uso de drogas.
Clínica feminina
A construção de uma clínica feminina na Capital pode ser a esperança para a família de Carla*. A menina de 19 fuma maconha desde os 13 e começou a usar “mesclado”, que a maconha misturada com pasta base aos 15 anos.
Ela conta que já se prostituiu e traficou para sustentar o vício. Hoje é dependente químico e alcoólatra. Ela usa crack todos os dias, às vezes por horas seguidas. “Eu não fico sem, me dá uma fissura. Quando não consigo mesmo, preciso beber bastante para esquecer a vontade”, conta ela.
Carla teve dois filhos, um é criado pela mãe e outro foi dado para a adoção.
A família já buscou ajuda e a menina já ficou internada no Hospital Regional. “Ela já ficou lá no Rosa (Pedrossian), mas não adiantou muito. É uma tristeza muito grande ver minha filha suja, roubando. Ela já vendeu quase tudo daqui de casa. Tive que colocar correntes nas portas e fazer um quartinho nos fundos para ela”, conta Cristina, mãe de Carla.
“Eu crio um filho dela, mas não consigo internar minha filha. Já chamei a polícia, já fui na Defensoria (Pública) e lá eles me dizem que não podem fazer nada, não podem me ajudar. Aqui na cidade não tem clínica para meninas e as que existem são pagas. Não tenho condições de pagar”, lamenta.
Cristina mora em uma casa na região do Santo Amaro e sobrevive com um salário mínimo mensal. “Como eu posso pagar um tratamento? Quando ela quis não conseguimos e agora, ela está cada dia mais perdida. Acho que já perdi minha filha para essa maldição do crack. É muito desgosto, talvez seria melhor mesmo”, finaliza chorando enquanto a filha olha para o chão sem esboçar reação.
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